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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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Quando não mais houver<br />

Quem fale?<br />

Quem chorará.<br />

Quem rirá [...]<br />

Se calarem o “griot”,<br />

Perderemos nossa história.<br />

Não tem guerras,<br />

Não tem glórias,<br />

Nem batalhas,<br />

Nem savanas,<br />

Nos prados [...]<br />

Nem o vento falará,<br />

Nem o tempo guar<strong>da</strong>rá,<br />

O que fomos.<br />

O que sou,<br />

Se calarem o “griot”. (T<strong>RI</strong>NCHÃO, 2005)<br />

125<br />

As tradições canta<strong>da</strong>s nesses versos, sugeri<strong>da</strong>s já no título do poema, não estão<br />

somente vincula<strong>da</strong>s ao passado. Elas se configuram como elementos históricos<br />

imprescindíveis para inventar o presente. Neste sentido, o já vivido servirá para<br />

entender identi<strong>da</strong>des passa<strong>da</strong>s e atuais, forjando o hoje com a socialização de saberes<br />

adquiridos.<br />

No poema, um eu reitera a presença, a função e a necessi<strong>da</strong>de permanente do<br />

contador de histórias – Griot –, já que, tradicionalmente, no continente africano, ele<br />

narra trajetórias, mitos, causos etc de interesses familiares e comunitários. É possível<br />

que a evocação ao vulto tenha como pretensão não apenas cantar as savanas africanas,<br />

mas instigar imaginariamente a constituição de sujeitos com memórias individuais e<br />

coletivas, imbuí<strong>da</strong>s de legados ancestrais, mitológicos e de saberes compartilhados por<br />

tradicionais civilizações africanas e por contemporâneas populações diaspóricas.<br />

Há, na literatura de Fátima Trinchão, uma escrita comprometi<strong>da</strong> com a<br />

resistência e com a aclamação de personali<strong>da</strong>des que se destacam na história de<br />

populações negras pelo compromisso com a preservação e a ressignificação de<br />

africani<strong>da</strong>des, como é o caso do griot, e pelo engajamento político ou cultural, tendo em<br />

vista a emancipação de seus descendentes, tal como Zumbi dos Palmares. Em ambos<br />

sobressai um canto à resistência histórica forja<strong>da</strong> por africanos e afrodescendentes. A<br />

voz do griot alimenta a tradição entre aqueles que estão entre savanas, desertos e<br />

planícies africanas, mas também entre aqueles que são oriundos do umbigo <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de, a Mãe África.<br />

Apoiado em princípios do Naturalismo, Aluísio de Azevedo, em O cortiço,<br />

apresenta personagens femininas negras, com os dotes e personali<strong>da</strong>des avantajados.

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