Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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Uma <strong>da</strong>s principais características <strong>da</strong> literatura negra deu-se através de<br />
atitudes literárias de organizar a fala através do coletivo, promovendo<br />
mu<strong>da</strong>nças culturais. Os autores, denominando-se “escritores negros de<br />
literatura negra”, consagram o termo e geram a publicação de livros e teses e<br />
a realização de encontros, conferências, simpósios de âmbito nacional e<br />
internacional. Tais atitudes promoveram a “desconstrução <strong>da</strong> tradição<br />
literária, compreendi<strong>da</strong> como masculina, heterossexual, cristã e burguesa”,<br />
conforme Lugarinho (2001). (ALVES, 2002, p. 224)<br />
A LN, portanto, indica outras maneiras de inserir na tradição literária formas<br />
diferenciadoras de inventar identi<strong>da</strong>des negras, afasta<strong>da</strong>s de preconceitos e racismos e<br />
próximas de autoafirmação, de conquista de autonomia e, concomitantemente, de<br />
interrelação, alteri<strong>da</strong>des e negociação. Por tal projeto estético, pode-se vislumbrar vozes<br />
individuais e coletivas que se enunciam e constroem eu/nós que não se negam negras,<br />
como aquela voz de Efeitos colaterais, de Jami Minka (1998). Talvez por isso seja<br />
necessário, ain<strong>da</strong> que em meio a suas ambigui<strong>da</strong>des e controvérsias, assegurar, sem<br />
idealizações, sua vali<strong>da</strong>de e reconhecimento e fortalecer fóruns que possibilitem a<br />
visibilização de vozes negras literárias, pois, como retrata Eduardo A. Duarte, suas<br />
produções ain<strong>da</strong> não estão satisfatoriamente presentes e consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s no mercado<br />
editorial, permanecendo “[...] intacto o processo de obliteração que deixa no limbo de<br />
nossa história a prosa e a poesia de inúmeros autores afro-brasileiros do passado [...]”<br />
(DUARTE, 2005, p. 115).<br />
Assim, este capítulo deu ênfase aos discursos e narrativi<strong>da</strong>des sobre identi<strong>da</strong>des<br />
negras, quanto às significações pauta<strong>da</strong>s em estereótipos positivos e negativos,<br />
estabelecendo relações entre os <strong>texto</strong>s apresentados, partindo do entendimento de que as<br />
autoras, participantes deste estudo, não inauguram sentidos positivos sobre perfis negros<br />
femininos na literatura brasileira. Contrariamente transitam, por vezes, ao largo <strong>da</strong><br />
história <strong>da</strong> literatura, nomes desconhecidos de escritores/as negros/as que entoam cantos<br />
de glória para as ancestrali<strong>da</strong>des, afrodescendência, através do louvor à Mãe África,<br />
como a voz do poema de Al<strong>da</strong> Espírito Santo, sonhando com esse continente<br />
dignificado, e reinventam outras escritas de si/nós pauta<strong>da</strong>s em desejos de emancipação,<br />
de liber<strong>da</strong>de, de alteri<strong>da</strong>des e de autonomia de culturas, vozes e personagens negras.<br />
Para ti, a projecção <strong>da</strong>s nossas estra<strong>da</strong>s<br />
Varri<strong>da</strong>s <strong>da</strong> impureza dos dejectos inúteis<br />
Para ti, o canto de glória <strong>da</strong> nosa<br />
Mãe África dignifica<strong>da</strong>. (ESPÍ<strong>RI</strong>TO SANTO, 1991)