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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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Venho de umi<strong>da</strong>des, morfos e orgias<br />

Labuto com demônios e demências<br />

Cansei-me de ser.<br />

Cadências faço à criação, filha do ócio.<br />

Sei que o Outono não tar<strong>da</strong>rá.<br />

Anuncia-se a derroca<strong>da</strong> <strong>da</strong> rubidez do afeto.<br />

Já o desejo deixa-me em diáspora.<br />

Corpo atrofia na perpetui<strong>da</strong>de do vácuo.<br />

Segredo meus ascos em frascos foscos.<br />

Minha voz atravessa memórias<br />

E meu maior delito é delir o indelével. (SANTANA, 2006, p. 85)<br />

165<br />

Assim, pelo projeto literário afrofeminino, desenham-se discursos em que vozes<br />

literárias negras e femininas, destituí<strong>da</strong>s de submissão, forjam uma escrita em que (re)<br />

inventam sentidos, para si e para outros/as, e se cantam repertórios e eventos histórico-<br />

culturais negros. A escrita, desse modo, desponta como uma ação transgressora, em que<br />

se anulam possíveis significados estigmatizantes e se insinuam outras possibili<strong>da</strong>des de<br />

leituras de significantes, do construir-se mulher, do vivido e do porvir, como ilustra o<br />

poema Genegro, de Miriam Alves.<br />

Gemido de negro<br />

Não é poema<br />

é revolta<br />

é xingamento<br />

É abismar-se<br />

Gemido de negro<br />

é pedra<strong>da</strong> na fronte de quem espia e ri<br />

É pau de guatambu no lombo de quem mandou<br />

<strong>da</strong>r<br />

Gemido de negro<br />

é acampamento de sem-terra no serrado<br />

É punho que se fecha em black power<br />

Gemido de negro<br />

é insulto<br />

é palavrão ecoado na senzala<br />

É o motim a morte do capitão<br />

Gemido de negro<br />

é a (re) volta <strong>da</strong> nau para o Nilo<br />

Gemido de negro...<br />

Quem tá gemendo? (ALVES, 1998, p. 104)<br />

Gemidos do negro, no poema, afastam-se de imobilismos, lamentos e<br />

aproximam-se de formas de resistências e insurreições; são agenciamentos de revoltas<br />

ou reencontros identitários contra práticas de subjugação e um voltar-se, reconstituindo<br />

a digni<strong>da</strong>de ameaça<strong>da</strong> e os caminhos de reencontros com legados identitários. Assim, na<br />

literatura afrofeminina, desfilam rastros de significados de identi<strong>da</strong>des negras que<br />

migram entre as ressignificações discuti<strong>da</strong>s por Hall (2000), peculiares à dinamici<strong>da</strong>de,

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