Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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poética que insiste em afirmar a total e permanente negritude de sua Preta em um tom<br />
de resistência, não havendo disfarce ou possibili<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nça: uma vez preta,<br />
sempre preta.<br />
Preta<br />
Minha preta<br />
Preta mesmo<br />
Preta, preta<br />
Preta<br />
Dentro preta<br />
Preta fora<br />
To<strong>da</strong> preta<br />
Preta<br />
Ontem preta<br />
Hoje preta<br />
Sempre preta<br />
Ah! Preta<br />
Preta, preta<br />
Preta, preta<br />
Preta, preta. (ONAWALÊ, 2003, p. 23)<br />
129<br />
Pela afirmação <strong>da</strong> tonali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pele, acompanha<strong>da</strong> <strong>da</strong> constatação de que a sua<br />
Preta também se apresenta, psicossocialmente, por dentro e por fora to<strong>da</strong> preta, o<br />
sujeito poético sugere que ela também vive e é culturalmente construí<strong>da</strong> por traços de<br />
negritudes. Ser preta é, desse modo, exaltado, e não renegado ou recalcado.<br />
Também como uma literatura de resistência e elaborações discursivas de perfis<br />
identitários pouco semelhantes ao de Vidinha e tia Nastácia, a Africana, de Negão<br />
Dony, é uma personagem de vi<strong>da</strong> simples, mãe solteira, acometi<strong>da</strong> pelas vicissitudes <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> sem condições mínimas de sobrevivência digna. De tal reali<strong>da</strong>de, entretanto, não<br />
resultam acomo<strong>da</strong>ção, fragili<strong>da</strong>des e subserviências; sobressaem, pois, disposição e<br />
resistências para superação dos obstáculos, apresentados pelo narrador, de diversas<br />
proporções e dimensões, enfrentados por ela no limiar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
No alto <strong>da</strong> pedreira donde se avista to<strong>da</strong> a paisagem <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, uma mulher<br />
de cabelos despenteados, senta<strong>da</strong> sobre um velho barril. Na frente de uma<br />
casa de sapé, acenava para o carro de bois. Um menino negro, de olhos<br />
grandes, aparentando quatro a cinco anos de i<strong>da</strong>de tremia de frio enrolado no<br />
xale de lã grossa (cor de caramelo) e, mesmo assim, atendia ao aceno.<br />
Senta<strong>da</strong> ao seu lado viajava a mãe que demonstrava, no olhar, desespero.<br />
Na estação o trem soltava fumaça preta e apito rouco avisando que estava<br />
próxima a parti<strong>da</strong>.<br />
A mulher saltou do carro-de-bois, puxando o menino pelo braço e se dirigiu<br />
ao vagão do trem [...] (FRANÇA, 1978, p. 13-14)