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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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personagens aparecem somente como um ente biológico universal, por isso se<br />

referenciam quase exclusivamente por seus aspectos anatômicos. Seus traços físicos são<br />

contornados com atributos que confirmam libido e sensuali<strong>da</strong>de exacerba<strong>da</strong>s e sua<br />

descrição se justifica por atender aos desejos e à satisfação sexual de homens. Sob essa<br />

perspectiva, se estreita demasia<strong>da</strong>mente a abrangência desses corpos, pois se focalizam<br />

a sedução e a aparência, ampara<strong>da</strong>s em meras dimensões corporais, logo físicas.<br />

Pensados os corpos assim, formatam-se por noções naturaliza<strong>da</strong>s, biologiza<strong>da</strong>s e<br />

cientificistas; mostram-se desintegrados de aspectos sociais, culturais e coletivas,<br />

reduzindo-os à massa corpórea, que livre e impunemente, pode ser explora<strong>da</strong>.<br />

137<br />

Os <strong>texto</strong>s literários, apresentados aqui com esses distintivos, provocam uma<br />

procura de outros, como aqueles de Cruz e Souza, dedicados a sua musa de Azeviche, e<br />

os citados neste tópico e ao longo <strong>da</strong> tese, por vezes pouco conhecidos, que a isso se<br />

contrapõem. Eles desenham um território literário, resultante de disputa de poder,<br />

questionador, mas também tecido de uma valoração positiva, instigante, resistente e<br />

indicadora de tessituras que sugerem empoderamentos, protagonismos e liber<strong>da</strong>de de<br />

destecer narrativas, poéticas e personagens cruza<strong>da</strong>s por estereótipos e estigmas,<br />

imobilismos, invisibili<strong>da</strong>des e segregações.<br />

Textos literários de escritoras negras baianas que contribuíram com o estudo<br />

colocam-se também na contramão <strong>da</strong>quelas desfigurações física, pssicossocial e moral<br />

de imagens negras femininas. Neste aspecto, as obras dessas autoras, que transitam<br />

normalmente fora dos ambientes e segmentos literários hegemônicos, têm construções<br />

discursivas que podem ser uma significativa e idealiza<strong>da</strong> estratégia simbólica de (re)<br />

figurações de tipos negros femininos na literatura brasileira. No poema Benção, de <strong>Rita</strong><br />

Santana, por exemplo, uma voz poética também se apresenta como escritora, do mesmo<br />

modo que <strong>Ana</strong> Mercedes, to<strong>da</strong>via ela se diferencia ao assumir-se poeta.<br />

[...] Sou esse fruto peco <strong>da</strong>s diásporas,<br />

Minha veemência é minha mor<strong>da</strong>ça.<br />

Assim têm sido meus dias de santa, casta, pacata,<br />

Senhora de um deus-homem.<br />

Desacato porque sorvo substantivos substâncias,<br />

Essências de nomes e dores, fantasias.<br />

Desacato porque sou poeta.<br />

Tenho língua de fontelas, hil<strong>da</strong>s.<br />

Sou muito brava para donos<br />

E afeita a clamores de desprotegidos.<br />

Tenho tudo sob meu viaduto-castelo.<br />

Sou rata e rainha. (SANTANA, 2006, p. 34)

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