Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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Os mitos constituem, por conseguinte, a "história humana e sagra<strong>da</strong>" de povos,<br />
que, conforme Nei Lopes, “[...] procuram explicar as origens ou as transformações <strong>da</strong><br />
natureza, dos seres humanos ou de uma socie<strong>da</strong>de [...]” (LOPES, 2004, p. 442). Ao<br />
tratar <strong>da</strong>s várias histórias que circulam sobre o universo e sobre a humani<strong>da</strong>de, Hampate<br />
Bã assegura que a história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de é composta por diversas narrações de mundo,<br />
de experiências, de saberes dos elementos e fenômenos <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>. Segundo ele,<br />
[...] A grande História <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> compreende a História <strong>da</strong> terra e <strong>da</strong>s águas<br />
(geografia a História dos vegetais (botânica e farmacopéia, a História dos<br />
“Filhos do seio <strong>da</strong> terra” (mineralogia e metais) a História dos astros<br />
(astronomia, astrologia), a História <strong>da</strong>s águas, e assim por diante. [...] Por<br />
exemplo, o mais velho conhecerá não apenas a ciência <strong>da</strong>s plantas (as<br />
proprie<strong>da</strong>de boas e más de ca<strong>da</strong> planta), mas também “as ciências <strong>da</strong> terra”<br />
(as proprie<strong>da</strong>des agrícolas ou medicinais dos diferentes tipos de solo), a<br />
ciência <strong>da</strong>s águas, astronomia, cosmogonia, psicologia, etc. Trata-se de uma<br />
ciência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, cujos conhecimentos sempre podem favorecer uma utilização<br />
prática [...] (HAMPATE BÃ, 1982, p. 195)<br />
Os mitos africanos, por exemplo, tratam de histórias, heróis e divin<strong>da</strong>des do<br />
continente africano; descrevem, explicam e narram sobre as relações humanas e sociais<br />
e as razões dos acontecimentos naturais. Por conta disso, não devem ser lidos como<br />
simples historinhas, uma vez que estão inseridos em um con<strong>texto</strong> social e trazem<br />
compreensões de ancestrali<strong>da</strong>des e de vi<strong>da</strong>s, ou seja, de Òrisàs, inquices etc e de<br />
pessoas em relação com a natureza em sua biodiversi<strong>da</strong>de e com o cosmo.<br />
Em A mulher de Aleduma, de Aline França (1985), não há recontos de mitos em<br />
que aparecem Deuses/as africanos/as, mas há delineamentos de figuras míticas<br />
afrobrasileiras com arquétipos que se assemelham com aqueles/as. Nessa novela,<br />
desfilam conhecidos Deuses/as africanos/as como Olorum, o Deus maior, Òsum, Òsalá,<br />
Ogum, Sangò e outros/as como o deus negro Aleduma, vindo do planeta Ignum, e a<br />
deusa Salópia. Aparecem também homens e mulheres como Tadeu, pai de Datigum e<br />
filho de Aleduma, Irisan, segun<strong>da</strong> mulher de Aleduma dentre outros/as, que se destacam<br />
pelas ações em prol <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de de uma população cujos antepassados/as foram<br />
africanos/as.<br />
Em Ignum era um dia de festa em honra à deusa Salópia. As mulheres<br />
usavam bonitos penteados e seguravam fortemente suas lanças de tiumja.<br />
Estavam prepara<strong>da</strong>s para mostrar no izibum, animal feroz, que bufava e<br />
enfrentava-as com seus grandes cornos. A vencedora teria como prêmio uma<br />
viagem ao planeta Terra e, juntamente com um parceiro que já fora vencedor