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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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metropolitana de Salvador-BA. Felizmente, a pesquisa de campo permitiu identificar<br />

autoras de várias locali<strong>da</strong>des do Estado <strong>da</strong> Bahia, tais como Ilhéus, Juazeiro, Euclides<br />

<strong>da</strong> Cunha, Teodoro Sampaio, Cruz <strong>da</strong>s Almas e Salvador.<br />

E a segun<strong>da</strong> referiu-se à afirmativa cética de alguns intelectuais e críticos de que<br />

na Bahia não há escritoras negras, pois não se conhecem (ou até não existem) suas<br />

publicações. O tempo e o espaço se estabeleceram também ao encontrar outras mulheres<br />

negras baianas, além <strong>da</strong>quelas que colaboraram com a pesquisa que, dentro e fora de<br />

organizações negras e femininas, ousam e resistem como escritoras. Tal reali<strong>da</strong>de<br />

assegura que outras escritoras descosem o silenciamento que encobre a literatura<br />

afrofeminina produzi<strong>da</strong> também por aquelas que a pesquisa, diante <strong>da</strong> delimitação de<br />

seus objetivos e cronograma, não conseguiu alcançar.<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa incumbiu-se de ratificar o que há muito afirmo:<br />

a invisibilização, a que são submeti<strong>da</strong>s escritoras negras, não é um evento sem razões.<br />

Ao contrário, entendem-se as relações étnico-raciais e de gênero 6 presentes em<br />

segmentos acadêmicos e literários. Mesmo ausentes <strong>da</strong> literatura instituí<strong>da</strong> e de<br />

agenciamentos literários, elas escrevem, publicam e tensionam as interdições de suas<br />

vozes, abalando discursos cerceadores sobre si e suas africani<strong>da</strong>des.<br />

À guisa de ilustração, referencio Maria Firmina dos Reis, que é considera<strong>da</strong> a<br />

primeira romancista abolicionista brasileira, conforme o Dicionário mulheres do Brasil,<br />

de Schuma Shumaher e Érico V. Brazil (2000), embora a historiografia literária, no<br />

Brasil, pouco a ela se refira. Em 1859, publicou o romance Úrsula, sob o pseudônimo<br />

de Uma maranhense. O livro conta a história de um amor infeliz entre uma órfã e um<br />

bacharel em Direito. O negro, enquanto (ex) escravizado, participa ativamente <strong>da</strong> trama<br />

e do enredo <strong>da</strong> narrativa: tem uma história, um passado, além dos sentimentos nobres.<br />

Embora não seja a escravidão seu enfoque temático, a narrativa denuncia a violência do<br />

sistema escravista e questiona a sua legitimi<strong>da</strong>de. Ao tratar sobre o romance, assim<br />

declara o estudioso Eduardo Assis Duarte:<br />

26<br />

Ao publicar Úrsula, Maria Firmina desconstrói igualmente uma história<br />

literária etnocêntrica e masculina até mesmo em suas ramificações negros.<br />

Úrsula não é apenas o primeiro romance abolicionista <strong>da</strong> literatura afrobrasileira,<br />

fato que poucos historiadores admitem. É também o primeiro<br />

romance <strong>da</strong> literatura afro-brasileira e faz companhia às Trovas Burlescas de<br />

6 Gênero refere-se às relações de poder que envolvem e se estabelecem entre homens e mulheres, cultural<br />

e historicamente, posicionando-os supostamente como desiguais em suas possíveis e múltiplas diferenças,<br />

como bem assinalar Scott (1995). Mais ain<strong>da</strong> a essa categoria conceitual é atribuído o sentido a partir <strong>da</strong>s<br />

relações de poder que são construí<strong>da</strong>s não só entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e<br />

mulheres, homens e homens.

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