Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ... Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
enfrentamento e superação dos problemas que lhes atingem, inclusive o racismo e a exclusão social. Diante de tal perspectiva, se inseriu a hipótese que dirigiu o estudo: em textos de algumas autoras negras baianas, há marcas afirmativas de identidades negras, de memórias, escritas, cuidados e interpretações de si. Há desconstruções de representações estigmatizadas, presentes na literatura brasileira, de homens e de mulheres negras e de seus repertórios. O estudo se desenvolveu através do entrecruzamento de conhecimentos das Ciências Humanas e Sociais, tais como Artes, História, Antropologia, Estudos Literários, Sociologia, Psicologia Social, Estudos Culturais, Literatura Comparada. Os referenciais teórico-metodológicos se apoiaram na ideia de que memórias, lembradas e ficcionalizadas por escritoras negras, e produções literárias, tecidas por elas, em meio às relações de poder e de saber, auto-interpretam e modificam a depreciação de suas identidades. No trajeto do estudo, necessário se fez discutir a natureza e as peculiaridades da pesquisa etnográfica que, segundo André e Lüdke (1986), tracejam por meio de fases que se interpenetram continuamente: fase exploratória; coleta de dados; análise e interpretação sistemática dos dados e elaboração do relatório. Esse caminho de pesquisa, de certo modo, remeteu aos três níveis de pesquisa já utilizados por Juana Elbein Santos: o nível factual; o da revisão crítica e o da interpretação. Assim ela explica a sua dinâmica metodológica de pesquisa: 24 O nível factual inclui os componentes da realidade empírica, a que fazemos alusão. Isto é, a descrição mais exata possível do acontecer ritual, de seus aspectos e elementos constitutivos – passados e presentes – e daqueles que técnica e materialmente instrumentam sua existência; [...]. A revisão crítica foi uma das imposições prementes que se me apresentaram no decorrer da pesquisa. Ela conduz à revisão de alguns dos conceitos e descrições que uma pesquisa mais apurada permite hoje contestar [...]. Pode-se deduzir dos comentários acima o que entendemos por interpretação e o que a guia. É neste nível que se elabora a perspectiva “desde dentro para fora”; isto é, a análise da natureza e do significado do material factual, recolocando os elementos num contexto dinâmico, descobrindo a simbologia subjacente, reconstituindo a trama dos signos em função de suas interrelações internas e de suas relações com o mundo exterior [...] (SANTOS, 1986, p. 18-25) A entrevista foi considerada uma importante técnica de aquisição de informações da pesquisa e dos itinerários do estudo. Para sua realização, ela foi utilizada como um procedimento metodológico para o desenvolvimento das fases exploratória e coleta de dados, mencionadas por André e Lüdke (1986), tendo em vista a
descrição, a que se referiu Santos (1986), que resultou do contato e do convívio. Tal metodologia, além de possibilitar o encontro com as escritoras e o acesso às publicações delas, colaborou com a leitura crítica de suas poéticas e ficções e de seus discursos sobre identidades negras. Por meio da entrevista, busquei ouvir, ver e observar, sem estar ausente e fechada. Contrariamente, com a interpretação das narrativas, procurei compreender a linguagem e as experiências como veículos de significações. Tentei alcançar saberes e significados que elas conferem a si mesmas, às identidades negras e às suas escrituras. Procurei, inclusive, acompanhá-las para além de suas narrativas, no processo das entrevistas, em seus ambientes, gestos, movimentos, acentos, tonalidades, silêncios e fragmentos, haja vista que elas não foram depoentes. Ao contrário, foram sujeitos, que se constituíram como atores em cena, construindo suas obras literárias, que também contam presentificando fios e fiapos de seu passado, cosendo seu futuro, e, simultaneamente, descosendo poéticas e narrativas da tradição literária brasileira, as quais criam versos, personagens e tramas que subjugam seus universos identitários e culturais negros. As entrevistas foram, pois, momentos de trocas culturais, de indagações e de reconhecimento das tramas e caminhos que a literatura permite que teçamos; elas oportunizaram encontros instigantes e dialógicos, indicadores da vida em trânsito. Por seus relatos foi fatível conhecer representações e interpretações de si, de seu mundo, dos outros, de seus amores, vivências e angústias, de decepções, utopias, dores e conquistas, desesperos, esperanças, convicções e crenças, acertos e desacertos. Busquei escutá-las, não só por curiosidade, surpresa ou com expressão de não- aceitação dos seus relatos, mas por desejo de compreender suas ficções e poéticas, pensamentos, convicções, saberes, inquietações e experiências de vida, enquanto mulheres negras escritoras, pelo viés de seus repertórios socioculturais. Para tanto, a base temática que mediou a entrevista foi a relação entre literatura, identidades e memórias, escritas e cuidado de si de escritoras envolvidas, de suas obras e as prováveis buscas de compreensão daquilo que elas constroem sobre si mesmas e dos seus discursos acerca de identidades negras. A marca espaço-temporal foi outra dimensão importante de constituição da pesquisa, uma vez que houve duas preocupações quanto a sua exequibilidade. A primeira referiu-se ao limite geográfico: Estado da Bahia. Empenhei-me para que o estudo não se restringisse apenas às escritoras negras soteropolitanas e/ou da região 25
- Page 1 and 2: INTRODUÇÃO 1 ITINERÁRIOS DA PESQ
- Page 3 and 4: negros. Embora os seus arquivos est
- Page 5 and 6: Os CN têm sido um dos responsávei
- Page 7 and 8: [...] Forjando laços entre afirma
- Page 9 and 10: o significado daquilo que as pessoa
- Page 11: antropológicas, por exemplo, daque
- Page 15 and 16: 27 Luiz Gama, também em 1859, no m
- Page 17 and 18: descritivas e interpretativas, que
- Page 19 and 20: como forjar estratégias de descolo
- Page 21 and 22: presentes. Ao contrário, seu cará
- Page 23 and 24: crítica, ainda em construção, e
- Page 25 and 26: Mel Adún (32 anos), Urânia Munzan
- Page 27 and 28: demonstraram a necessidade de apren
- Page 29 and 30: Além da leitura, a sua participaç
- Page 31 and 32: 1.1.1 Jocélia Fonseca: Uma Fragrâ
- Page 33 and 34: vez que “[...] O movimento negro
- Page 35 and 36: Escrever é, para Jocélia Fonseca,
- Page 37 and 38: 49 Alguns textos nascem literários
- Page 39 and 40: 1989), com a personagem Mãe de Plu
- Page 41 and 42: 53 [...] E Cruz e Souza que só me
- Page 43 and 44: quero e não posso! Publiquei até
- Page 45 and 46: décadas. Isso acontece por três r
- Page 47 and 48: A voz poética do poema, ao se apre
- Page 49 and 50: Tenha paciência com meus desatinos
- Page 51 and 52: Fotografia de Ana Rita Santiago da
- Page 53 and 54: 65 [...] minha mãe sempre tentou m
- Page 55 and 56: 67 Felisberto. Foi ótimo! Mas que
- Page 57 and 58: ausência de signos e indumentária
- Page 59 and 60: outras autoras em evidência neste
- Page 61 and 62: Do contato, de reflexões sobre ra
enfrentamento e superação dos problemas que lhes atingem, inclusive o racismo e a<br />
exclusão social. Diante de tal perspectiva, se inseriu a hipótese que dirigiu o estudo: em<br />
<strong>texto</strong>s de algumas autoras negras baianas, há marcas afirmativas de identi<strong>da</strong>des negras,<br />
de memórias, escritas, cui<strong>da</strong>dos e interpretações de si. Há desconstruções de<br />
representações estigmatiza<strong>da</strong>s, presentes na literatura brasileira, de homens e de<br />
mulheres negras e de seus repertórios.<br />
O estudo se desenvolveu através do entrecruzamento de conhecimentos <strong>da</strong>s<br />
Ciências Humanas e Sociais, tais como Artes, História, Antropologia, Estudos<br />
Literários, Sociologia, Psicologia Social, Estudos Culturais, Literatura Compara<strong>da</strong>. Os<br />
referenciais teórico-metodológicos se apoiaram na ideia de que memórias, lembra<strong>da</strong>s e<br />
ficcionaliza<strong>da</strong>s por escritoras negras, e produções literárias, teci<strong>da</strong>s por elas, em meio às<br />
relações de poder e de saber, auto-interpretam e modificam a depreciação de suas<br />
identi<strong>da</strong>des.<br />
No trajeto do estudo, necessário se fez discutir a natureza e as peculiari<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />
pesquisa etnográfica que, segundo André e Lüdke (1986), tracejam por meio de fases<br />
que se interpenetram continuamente: fase exploratória; coleta de <strong>da</strong>dos; análise e<br />
interpretação sistemática dos <strong>da</strong>dos e elaboração do relatório. Esse caminho de<br />
pesquisa, de certo modo, remeteu aos três níveis de pesquisa já utilizados por Juana<br />
Elbein Santos: o nível factual; o <strong>da</strong> revisão crítica e o <strong>da</strong> interpretação. Assim ela<br />
explica a sua dinâmica metodológica de pesquisa:<br />
24<br />
O nível factual inclui os componentes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de empírica, a que fazemos<br />
alusão. Isto é, a descrição mais exata possível do acontecer ritual, de seus<br />
aspectos e elementos constitutivos – passados e presentes – e <strong>da</strong>queles que<br />
técnica e materialmente instrumentam sua existência; [...].<br />
A revisão crítica foi uma <strong>da</strong>s imposições prementes que se me apresentaram<br />
no decorrer <strong>da</strong> pesquisa. Ela conduz à revisão de alguns dos conceitos e<br />
descrições que uma pesquisa mais apura<strong>da</strong> permite hoje contestar [...].<br />
Pode-se deduzir dos comentários acima o que entendemos por interpretação<br />
e o que a guia. É neste nível que se elabora a perspectiva “desde dentro para<br />
fora”; isto é, a análise <strong>da</strong> natureza e do significado do material factual,<br />
recolocando os elementos num con<strong>texto</strong> dinâmico, descobrindo a simbologia<br />
subjacente, reconstituindo a trama dos signos em função de suas interrelações<br />
internas e de suas relações com o mundo exterior [...] (SANTOS,<br />
1986, p. 18-25)<br />
A entrevista foi considera<strong>da</strong> uma importante técnica de aquisição de<br />
informações <strong>da</strong> pesquisa e dos itinerários do estudo. Para sua realização, ela foi<br />
utiliza<strong>da</strong> como um procedimento metodológico para o desenvolvimento <strong>da</strong>s fases<br />
exploratória e coleta de <strong>da</strong>dos, menciona<strong>da</strong>s por André e Lüdke (1986), tendo em vista a