Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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O sujeito poético desvela sutilmente suas afrodescendências e suas identi<strong>da</strong>des,<br />
até mesmo a autoral. Sem fixidez, a voz desfila suas peculiari<strong>da</strong>des, comprometi<strong>da</strong> em<br />
se mostrar sem prevalência de aspectos físicos, morais e psicológicos. Predominam, na<br />
autodescrição, marcas discursivas que imprimem em seu perfil múltiplos traços<br />
identitários. Como rata e rainha e sem subserviências, mas com desacato, ela se tece<br />
portadora de resistências e senhora de si e de um Deus-homem. Assim, esses versos<br />
podem ser associados a outros que sinalizam diversas potenciali<strong>da</strong>des de elaborações<br />
discursivas e de representações literárias positiva<strong>da</strong>s, mesmo que idealiza<strong>da</strong>s, de<br />
personagens negras femininas.<br />
Sem o intuito de fazer meras oposições, nos <strong>texto</strong>s apresentados, entre imagens<br />
depreciativas e afirmativas acerca de feições negras femininas, este tópico adquire<br />
pertinência na medi<strong>da</strong> em que permite compreender a sua análise como oportuni<strong>da</strong>de<br />
de, pela linguagem, repensar identi<strong>da</strong>des estáticas presentes na literatura brasileira<br />
canônica, pauta<strong>da</strong>s em estereótipos negativos. Além disso, opera como agenciamento de<br />
movimentos em favor de uma escrita de resistência, como aquela <strong>da</strong>s participantes <strong>da</strong><br />
pesquisa, não só pela intervenção denunciativa, mas também assim por mobilizações de<br />
estereótipos negativos e de rígidos papéis sociais, aferidos às figuras femininas negras, e<br />
pelas invenções de identi<strong>da</strong>des.<br />
A leitura descritiva e interpretativa de <strong>texto</strong>s literários, aqui realiza<strong>da</strong>, sobre<br />
dimensões políticas e culturais, tais como identi<strong>da</strong>des, pode ter relevância por balizar<br />
temáticas, tons e polêmicas que se apresentam em torno <strong>da</strong> LN e de sua vali<strong>da</strong>de como<br />
um projeto literário inserido ou ain<strong>da</strong> a integrar qualitativamente a literatura brasileira.<br />
Nesta perspectiva, é importante até mesmo por remeter às provocações e reivindicações<br />
aponta<strong>da</strong>s pela literatura afrofeminina, abor<strong>da</strong>gem que tanto interessa ao estudo,<br />
produzi<strong>da</strong> pelas autoras negras baianas, colaboradoras <strong>da</strong> pesquisa.<br />
2.2 Literatura Negra: Uma Escrita Diferenciadora de Identi<strong>da</strong>des<br />
Conforme abor<strong>da</strong>do no capítulo anterior, to<strong>da</strong>s as autoras entrevista<strong>da</strong>s se<br />
declararam negras e cientes <strong>da</strong>s vicissitudes em torno <strong>da</strong>s complexas relações de gênero<br />
e étnico-raciais, to<strong>da</strong>via apenas Mel Adún, Jocélia Fonseca, Urânia Munzanzu e Elque<br />
Santos denominaram a sua escrita de Literatura Negra. Além delas, Fátima Trinchão,