Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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Ela é também poeta, mas não pode usufruir de tal talento, já que ao poeta Fausto<br />
Pena, um de seus amantes, atribui-se a autoria de seus versos. O seu sucesso<br />
profissional advém de seus encantos físicos e não de seus dotes e conquistas<br />
profissionais. Sua preocupação limita-se à sensuali<strong>da</strong>de e à certeza de seus traços<br />
tentadores, como assegura Queiroz Jr., uma fêmea irresistível (QUEIROZ Jr, 1975, p.<br />
110). Já Rosa, neta de Rosa de Oxalá, outra personagem negra que desfila nessa novela,<br />
com um homem branco teve sua filha, Miminha. Rosa, a neta, é estu<strong>da</strong>nte de medicina,<br />
é morena e se casou com um homem branco. Ela parece muito com a avó, com exceção<br />
<strong>da</strong> cor <strong>da</strong> pele e dos “[...] longos cabelos sedosos, a pele fina, os olhos azuis e o denso<br />
mistério do corpo esguio e abun<strong>da</strong>nte [...]” (AMADO, 1986, p. 340).<br />
Transitam pelo romance as relações inter-raciais, ampara<strong>da</strong>s pelos postulados <strong>da</strong><br />
morenização e pelos pressupostos <strong>da</strong> democracia racial e <strong>da</strong> mestiçagem de Freire<br />
(1933), também seguidos e defendidos por Jorge Amado. Pedro Arcanjo, personagem<br />
principal, identifica rapi<strong>da</strong>mente semelhança dela com a avó: “[...] Ah! Só pode ser a<br />
neta de Rosa! A doçura, o dengo, a sedução, a extrema formosura [...]” (AMADO,<br />
1986, p. 340).<br />
Não há a respeito dela alguma insinuação de volúpia, nem comportamento<br />
desaprovável, nem a suposição de que inspire vulgari<strong>da</strong>de e desrespeito. Sua<br />
moreni<strong>da</strong>de, como marca do embranquecimento, garante-lhe uma descrição qualitativa<br />
e sem depreciação. A personagem negra feminina só tem valor positivo quando estiver<br />
próxima ou passar por branca, como também foi o caso <strong>da</strong> personagem Edelweiss<br />
Vieira, que foi poupa<strong>da</strong> em sua moral, pois foi chama<strong>da</strong> pelo narrador como mulata-<br />
branca. Queiroz Jr. chama a atenção:<br />
Este segundo exemplo oferecido pela narrativa de Ten<strong>da</strong> dos Milagres, não<br />
permite dúvi<strong>da</strong>s sobre o preconceito de marca de que padece Jorge Amado,<br />
sempre tão desrespeitoso com a mulata, a não ser quando clareie a pela,<br />
fazendo-a passar por branca. Fora disso, é menos <strong>da</strong> mulher que ele trata,<br />
cui<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong> fêmea, irresponsável, infiel, sensualíssima, exalta<strong>da</strong> apenas por<br />
seus excepcionais dotes físicos e por sua excelência para as coisas do sexo.<br />
(QUEIROZ JR, 1975, p. 111)<br />
Corpos femininos negros, nessa novela e em outros <strong>texto</strong>s de autores canônicos,<br />
inclusive não citados, como José Lins do Rego, podem ilustrar como se apresentam<br />
identi<strong>da</strong>des negras femininas na literatura brasileira. Comumente, os corpos <strong>da</strong>s