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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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construídos a partir <strong>da</strong> literatura produzi<strong>da</strong> em outros lugares, geralmente<br />

Estados Unidos, Antilhas negras e África. Em relação, por exemplo, à<br />

chama<strong>da</strong> literatura negro-africana, as pessoas quase nunca questionam a<br />

expressão, pois a consideram adequa<strong>da</strong>, embora desconheçam as<br />

implicações que ela traz. No entanto, quando dizemos “literatura negra” ou<br />

“literatura afro-brasileira” em referência à produção artístico-literária no<br />

Brasil, várias questões são suscita<strong>da</strong>s. (FONSECA, 2006, p. 11)<br />

Não faltam, pois, críticos, estudiosos e escritores que rejeitam a expressão LN<br />

por considerarem, dentre outros motivos, incipiente e inadequa<strong>da</strong> para a arte literária,<br />

que se pretende única e universal, como demonstração <strong>da</strong> linguagem, permitindo no<br />

máximo a nacionali<strong>da</strong>de e as circunstâncias geográficas. Miriam Alves, em Cadernos<br />

negros (número 1): estado de alerta no fogo cruzado, faz uma análise dos CN, nº 1,<br />

pontuando criticamente as abor<strong>da</strong>gens de Zilá Bernd (1992; 1988) acerca <strong>da</strong> LN e<br />

problematizando suas análises e críticas.<br />

Quando escritores se assumem como “escritores negros” e o seu produto<br />

literário auto-denomina “literatura negra”, isso parece motivar um mal-estar,<br />

uma indignação que pode ser entendi<strong>da</strong> como uma prática de minorização<br />

do processo, que revela a mentali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de ignorar a vivência do<br />

negro brasileiro. É como se essa vivência, torna<strong>da</strong> assunto na ótica <strong>da</strong><br />

literatura negra, estivesse fora <strong>da</strong> órbita nacional brasileira [...] Ao <strong>da</strong>rem<br />

visibili<strong>da</strong>de à vivência negra, torna<strong>da</strong> assunto, os criadores de literatura<br />

negra são acusados de estarem tratando somente de assuntos de negros e, por<br />

isso, demonstrando uma forma de pensar desfoca<strong>da</strong> [...] (ALVES, 2002, p.<br />

234)<br />

Na prática, admitirem-se escritores/as negros/as de uma textuali<strong>da</strong>de, pauta<strong>da</strong> na<br />

vivência e tramas de tornar-se negro na socie<strong>da</strong>de brasileira, implica perfilhar os<br />

entraves e dilemas <strong>da</strong>s relações sociais e, acima de tudo, étnico-raciais, estabelecidos<br />

pelo racismo. Miriam Alves explica sobre o anonimato que persegue esses escritores/as:<br />

A produção literária de autores e autoras negras vive em ver<strong>da</strong>deiros sacos<br />

de varas. Primeiro é acusa<strong>da</strong> de essencialismo, depois é puni<strong>da</strong> com o<br />

anonimato. Trata-se de um anonimato complexo, que retira a legitimi<strong>da</strong>de<br />

do negro como escritor. A esse escritor é reservado um lugar de objeto de<br />

estudos no discurso dos pesquisadores, ou seja, alguém que só tem<br />

existência através do agenciamento do outro [...] Na ver<strong>da</strong>de, existe a prática<br />

de defender o status quo <strong>da</strong> literatura e a visão de que é um lugar reservado<br />

a determinados assuntos, específicos <strong>da</strong>s suas formas de abor<strong>da</strong>gens.<br />

(ALVES, 2002, p. 235)<br />

Implica problematizá-los, subjetivamente, forjar agenciamentos de formas e<br />

expressões literárias, que acrescentem outras significações ao ser negro (a) no Brasil.<br />

Eduardo A. Duarte, ao discutir sobre a pertinência <strong>da</strong> LN, admite o vazio e a ocultação<br />

de vozes negras existentes na historiografia literária.

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