Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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12.05.2013 Views

dias e noites, às vezes, até dormindo, me dediquei a ela exclusivamente! Ainda às madrugadas, quantas vezes deixei a cama por imposição dela! O reconhecimento da incipiência das palavras e de suas exigências leva-me a inferir que a escrita é sempre inacabada e que sua construção resulta da atividade comunicativa, a qual implica em acionar mecanismos, procedimentos e estratégias para realizar o diálogo entre o enunciado, o interlocutor e o enunciador. A textualidade procede da atividade verbal dos/as comunicantes, socialmente atuantes, que agem a fim de atingir uma função social: inventar sentidos. A tessitura do estudo, por consequência, é inconclusa e está envolvida por escolhas e formações de significados concernentes às opções epistemológicas e metodológicas de mim, que a produz, e de quem a lê. Ainda assim, ele não resulta de uma pretensa intenção de ser uma crítica de obras e trajetórias de oito escritoras negras baianas, colaboradoras do estudo, mas de ser uma intérprete, ou seja, uma leitora que imputa significações e elabora possíveis descrições interpretativas. É um texto que resulta de um longo e consistente processo, não tão somente pela dimensão temporal ou por uma possível intensidade do estudo, mas pelas circunstâncias históricas em que ele se circunscreve em minhas trajetórias acadêmicas e pessoais. Apresentá-lo, neste sentido, é, de alguma forma, apresentar a mim mesma e aos percursos que fiz acompanhados de instigações, tais como por que conheci, na educação básica e na graduação, tão poucos escritores negros e nem foram mencionadas escritoras negras? Se hoje me reconheço como pesquisadora de temáticas afins a gênero, às relações étnico-raciais, à autoria feminina negra, à literatura afrofeminina, é porque estou convicta de que esse é um traço identitário produzido paulatinamente em meio a construções, (auto) questionamentos e contestações, e assumido em múltiplas relações e práticas cotidianas. As epígrafes, que constam do texto, desfilam como um ato de (re) conhecimento e como uma necessidade de tornar conhecidos, no Brasil, nomes e escrita literária de autoras africanas de países de língua portuguesa a quem é dedicado o texto. Justificam- se por considerar imensuráveis os tensionamentos e encontros advindos dos contatos com a literatura e/ou com as abordagens de intelectuais e escritoras norte-americanas como Ângela Davis, Alice Walker, Toni Morrison, bell hooks. Quantas provocações e motivações! Mencionar nomes e trechos de textos de escritoras africanas no texto é, portanto, criar possibilidades não apenas de torná-las conhecidas, mas também de evidenciar modos de ressignificação de suas vidas, de legados culturais africanos, bem 30

como forjar estratégias de descolonização, de descentramento de vozes literárias e de desautomatização de sujeitos poéticos e ficcionais. No primeiro capítulo, Algumas Escritoras Negras Baianas: entre o Tornar-se e o Devir, consta uma leitura interpretativa de percursos de oito autoras em consonância com suas produções literárias e abordagens afins à literatura e identidades. Ao apresentá-las, acompanhadas de suas declarações, derivadas de entrevistas e de seus textos literários, socializo informações e reflexões, sobretudo leituras – minhas e delas – sobre a vida, a literatura, a constituição da identidade autoral, histórias e culturas negras. Sem pretensões biográficas, aparecem olhares sobre suas trajetórias, entremeados por seus textos poéticos e ficcionais, por fios e fiapos de memórias, com perfis autobiográficos e posicionamentos balizados como significativos por mim ou por elas. Já, Literatura e Identidades Negras, o segundo capítulo, discorre sobre a criação de identidades em produções literárias brasileiras, no que se refere às caracterizações e diferenciações de universos culturais afrobrasileiros. O capítulo considera que, na historiografia literária, decerto, existem preconizações de personagens negras femininas subjugadas ao poder masculino, às representações, discursos e narratividades envolvidos por subalternidades e depreciações de suas diversidades étnico-culturais, mas vozes que apreciam perfis negros femininos e exaltam afrodescendências. Esta parte da tese considera também figuras e vozes afirmativas de africanidades e feições negras femininas presentes na literatura brasileira. Femininos e Feminismos em Poéticas de Autoras Negras Baianas, o terceiro capítulo, analisa a escrita literária de autoras negras em foco, neste estudo, quanto às práticas discursivas de reinvenções de si, de femininos e de feminismos. Faz considerações sobre possíveis provocações de reversão de ações de silenciamento de suas vozes, permitindo-lhes criar poéticas e ficções amparadas em construções de femininos/feminismos negros, afirmando e, concomitantemente, desconstruindo identidades e diferenças. O capítulo faz, também, uma discussão sobre seus textos quanto aos discursos sobre si como práticas sociais, ou seja, interage com múltiplas vozes sobre femininos e feminismos. O quarto capítulo, Figurações de Escrita e Cuidado de Si/Nós em Narrativas Afrofemininas, enfoca o ato de escrever das escritoras participantes da pesquisa, considerado como ensejo para pensar e dizer sobre si, configurando-se como desenhos de ocupação de autoconstituição. Nesta parte do texto, há inferências de que, em 31

dias e noites, às vezes, até dormindo, me dediquei a ela exclusivamente! Ain<strong>da</strong> às<br />

madruga<strong>da</strong>s, quantas vezes deixei a cama por imposição dela!<br />

O reconhecimento <strong>da</strong> incipiência <strong>da</strong>s palavras e de suas exigências leva-me a<br />

inferir que a escrita é sempre inacaba<strong>da</strong> e que sua construção resulta <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />

comunicativa, a qual implica em acionar mecanismos, procedimentos e estratégias para<br />

realizar o diálogo entre o enunciado, o interlocutor e o enunciador. A textuali<strong>da</strong>de<br />

procede <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de verbal dos/as comunicantes, socialmente atuantes, que agem a fim<br />

de atingir uma função social: inventar sentidos. A tessitura do estudo, por consequência,<br />

é inconclusa e está envolvi<strong>da</strong> por escolhas e formações de significados concernentes às<br />

opções epistemológicas e metodológicas de mim, que a produz, e de quem a lê. Ain<strong>da</strong><br />

assim, ele não resulta de uma pretensa intenção de ser uma crítica de obras e trajetórias<br />

de oito escritoras negras baianas, colaboradoras do estudo, mas de ser uma intérprete, ou<br />

seja, uma leitora que imputa significações e elabora possíveis descrições interpretativas.<br />

É um <strong>texto</strong> que resulta de um longo e consistente processo, não tão somente pela<br />

dimensão temporal ou por uma possível intensi<strong>da</strong>de do estudo, mas pelas circunstâncias<br />

históricas em que ele se circunscreve em minhas trajetórias acadêmicas e pessoais.<br />

Apresentá-lo, neste sentido, é, de alguma forma, apresentar a mim mesma e aos<br />

percursos que fiz acompanhados de instigações, tais como por que conheci, na educação<br />

básica e na graduação, tão poucos escritores negros e nem foram menciona<strong>da</strong>s escritoras<br />

negras? Se hoje me reconheço como pesquisadora de temáticas afins a gênero, às<br />

relações étnico-raciais, à autoria feminina negra, à literatura afrofeminina, é porque<br />

estou convicta de que esse é um traço identitário produzido paulatinamente em meio a<br />

construções, (auto) questionamentos e contestações, e assumido em múltiplas relações e<br />

práticas cotidianas.<br />

As epígrafes, que constam do <strong>texto</strong>, desfilam como um ato de (re) conhecimento<br />

e como uma necessi<strong>da</strong>de de tornar conhecidos, no Brasil, nomes e escrita literária de<br />

autoras africanas de países de língua portuguesa a quem é dedicado o <strong>texto</strong>. Justificam-<br />

se por considerar imensuráveis os tensionamentos e encontros advindos dos contatos<br />

com a literatura e/ou com as abor<strong>da</strong>gens de intelectuais e escritoras norte-americanas<br />

como Ângela Davis, Alice Walker, Toni Morrison, bell hooks. Quantas provocações e<br />

motivações! Mencionar nomes e trechos de <strong>texto</strong>s de escritoras africanas no <strong>texto</strong> é,<br />

portanto, criar possibili<strong>da</strong>des não apenas de torná-las conheci<strong>da</strong>s, mas também de<br />

evidenciar modos de ressignificação de suas vi<strong>da</strong>s, de legados culturais africanos, bem<br />

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