Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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descritivas e interpretativas, que conduziram o estudo, foi possível pensar sobre sentidos<br />
e lugares de femininos, identi<strong>da</strong>des e feminismos na literatura produzi<strong>da</strong> por oito<br />
escritoras negras baianas, tornando viável compreender a autoria de mulheres negras<br />
como vozes autoriza<strong>da</strong>s de um cânone que lhes silenciou e excluiu do cenário literário.<br />
A elaboração desta tese pautou-se na convicção de que a palavra é<br />
eminentemente flui<strong>da</strong>, imprecisa e fugaz, por isso sobrevive em meio à precarie<strong>da</strong>de.<br />
Ela pouco diz e expressa, porque é desprovi<strong>da</strong> de sentidos únicos, cristalizados e<br />
naturalizados, tornando o ato <strong>da</strong> escrita um trabalho de aventura, já que pressupõe caçar,<br />
isto é, procurar incessantemente, às vezes em vão, palavras que traduzam leituras,<br />
entendimentos e interpretações, e garimpá-las, ou seja, escolher aprimora<strong>da</strong>mente<br />
aquelas que se apresentam mais próximas do con<strong>texto</strong> e do sentido que se quer atribuir<br />
ao <strong>texto</strong>. Ain<strong>da</strong> assim, como ações exaustivas, complexas e, por vezes, frustrantes,<br />
poderão não ter êxito satisfatório, porque a palavra é, pois, demasia<strong>da</strong>mente incipiente.<br />
A escrita, indubitavelmente, se dá pelas exteriori<strong>da</strong>des e pelas tramas<br />
estabeleci<strong>da</strong>s entre o/a autor/a e o/a leitor/a ou pelos pactos de textuali<strong>da</strong>des acor<strong>da</strong>dos<br />
entre eles/as e não por uma suposta interiori<strong>da</strong>de de significados. Difícil é encontrar em<br />
ca<strong>da</strong> construção frasal a palavra que instigue, motive e, concomitantemente, conduza<br />
o/a leitor/a a assumir responsavelmente seu árduo trabalho de conferir aceitáveis<br />
significados às palavras e ao <strong>texto</strong>.<br />
Escrever é convocar o/a leitor/a ao cumprimento efetivo do seu exercício:<br />
revolver as palavras. No sentido arqueológico, conforme as ideias de M. Foucault<br />
(2002), essa ação não corresponde à busca de origem, de significados ou de fenômenos<br />
que estejam supostamente no interior dos fatos e <strong>da</strong>s palavras, já que eles começam em<br />
pontos históricos particulares e não se originam em algum lugar que seria o lugar<br />
próprio <strong>da</strong> sua ver<strong>da</strong>de: um espírito de época, uma mentali<strong>da</strong>de coletiva ou uma<br />
consciência individual; numa única palavra, um sujeito. O tempo é uma sucessão de<br />
descontinui<strong>da</strong>des, de começos nos já-começados; não é o devir de um pensamento ou de<br />
uma razão que se arrasta na evolução lenta e contínua do seu progresso.<br />
Escrever é mostrar o leitor, retirando-lhe <strong>da</strong> invisibili<strong>da</strong>de, haja vista que se torna<br />
um evento proeminente de sua evidência e de seu trabalho exaustivo de produção de<br />
sentidos. Escrever é, portanto, um ato de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de cumplici<strong>da</strong>de entre autor/a e<br />
leitor/a; sem isso, não há possibili<strong>da</strong>de de leituras e construção de significações.<br />
A escrita é antissocial e solitária, implicando viver na e com a solidão. Ela é de<br />
pouco convívio com amigos e familiares, exigindo quase dedicação exclusiva. Quantos<br />
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