12.05.2013 Views

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

136<br />

Ela é também poeta, mas não pode usufruir de tal talento, já que ao poeta Fausto<br />

Pena, um de seus amantes, atribui-se a autoria de seus versos. O seu sucesso<br />

profissional advém de seus encantos físicos e não de seus dotes e conquistas<br />

profissionais. Sua preocupação limita-se à sensuali<strong>da</strong>de e à certeza de seus traços<br />

tentadores, como assegura Queiroz Jr., uma fêmea irresistível (QUEIROZ Jr, 1975, p.<br />

110). Já Rosa, neta de Rosa de Oxalá, outra personagem negra que desfila nessa novela,<br />

com um homem branco teve sua filha, Miminha. Rosa, a neta, é estu<strong>da</strong>nte de medicina,<br />

é morena e se casou com um homem branco. Ela parece muito com a avó, com exceção<br />

<strong>da</strong> cor <strong>da</strong> pele e dos “[...] longos cabelos sedosos, a pele fina, os olhos azuis e o denso<br />

mistério do corpo esguio e abun<strong>da</strong>nte [...]” (AMADO, 1986, p. 340).<br />

Transitam pelo romance as relações inter-raciais, ampara<strong>da</strong>s pelos postulados <strong>da</strong><br />

morenização e pelos pressupostos <strong>da</strong> democracia racial e <strong>da</strong> mestiçagem de Freire<br />

(1933), também seguidos e defendidos por Jorge Amado. Pedro Arcanjo, personagem<br />

principal, identifica rapi<strong>da</strong>mente semelhança dela com a avó: “[...] Ah! Só pode ser a<br />

neta de Rosa! A doçura, o dengo, a sedução, a extrema formosura [...]” (AMADO,<br />

1986, p. 340).<br />

Não há a respeito dela alguma insinuação de volúpia, nem comportamento<br />

desaprovável, nem a suposição de que inspire vulgari<strong>da</strong>de e desrespeito. Sua<br />

moreni<strong>da</strong>de, como marca do embranquecimento, garante-lhe uma descrição qualitativa<br />

e sem depreciação. A personagem negra feminina só tem valor positivo quando estiver<br />

próxima ou passar por branca, como também foi o caso <strong>da</strong> personagem Edelweiss<br />

Vieira, que foi poupa<strong>da</strong> em sua moral, pois foi chama<strong>da</strong> pelo narrador como mulata-<br />

branca. Queiroz Jr. chama a atenção:<br />

Este segundo exemplo oferecido pela narrativa de Ten<strong>da</strong> dos Milagres, não<br />

permite dúvi<strong>da</strong>s sobre o preconceito de marca de que padece Jorge Amado,<br />

sempre tão desrespeitoso com a mulata, a não ser quando clareie a pela,<br />

fazendo-a passar por branca. Fora disso, é menos <strong>da</strong> mulher que ele trata,<br />

cui<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong> fêmea, irresponsável, infiel, sensualíssima, exalta<strong>da</strong> apenas por<br />

seus excepcionais dotes físicos e por sua excelência para as coisas do sexo.<br />

(QUEIROZ JR, 1975, p. 111)<br />

Corpos femininos negros, nessa novela e em outros <strong>texto</strong>s de autores canônicos,<br />

inclusive não citados, como José Lins do Rego, podem ilustrar como se apresentam<br />

identi<strong>da</strong>des negras femininas na literatura brasileira. Comumente, os corpos <strong>da</strong>s

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!