Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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Que foram trancados<br />
Na trama <strong>da</strong> trança.<br />
A trama <strong>da</strong> trança<br />
Traduz e traça<br />
Esconde segredos<br />
Trazidos de longe<br />
De além mar,<br />
De além do degredo.<br />
A trama <strong>da</strong> trança<br />
Nos é milenar,<br />
Trazi<strong>da</strong>s que foram,<br />
Por nobre majestade,<br />
Rainha,<br />
Princesa [...].<br />
A trama <strong>da</strong> trança<br />
Esconde segredos<br />
Intangíveis que são<br />
Ao comum dos mortais,<br />
A trama <strong>da</strong>s tranças<br />
Tão belas,<br />
Tradicionalmente teci<strong>da</strong>s,<br />
Trama<strong>da</strong>s,<br />
Trata<strong>da</strong>s,<br />
Troca<strong>da</strong>s,<br />
Trazi<strong>da</strong>s,<br />
Trança<strong>da</strong>s.<br />
A trama <strong>da</strong> trança<br />
Do cabelo <strong>da</strong> negra,<br />
A trama <strong>da</strong> trança<br />
Que nos é comum,<br />
A trama <strong>da</strong> trança<br />
Esconde segredos, trazidos ao degredo<br />
Do reino d'Oxum. (T<strong>RI</strong>NCHÃO, 2010)<br />
145<br />
Através <strong>da</strong>s tranças, o sujeito poético trama histórias de mulheres negras, que se<br />
destacam pelos cabelos bonitos, adornados por tranças. O título e esses versos curtos<br />
produzem, pelo ato de leitura, figuras femininas negras com perfil de soberania, ao<br />
invés de subserviência, como inscrição semântica dos signos trama e trança. As tranças,<br />
como uma prática ancestral, que “[...] transcende o tempo [...]” (T<strong>RI</strong>NCHÃO, 2010),<br />
apresentam-se imbuí<strong>da</strong>s de vozes polifônicas e com múltiplos sentidos. Elas não se<br />
restringem apenas a uma trama utiliza<strong>da</strong> para ornar cabeças femininas negras; posto que<br />
essa ação pode provocar inúmeras possibili<strong>da</strong>des de se tecer e desven<strong>da</strong>r tramas.<br />
Por elas, contam-se histórias, segredos e tramam-se lutas e negociações. Com as<br />
tranças dos cabelos, tramam-se memórias e caminhos. Esses eventos se desenvolvem de<br />
modo interligado e indissociável, envolvidos por segredos, mistérios e também por<br />
experiências. Nelas, há, possivelmente, marcas não apenas estéticas, mas também<br />
discursivas, logo como linguagens, que expressam referências étnico-raciais e suas<br />
práticas socioculturais. Por elas, a voz poética tece perfis de faces negras e, mais ain<strong>da</strong>,