Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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visto que oportuniza repensar sobre a composição do segmento <strong>da</strong> literatura brasileira.<br />
Ele avalia como indevi<strong>da</strong> e envolvi<strong>da</strong> em sutilezas a designação LN, por entendê-la<br />
como “[...] sério risco de fazer o jogo do preconceito velado” (PROENÇA FILHO,<br />
1988, p. 15).<br />
142<br />
O risco é inconveniente e pouco pertinente, na medi<strong>da</strong> em que existe uma<br />
tradição de escrita sobre o negro, anteriormente menciona<strong>da</strong>, que se desenha como<br />
comprometi<strong>da</strong> com representações de uma supremacia racial branca, mediante a<br />
deformação <strong>da</strong> imagem dos não brancos, aqui, mais especificamente, de negros e de<br />
suas negritudes. Em ver<strong>da</strong>de, o jogo do preconceito já está (ex) posto na produção<br />
artístico-literária brasileira. Aquilo que o estudioso chama de risco, certamente, se<br />
constitui em possibili<strong>da</strong>de de destecer as tramas alimenta<strong>da</strong>s por depreciações presentes<br />
nas teias literárias e de tecer <strong>texto</strong>s com fios afirmativos de identi<strong>da</strong>des negras<br />
brasileiras.<br />
O risco <strong>da</strong> adjetivação limitadora reside, segundo penso, no explicável, mas<br />
perigoso empenho em situar radicalmente uma autovalorização <strong>da</strong> condição<br />
negra por emulação, equivalência ou oposição à condição branca, colocação<br />
no mínimo complexa no caso brasileiro, diante até <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de se<br />
estabelecer limites entre uma e outra no miscigenado universo <strong>da</strong> cultura<br />
nacional. Mesmo porque as distinções nessa área costumam apoiar-se na cor<br />
<strong>da</strong> epiderme e na estereotipia sedimenta<strong>da</strong>. (PROENÇA FILHO, 1988, p. 15)<br />
Vale ressaltar que a cultura nacional, a que se reportou D. Proença, se apresenta<br />
pouco coesa e de modo bem controverso, haja vista que, por um lado, denota-se um uso<br />
carnavalizado, folclorizado e banalizado de traços culturais negros e indígenas, não só<br />
pelas culturas de mídias, mas também por segmentos institucionais e, por outro, veem-<br />
se práticas que supervalorizam repertórios culturais oriundos de grupos de outras<br />
origens étnico-raciais.<br />
Acrescentam-se à compreensão de Domício Proença argumentos de Zila Bernd,<br />
também estudiosa de identi<strong>da</strong>de nacional, literatura brasileira, que se posiciona diante<br />
desse segmento literário e de sua denominação, LN, pouco confortável com a<br />
adjetivação epidérmica e denotativa de aspectos étnico-raciais, embora reconheça a<br />
legitimi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> denominação, a partir de duas acepções: no sentido amplo, como aquela<br />
“[...] feita por quem quer que seja, desde que reveladora de dimensões específicas <strong>da</strong><br />
condição do negro ou dos descendentes de negros, enquanto grupo étnico culturalmente<br />
singularizado” (BERND, 1988, p. 21); e, no sentido restrito, como uma arte literária