Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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novos perfis de mulheres, sem a prevalência do imaginário e <strong>da</strong>s formações discursivas<br />
do poder masculino, mas com poder de fala e de decisão, logo senhoras de si mesmas.<br />
164<br />
Na novela A mulher de Aleduma, de Aline França (1985), as figuras femininas<br />
são dota<strong>da</strong>s de poderes, sem que isso signifique substituição de ações masculinas, mas<br />
demonstração de instâncias de poderes exerci<strong>da</strong>s por personagens negras femininas e<br />
trânsitos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> entre universos reais, mágicos e transcendentais. Maria Vitória, Irisan,<br />
Salópia (a deusa), Sulamita, Dona Catilé, as graúnas <strong>da</strong> gruta de Coinjá, as mulheres<br />
valentes, são nomes femininos que desfilam na narrativa, com destaque para a<br />
comuni<strong>da</strong>de e entre seus/suas antepassados/as, em pequenas e grandes aventuras. No<br />
mundo mítico <strong>da</strong> ilha, onde a trama se desenvolve, personagens femininas negras<br />
reinam:<br />
O brilho intenso desapareceu, lentamente, no centro <strong>da</strong> Filha Doce. Bernardo<br />
disse com segurança:<br />
- Hoje to<strong>da</strong>s as jovens de Aleduma terão que atravessar a praça. To<strong>da</strong>s<br />
floricoroa<strong>da</strong>s, <strong>da</strong> mesma maneira como aconteceu quando Maria Vitória<br />
adquiriu o poder [...]<br />
Imediatamente, belas mulheres apareceram. Impossível afirmar o número<br />
exato delas que, despi<strong>da</strong>s, sorriam de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s. As flores que formavam as<br />
coroas faziam um bonito colorido. Ali estava o belo espetáculo que oferecia<br />
àquela ilha perdi<strong>da</strong> [...] (FRANÇA, 1985, p. 16)<br />
Com a exibição <strong>da</strong>s belas mulheres <strong>da</strong> ilha, conforme descrição do narrador,<br />
escolhe-se aquela que cui<strong>da</strong>rá dos legados culturais <strong>da</strong> ilha e terá poderes para dirigi-la e<br />
se relacionar com seres e divin<strong>da</strong>des que vivem em Ignun, outro planeta terrestre. A<br />
exposição de seus corpos negros bonitos demarca, pois, resistência e afirmação de si e<br />
dos destinos <strong>da</strong> ilha e não estratégia de exploração e sedução sexual ou de erotismo.<br />
<strong>Rita</strong> Santana, em seu livro Tratado <strong>da</strong>s veias, insistentemente, ensaia por seus<br />
poemas, figuras femininas, protagonistas de escritas de si sempre livres <strong>da</strong> subjugação<br />
masculina. Neles, muitas vozes poéticas se declaram poetas e capazes de exercer<br />
poderes ain<strong>da</strong> que, muitas vezes, sobre si mesmas e seus mundos. Além disso, há muitas<br />
vozes que repudiam o estado de submissão, de recalque de suas vontades e o perfil de<br />
heroína do espaço privado. Em Outono, por exemplo, o sujeito poético, semelhante<br />
àquele de Amor próprio, de Jocélia Fonseca, mostra-se cansa<strong>da</strong> de lugares e situações<br />
imóveis a ela relacionados e, ao mesmo tempo, disposta a apagar aquelas condições que<br />
lhe são postas e parecem inapagáveis.