Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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A noção de uma escrita de si/nós é, em narrativas afrofemininas, como as aqui<br />
apresenta<strong>da</strong>s, um exercício dinâmico e contínuo de um pensar sobre si/nós. É um narrar<br />
sobre si/nós e um modo de constituição de eu (s) femininos negros, proporcionado pela<br />
escrita ficcionaliza<strong>da</strong>. Neste sentido, a escrita de si/nós cumpre uma função poética e<br />
política de (re) criação de si/nós, porque, ao entrecruzar fragmentos, pensamentos e<br />
dizeres de si, promove o entendimento de outras performances de figuras femininas<br />
negras.<br />
4. 2 Fios de Cui<strong>da</strong>do de Si em Narrativas Afrofemininas de Mel Adún e <strong>Rita</strong><br />
Santana<br />
O cui<strong>da</strong>do de si é um ato humano de ocupação de si, dos outros e do mundo. A<br />
escrita de si para formar-se e o cui<strong>da</strong>r de si são ativi<strong>da</strong>des solidárias, em que ocorre “[...]<br />
uma prática social, <strong>da</strong>ndo lugar a relações inter-individuais, a trocas e comunicações e<br />
até mesmo a instituições; ele proporcionou, enfim, um certo modo de conhecimento e a<br />
elaboração de um saber” (FOUCAULT, 1985, p. 50).<br />
A escrita de si é, de algum modo, uma estratégia e base para o cui<strong>da</strong>do de si,<br />
(epiméleia heautoù), já que ambos são modos de escrita intrinsecamente relacionados a<br />
exercícios de autogovernabili<strong>da</strong>de, ou seja, de tomar para si o curso <strong>da</strong> própria vi<strong>da</strong>.<br />
Destarte práticas de cui<strong>da</strong>do de si estão imbrica<strong>da</strong>s com tramas de inter-relações, bem<br />
como de subjetivação, tornando-se, inclusive, os sujeitos protagonistas, ao viverem as<br />
cenas coloca<strong>da</strong>s pelos eventos e ao criarem outras situações que assegurem autonomia,<br />
autorreflexão, conhecimento de si e saberes. Assim o objetivo deste tópico é analisar os<br />
contos A parabólica, Tramela, Colcha de retalhos, de <strong>Rita</strong> Santana, e Lembranças <strong>da</strong>s<br />
águas, de Mel Adún, fazendo considerações sobre possíveis traços característicos de<br />
cui<strong>da</strong>do de si, neles presentes.<br />
O conto A parabólica, de <strong>Rita</strong> Santana (2004), apresenta alguns fios de cui<strong>da</strong>dos<br />
de si, uma vez que a protagonista <strong>da</strong> narrativa, Marina, se coloca na condição de<br />
observar-se e olhar o ambiente em que vivera para melhor autodescrever, caracterizar,<br />
de igual modo aos contos apresentados no tópico anterior, seus encontros com Augusto<br />
e posicionar-se diante <strong>da</strong>s vivências e <strong>da</strong>s intempéries advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> relação amorosa.<br />
O conto A parabólica é narrado em primeira e terceira pessoa, semelhante à<br />
história Medusas e caravelas, logo tem dois focos narrativos. A trama conta a parti<strong>da</strong> <strong>da</strong>