Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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pela defesa de suas metas, impulsionada por linhas de lembranças de reação, utilizando- se não de navalhas, mas de espada, também objeto cortante, de rompimento, para refazer-se da dor e enfrentar a guerra e o combate. Armada de guerra... refeita a garganta doída... gritei pra mim: “-Vou à luta!!! Vou lutar!!! Defendo um ideal... Real verdadeiro” saí empunhando espada legada d'um passado na luta da reação. (ALVES, 1983, p. 45) 168 Em A uma guerreir@, de Jocélia Fonseca, aparece uma voz que delineia sua face pela resistência e anima uma mulher que se quer guerreira para a luta e a consola diante da dor, das injustiças e das amarguras, reanimando suas forças para continuar a batalha, lânguida e erguidamente, sem corrupção. São versos que permitem compreender uma escrita, com tons denunciativos e, ao mesmo tempo, propositivos acerca de guerras travadas no dia a dia da voz poética. Que a dor te corroa, Mas não te corrompa. Que o cai e levanta Te sirva de força; Se caiu, te molhe em lágrimas Enxugue-as, erga-se E de novo caminhe. Noutros ventos, Noutros ares. Vai guerreir@, Pega tua espada e te lança Ao que te espera. O dar e tomar É também da vida. Não deixe que essa amargura Que te molha a língua Desça em tua garganta Nem atinja teu ser. Um guerreiro tem coração ferido, Mas a alma límpida. (FONSECA, 2007, p. 12) Novamente, aparece a espada como símbolo de luta. Esse instrumento serve para defender-se do inimigo e para atingi-lo, se necessário for. O sujeito poético não apenas vai à luta, mas se coloca a animar outra figura feminina a fazer o mesmo ou, quiçá, seja ela mesma a interlocutora de sua voz. Como guerreiras, as vozes poéticas de Cuidado! Há navalhas, Luta do ideal e A uma guerreir@, estão dispostas, com o uso da espada, a romperem, definitivamente,
com as amarras da dominação e do sofrimento. Esse exercício de poder pode ser compreendido como um ato de resistência peculiar às relações de poder e não como um subproduto, já que, segundo Foucault, “[...] para resistir, é preciso que a resistência seja como o poder. Tão inventiva, tão móvel, tão produtiva quanto ele. Que, como ele, venha de ‘baixo’ e se distribua estrategicamente” (FOUCAULT, 2002, p. 241). O poder, nesses poemas, é exercido na relação de forças existentes entre as vozes e aqueles/aquilo contra aos/às quais ela combate, exercendo também formas de poder. 169 Vale ressaltar que não é apenas a produção contemporânea de escritoras negras que passeia por territórios discursivos circunscritos em reversões de imagens e sentidos depreciativos de civilizações, histórias, personagens e universos culturais negros. Em Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis, aparecem, com ousadia e inovação, paisagens, tipos e significados do continente africano recriados, rememorados e apresentados ao leitor permeados por fios de liberdade. A personagem Mãe Susana, por exemplo, ao conversar com o personagem Túlio sobre a conquista da liberdade dele, tem saudades de seu estilo de vida em terras africanas, reconhecendo tristemente a distância entre as condições de sua existência lá e aquelas vividas cá do outro lado do atlântico. Ela vive por alguns momentos de desolação e aflição, porém, após gemidos dolorosos, choros e soluços, reage e revigora-se através da memória, exclamando: – sim, para que estas lágrimas?!... Dizes bem! Elas são inúteis, meu Deus; mas é um tributo de saudade, que não posso deixar de render a tudo quanto me foi caro! Liberdade! Liberdade... ah! eu a gozei na minha mocidade! – continuou Susana com amargura – Túlio, meu filho, ninguém a gozou mais ampla, não houve mulher alguma mais ditosa do que eu. Tranqüila no seio da felicidade via despontar o sol rutilante e ardente do meu país, e louca de prazer a essa hora matinal, em que tudo aí respira amor, eu corria às descarnadas e arenosas praias, e aí com minhas jovens companheiras, brincando alegres, com o sorriso nos lábios, a paz no coração, divagávamos em busca das mil conchinhas, que bordam as brancas areias daquelas vastas praias. Ah! meu filho! Mais tarde deram-me em matrimônio a um homem, que amei como a luz dos meus olhos, e como penhor dessa união veio minha filha querida, em quem me revia, em quem tinha depositado todo amor da minha alma: - uma filha, que era a minha vida, as minhas ambições, a minha suprema ventura, veio selar a nossa tão santa união. E esse país de minhas afeições, e esse esposo querido, essa filha tão extremamente amada, ah Túlio, tudo me obrigaram os bárbaros a deixar! Oh! Tudo, tudo até a própria liberdade! (REIS, 2004, p.115) A preta Susana rememora eventos vividos na sua juventude, engendrados de alegrias, que lhe permitiram viver livre e estar com pessoas amadas, as quais lhe são caras, e em ambientes profícuos e belos que lhe asseguraram convívio, prazer e tranquilidade. A amargura que assola Mãe Susana, descrita pelo narrador, ao saber que
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diante <strong>da</strong> dor, <strong>da</strong>s injustiças e <strong>da</strong>s amarguras, reanimando suas forças para continuar a<br />
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acerca de guerras trava<strong>da</strong>s no dia a dia <strong>da</strong> voz poética.<br />
Que a dor te corroa,<br />
Mas não te corrompa.<br />
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Vai guerreir@,<br />
Pega tua espa<strong>da</strong> e te lança<br />
Ao que te espera.<br />
O <strong>da</strong>r e tomar<br />
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Não deixe que essa amargura<br />
Que te molha a língua<br />
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Um guerreiro tem coração ferido,<br />
Mas a alma límpi<strong>da</strong>. (FONSECA, 2007, p. 12)<br />
Novamente, aparece a espa<strong>da</strong> como símbolo de luta. Esse instrumento serve<br />
para defender-se do inimigo e para atingi-lo, se necessário for. O sujeito poético não<br />
apenas vai à luta, mas se coloca a animar outra figura feminina a fazer o mesmo ou,<br />
quiçá, seja ela mesma a interlocutora de sua voz.<br />
Como guerreiras, as vozes poéticas de Cui<strong>da</strong>do! Há navalhas, Luta do ideal e A<br />
uma guerreir@, estão dispostas, com o uso <strong>da</strong> espa<strong>da</strong>, a romperem, definitivamente,