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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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179<br />

Dentre os 70 poemas, em 16 deles, as vozes poéticas se apresentam como poetas<br />

que insistem em entender a si e seus mundos e em se mostrar por meio de seus versos.<br />

Pela palavra poética, elas imprimem um estatuto autoral, que lhes permite registrar<br />

per<strong>da</strong>s, conquistas e desenhos de femininos com contornos. No poema Arma<strong>da</strong>, através<br />

de uma via poética de dramatização e invenção <strong>da</strong> indignação, a voz poética reage<br />

contra formas de apagamento de suas histórias e poéticas e se declina a favor do<br />

avivamento de um eu feminino que tenha autonomia e liber<strong>da</strong>de.<br />

As horas vêem minha euforia insana<br />

De quem sorri à espera de milagres.<br />

Um antídoto digno <strong>da</strong> minha loucura,<br />

Cura pra todos os males do meu dia,<br />

Coisas assim.<br />

Abandona<strong>da</strong> em folias de menina<br />

Cresci<strong>da</strong> em colo de mãe,<br />

Deixo o desespero e o empório pra mais tarde,<br />

O aluguel, as casas vazias, chaves pra cópias,<br />

Tudo reservo para a eterni<strong>da</strong>de vindoura, legítima.<br />

Quem pensa que eu morro se engana:<br />

Tenho sangue de senzalas e exalo morros,<br />

Meu palácio é feito de arrastares, desprezo de sonhos,<br />

Falências, cores velhas, arcaísmos de profeta lilás.<br />

Jamais amo sempre o meu Senhor.<br />

A paz em excesso por vezes me atormenta,<br />

Fervo as veias em pensamentos,<br />

cozo desejos num tacho grande de caruru.<br />

Minha casa é feita de ren<strong>da</strong> inglesa e avencas,<br />

O homem que amo me acha boa, bonita,<br />

E sabe que sou poeta, arrebanha<strong>da</strong> entre os malditos,<br />

Escassa de verbas,<br />

E aventura<strong>da</strong> de poesia.<br />

Os verbos ron<strong>da</strong>m o meu chão como estrelas. (SANTANA, 2006, p. 29)<br />

O poema segue a trilha traça<strong>da</strong> por uma voz feminina que se diz poeta e deseja<br />

ser emancipa<strong>da</strong>, ou ao menos que percorre caminhos que facilitem o alcance <strong>da</strong> sua<br />

liber<strong>da</strong>de. O poema Arma<strong>da</strong>, de sobremaneira, põe-se em zonas de conflito, isto é, de<br />

relações de força e de luta contrapoderes, que subjugam e anulam identi<strong>da</strong>des<br />

femininas. Ciente de si, a voz de Arma<strong>da</strong> segue seu rumo, farta de poesia e garra para<br />

dizer sim e não ao homem-senhor. Pronta e disposta para a guerra, ela tem forças<br />

ancestrais suficientes para ir e vir e, acima de tudo, para afirmar-se poeta.<br />

O eu poético desenhado em Te quero, de Jocélia Fonseca, também se apresenta<br />

com desejos de conquista de autonomia e de sedução do seu negro-gato-homem,<br />

inventando uma menina que se mostra dona de si e de suas escolhas.

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