Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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mídia, contudo sua face é oculta<strong>da</strong> por um produto publicitário, retratando as condições<br />
inferioriza<strong>da</strong>s e de preconceitos em que a artista vive sujeita<strong>da</strong>.<br />
132<br />
[...] Para todos os 30 segundos foram eternos. Quando o balé iniciou os<br />
movimentos finais, a bailarina inclinou-se instintivamente para a TV. Na tela,<br />
ao canto superior direito, uma tarja branca com o nome do produto apareceu<br />
e foi escorregando em diagonal. Foi entrando... entrando... e parou,<br />
escondendo ao fundo seu rosto negro tão bonito. (ONAWALÊ, 2004, p. 36)<br />
Ao invés de exibir aspectos de sua silhueta, com o intuito de sedução, como<br />
aparece em feições de mulatas, aqui apresenta<strong>da</strong>s, o narrador empenha-se por mostrar a<br />
tática utiliza<strong>da</strong> para esconder a face bonita <strong>da</strong> personagem negra. No livro Negação do<br />
Brasil, de Joel Zito (2000), há uma análise de como os/as negros/as estão presentes e<br />
são representados/as na televisão, historicamente, mostrando o papel social <strong>da</strong> mídia na<br />
história <strong>da</strong> telenovela brasileira. O livro abor<strong>da</strong> as repercussões e consequências dessas<br />
representações nos processos de construção identitária no Brasil. Apesar <strong>da</strong> inserção de<br />
atores negros na televisão e <strong>da</strong> recorrência de personagens negros/as em telenovelas, o<br />
autor assegura que ain<strong>da</strong> predomina o padrão sociorracial euro-americanizado marcado<br />
pelo ideário de branqueamento. O estudo mostra que o negro e suas negritudes nas<br />
tramas exibi<strong>da</strong>s na televisão estão permeados por invisibili<strong>da</strong>des e preconceitos e que<br />
isso perdura ain<strong>da</strong> no século XXI.<br />
O conto A bailarina, neste con<strong>texto</strong>, ao ocultar o corpo negro <strong>da</strong> <strong>da</strong>nçarina, em<br />
uma peça publicitária, exibi<strong>da</strong> pela televisão, além de ficcionalizar a reali<strong>da</strong>de trata<strong>da</strong><br />
por esse pesquisador, no âmbito <strong>da</strong>s telenovelas brasileiras, provoca seus/suas<br />
leitores/as quanto à posição de modelos e personagens negras na publici<strong>da</strong>de veicula<strong>da</strong><br />
pela televisão. O narrador do conto sutilmente tensiona o lugar invisibilizado, ocupado<br />
pela bailarina negra de rosto tão bonito na televisão, insinuando estratégias, também<br />
sutis, utiliza<strong>da</strong>s para recalcar sua imagem na tela. Além disso, interessa pensar que a<br />
protagonista do conto, a bailarina, apresenta<strong>da</strong> pelo narrador, não tem somente um<br />
rosto lindo, semelhante a Vidinha e Isaura, por exemplo, ela também exerce uma<br />
profissão. Ela não exibe o seu corpo com o intuito de sedução ou de demonstrar traços<br />
psicológicos, seus desejos sexuais ou sua sensuali<strong>da</strong>de, como sugerem os<br />
comportamentos de <strong>Rita</strong> Baiana, mas para exercer uma profissão.<br />
Em Essa negra fulô, de Jorge de Lima, também é recorrente a figura feminina<br />
negra erotiza<strong>da</strong> e objeto sexual, de igual modo a Vidinha e a <strong>Rita</strong> Baiana. Além de ser<br />
portadora de uma índole pouco louvável, ela é capaz de roubar o amor e pertences de