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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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Ferem-te com flechas encomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

Te fazem alvo de experiências<br />

Tua negritude<br />

Incomo<strong>da</strong><br />

Teu redomoinho de forças afoga<br />

Não querem a tua presença<br />

Riscam teu nome com ausência<br />

Mulher negra, chega,<br />

Mulher negra, seja,<br />

Mulher negra, veja,<br />

Mulher negra, veja,<br />

Depois do temporal. (RUFINO, 1996, p. 17)<br />

167<br />

Mas a voz também lamenta as práticas de apagamento, a que se submete a<br />

mulher negra: Não querem tua presença, riscam teu nome com ausência. Em vista <strong>da</strong><br />

reversão dessa invisibili<strong>da</strong>de conclama: Mostra tua fala nos poros, o grito ecoará na<br />

ci<strong>da</strong>de. As possíveis proposições poéticas nos permitem afirmar com Evaristo: “[...] os<br />

<strong>texto</strong>s femininos negros, para além de um sentido estético, buscam semantizar outro<br />

movimento, aquele que abriga to<strong>da</strong>s as suas lutas. Torna-se o lugar <strong>da</strong> escrita, como<br />

direito, assim como se torna o lugar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>” (EVA<strong>RI</strong>STO, 2005, p. 206).<br />

Miriam Alves, uma <strong>da</strong>s protagonistas <strong>da</strong> LN e <strong>da</strong> literatura afrofeminina no<br />

Brasil, inventa um sujeito poético, em Cui<strong>da</strong>do! Há navalhas, que renega essa e outras<br />

expressões concessivas, pois elas o aprisionam, retirando-lhe o fôlego de vi<strong>da</strong> e a pulsão<br />

de memórias e sentimentos.<br />

As palavras de concessões são navalhas<br />

retalham minha pele<br />

diluem meus sentimentos<br />

soltam-nos ao ar feito partículas poluidoras não diluí<strong>da</strong>s.<br />

Palavras de concessões são mor<strong>da</strong>ças<br />

avelu<strong>da</strong>m os sons do passado<br />

ensurdecem sentimentos<br />

forçam minha negação<br />

pressionam o meu ser<br />

Navalhas querem po<strong>da</strong>r nas veias o jorro <strong>da</strong>s emoções<br />

ligando-as nos tubos de mentiras virulentas<br />

As navalhas <strong>da</strong>s concessões quebrar-se-ão,<br />

quebrar-se-ão no fio lento <strong>da</strong> minha dura vivência. (ALVES, 1985, p. 27)<br />

É também no cotidiano e processualmente que a voz poética se (re) volta, po<strong>da</strong><br />

as forças <strong>da</strong>s navalhas concessivas e mu<strong>da</strong> o curso de suas histórias e de elaboração de<br />

suas identi<strong>da</strong>des. De igual modo a voz poética de <strong>Ana</strong> Paula Tavares mostra-se decidi<strong>da</strong><br />

em reverter situações em que o servilismo e a submissão ameaçam sua liber<strong>da</strong>de: “[...]<br />

Não bato a manteiga/Não ponho o cinto/Vou para o sul saltar cercado” (TAVARES,<br />

2006). Em Luta do ideal, também de Miriam Alves, a voz poética feminina decide-se

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