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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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A blusa e se pelou.<br />

O sinhô ficou tarado,<br />

Largou o relho e se engraçou.<br />

A nega em vez de deitar<br />

Pegou um pau e sampou<br />

Nas guampas do sinhô.<br />

– Essa nega Fulô!,<br />

Dizia intimamente satisfeito<br />

O velho pai João<br />

Pra escân<strong>da</strong>lo de Jorge de Lima, seminegro e cristão<br />

– É sim, fui eu que matou –<br />

Disse bem longe a Fulô<br />

.E a mãe-preta chegou bem cretina<br />

fingindo uma dor no coração.<br />

- Fulô! Fulô! Ó Fulô!<br />

A sinhá burra e besta perguntava<br />

onde é que tava o sinhô<br />

que o diabo lhe mandou.<br />

- Ah, foi você que matou!<br />

- É sim, fui eu que matou –<br />

disse bem longe a Fulo<br />

pro seu nego, que levou<br />

ela pro mato, e com ele<br />

aí sim ela deitou.<br />

Essa nega Fulô!<br />

Essa nega Fulô! (SILVEIRA, 1998, p. 109-110)<br />

149<br />

A mesma ou outra Fulô, de Jorge de Lima, pouco ou quase importa, pois<br />

interessa que a negra Fulô agora é dona e segura de si; tem voz; rebela-se contra os<br />

acoites do senhor, utilizando seu corpo, não como objeto ou visgo para pegar o senhor,<br />

mas como isca para livrar-se definitivamente de suas garras furiosas e voltar-se para os<br />

braços do seu nego. Ao demarcar esse outro perfil de imagem negra, os versos propõem,<br />

como aqueles de Para ouvir e entender “estrela”, que se cunhem figuras femininas<br />

proativas, insurgentes e autônomas.<br />

Éle Semog, outro participante <strong>da</strong> LN, em Dançando negro, também cria um<br />

sujeito poético com essa feição, o qual se declara negro e reage à espetacularização do<br />

corpo e de sua identi<strong>da</strong>de negra.<br />

Quando eu <strong>da</strong>nço<br />

Atabaques excitados,<br />

O meu corpo se esvaindo<br />

Em desejos de espaço,<br />

A minha pele negra<br />

Dominando o cosmo,<br />

Envolvendo o infinito, o som<br />

Criando outros êxtases...<br />

Não sou festa para os teus olhos<br />

De branco diante de um show!<br />

Quando eu <strong>da</strong>nço há infusão dos elementos,<br />

Sou razão.

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