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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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206<br />

No conto, a solidão desfila como companhia de narradoras e personagens negras.<br />

Escrever, cui<strong>da</strong>ndo-se, decisivamente, é um permanente exercício solitário e, ao mesmo<br />

tempo, uma prática de compreensão e de enfrentamento de sofrimentos e de sentimentos<br />

que lhe assaltam. A solidão e a separação, forja<strong>da</strong>s pelas personagens negras femininas,<br />

nos contos aqui apresentados, aparecem como exercícios de poder e como atos de<br />

escolha e resistência, resultantes de discernimento, escuta e captação silenciosa de si<br />

mesmas e dos fatos por elas vividos. De modo algum, são indicativos de fracasso e de<br />

fragili<strong>da</strong>des; ao contrário são demonstrações de fortalecimento de identi<strong>da</strong>des<br />

femininas, de emancipação e de refutação de dominações.<br />

A escrita autoficcional de Lembranças <strong>da</strong>s águas estabelece-se por um cotejo<br />

entre os eu referencial e ficcional, posto que existem pontos de interseção entre eles.<br />

Isso se denota quando a autora cria personagens como estratégias para exibir-se,<br />

compreender-se e interpretar-se. Pela escrita, como um ato de cui<strong>da</strong>r-se, ela pode se<br />

travestir de personagem e até de narradora para descrever suas inquietudes diante <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> e de suas experiências como mulher negra, para formar-se e tensionar ver<strong>da</strong>des e<br />

escritas sobre si/nós.<br />

Em narrativas de <strong>Rita</strong> Santana e Mel Adún encontram-se, como foi abor<strong>da</strong>do ao<br />

longo deste capítulo, procedimentos ficcionalizados de busca de autorreconhecimento<br />

de vários eu e de apreensão dos modos pelos quais se podem construir práticas de<br />

escritas e de cui<strong>da</strong>dos de si. Com um discurso autoficcional, elas, incontestavelmente,<br />

trazem à tona suas experiências como inventoras de mundos, personagens e histórias,<br />

tornando a escrita literária uma instância significativa de positivação de si/nós. Para<br />

tanto, elas tecem palavras emergentes que as auto-afirmam e as constituem e, sobretudo,<br />

costuram processos de interpretação de si/nós, já que ocupar-se de si é um modo de<br />

formar e perceber a si e aos fatos, de posicionar-se no mundo, de executar ações e forjar<br />

possibili<strong>da</strong>des e condições de convívio com o outro.

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