12.05.2013 Views

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

183<br />

Nessas histórias aparecem fios autobiográficos e de ficcionalização do cotidiano<br />

de suas autoras, levando-me a inferir que suas tramas podem ser e partir de <strong>texto</strong>s<br />

ficcionalizados de registros, lembranças, recor<strong>da</strong>ções e recontos de si relacionados a<br />

histórias, identi<strong>da</strong>des e memórias de nós. Elas permitem ser li<strong>da</strong>s como práticas textuais<br />

em que confluem o real e o ficcional. Diante disso, este capítulo pretende fazer<br />

considerações sobre narrativas de Mel Adún e <strong>Rita</strong> Santana. Para tanto, realizará leituras<br />

interpretativas dos contos Yeyelodê e Lembranças <strong>da</strong>s águas (2007), de Mel Adún, e<br />

Medusas e caravelas, O quarto, A parabólica, Colcha de retalhos e Tramela (2004), de<br />

<strong>Rita</strong> Santana.<br />

Neste tópico, há uma abor<strong>da</strong>gem sobre possíveis relações entre a ficção e a<br />

escrita autobiográfica nos contos Yeyelodê, de Mel Adún, O quarto e Medusas e<br />

caravelas, de <strong>Rita</strong> Santana. Como mãos que escrevem e, como vozes de enunciação,<br />

essas autoras autorizam-se a tecer narrativas de si, de mundos e memórias individuais,<br />

as quais transitam entre diversos eus ficcionais e referenciais. As histórias, to<strong>da</strong>via, não<br />

se esbarram em histórias pessoais; ao contrário se suplementam e se estendem às<br />

histórias coletivas de outras mulheres e personagens negras, aqui caracteriza<strong>da</strong>s por nós.<br />

A escrita de si consiste em um exercício de instituição como autor/a de uma<br />

escrita que se desdobre, ao mesmo tempo, em formação de si e em dês-hierarquização<br />

de saberes e já ditos de si (SILVA, 2010). Além disso, significa construir processos de<br />

subjetivação, garantindo soberania (FOUCAULT, 1997), para se ter poder e saber,<br />

como um ato político, e para criar outros modos de constituição. A escrita de si,<br />

portanto, não é apenas uma elaboração sobre si, mas é também (des) dito sobre si de<br />

saberes externos, apreendidos, adquiridos e memorizados.<br />

Michel Foucault, em O que é um autor (1997), ao retomar os postulados <strong>da</strong><br />

escrita de si, recorreu ao <strong>texto</strong> A vi<strong>da</strong> de Antônio de Atanásio, do século III d. C, o qual<br />

considerou que, se o indivíduo escrevesse suas ações e pensamentos, como exercício de<br />

ascese, ele se conheceria e estaria mais protegido dos pensamentos impuros e longe do<br />

pecado, talvez por constrangimento do outro ou dos próprios pensamentos.<br />

Diferentemente dessa escrita espiritual cristã, que se estabeleceu como um modo de<br />

defesa dos pensamentos reconhecidos como maus, pois pela escrita poder-se-ia obter o<br />

autocontrole, o disciplinamento dos corpos e <strong>da</strong>s mentes e defender-se <strong>da</strong>s ações do<br />

demônio (FOUCAULT, 1997), a escrita de si é uma arte de si mesmo, que se elabora<br />

como a estética <strong>da</strong> existência e se corporifica como uma escrita do pensamento que<br />

possibilita o autoconhecimento e o desenvolvimento do governo de si e dos outros.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!