Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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tradições e histórias negras. Tambores não apenas ruflam saudando e chamando os antepassados/as, Inquices e Orisàs como em A Força do rumpi, de Elque Santos, eles também convocam para a luta e para o enfrentamento das trincheiras de subalternidades, clamando por verdades, liberdade e afirmação de africanidades. 124 Na novela Negão Dony, de Aline França, (1978), a história de Palmares também é recontada pela personagem Mãe Maria de Obi, tratada pelo narrador como a Africana. Ela, em noites de verão, em Itapoan, em Salvador, se reunia com pescadores da região e vizinhos para recriar histórias acerca do tempo da escravidão. De acordo com o narrador: Mãe Maria de Obi dizia: − Queria eu existir nesta terra no tempo da escravidão. Tempo em que minha gente fugia revortada e se refugiava nos sertão. Queria que ajudar formar os quilombos principarmente o de Parmares, que era chefiado pelo grande Zumbi; que lutou pela liberdade do meu povo até o fim da vida. (FRANÇA, 1978, p. 29) Novamente o Quilombo de Palmares, formado por um povo insurgente, sem medo ou subserviências, aparece como símbolo de resistência e de liberdade. A africana declara-se pertencente ao povo que sofreu a escravidão negra no Brasil e descendente de uma Palmares guerreira. O seu desejo de também ser uma líder quilombola relaciona- se com o tom dos versos de Zumbi de Palmares, de Fátima Trinchão, pois em ambos prevalecem o sentimento e a decisão em favor da luta e da libertação de povos negros. O encontro da personagem Mãe Maria do Obi com outras pessoas sugere pensar que, diferentemente da narrativa de As vítimas e algozes, é importante fazer referências às africanidades, contando histórias com o intuito de preservar tradições e legados africano-brasileiros e, ao mesmo tempo, colaborar com a afirmação de suas afrodescendências. É, nesta perspectiva, que o contador de histórias, o Griot, é ovacionado no poema Tradições por uma voz poética negra que aponta a sua importância, inclusive, no aqui e agora. Se calarem o “griot” Quem dirá das savanas Desertos e planícies livres, Verdes e absolutas Do continente africano? E quem dirá de sua luta, De sua história, De sua fome, de sua glória? Quem falará dos heróis, Dos deuses e dos mortais.
Quando não mais houver Quem fale? Quem chorará. Quem rirá [...] Se calarem o “griot”, Perderemos nossa história. Não tem guerras, Não tem glórias, Nem batalhas, Nem savanas, Nos prados [...] Nem o vento falará, Nem o tempo guardará, O que fomos. O que sou, Se calarem o “griot”. (TRINCHÃO, 2005) 125 As tradições cantadas nesses versos, sugeridas já no título do poema, não estão somente vinculadas ao passado. Elas se configuram como elementos históricos imprescindíveis para inventar o presente. Neste sentido, o já vivido servirá para entender identidades passadas e atuais, forjando o hoje com a socialização de saberes adquiridos. No poema, um eu reitera a presença, a função e a necessidade permanente do contador de histórias – Griot –, já que, tradicionalmente, no continente africano, ele narra trajetórias, mitos, causos etc de interesses familiares e comunitários. É possível que a evocação ao vulto tenha como pretensão não apenas cantar as savanas africanas, mas instigar imaginariamente a constituição de sujeitos com memórias individuais e coletivas, imbuídas de legados ancestrais, mitológicos e de saberes compartilhados por tradicionais civilizações africanas e por contemporâneas populações diaspóricas. Há, na literatura de Fátima Trinchão, uma escrita comprometida com a resistência e com a aclamação de personalidades que se destacam na história de populações negras pelo compromisso com a preservação e a ressignificação de africanidades, como é o caso do griot, e pelo engajamento político ou cultural, tendo em vista a emancipação de seus descendentes, tal como Zumbi dos Palmares. Em ambos sobressai um canto à resistência histórica forjada por africanos e afrodescendentes. A voz do griot alimenta a tradição entre aqueles que estão entre savanas, desertos e planícies africanas, mas também entre aqueles que são oriundos do umbigo da humanidade, a Mãe África. Apoiado em princípios do Naturalismo, Aluísio de Azevedo, em O cortiço, apresenta personagens femininas negras, com os dotes e personalidades avantajados.
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clamando por ver<strong>da</strong>des, liber<strong>da</strong>de e afirmação de africani<strong>da</strong>des.<br />
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Na novela Negão Dony, de Aline França, (1978), a história de Palmares também<br />
é reconta<strong>da</strong> pela personagem Mãe Maria de Obi, trata<strong>da</strong> pelo narrador como a Africana.<br />
Ela, em noites de verão, em Itapoan, em Salvador, se reunia com pescadores <strong>da</strong> região e<br />
vizinhos para recriar histórias acerca do tempo <strong>da</strong> escravidão. De acordo com o<br />
narrador:<br />
Mãe Maria de Obi dizia:<br />
− Queria eu existir nesta terra no tempo <strong>da</strong> escravidão. Tempo em que minha<br />
gente fugia revorta<strong>da</strong> e se refugiava nos sertão. Queria que aju<strong>da</strong>r formar os<br />
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Zumbi; que lutou pela liber<strong>da</strong>de do meu povo até o fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. (FRANÇA,<br />
1978, p. 29)<br />
Novamente o Quilombo de Palmares, formado por um povo insurgente, sem<br />
medo ou subserviências, aparece como símbolo de resistência e de liber<strong>da</strong>de. A africana<br />
declara-se pertencente ao povo que sofreu a escravidão negra no Brasil e descendente de<br />
uma Palmares guerreira. O seu desejo de também ser uma líder quilombola relaciona-<br />
se com o tom dos versos de Zumbi de Palmares, de Fátima Trinchão, pois em ambos<br />
prevalecem o sentimento e a decisão em favor <strong>da</strong> luta e <strong>da</strong> libertação de povos negros.<br />
O encontro <strong>da</strong> personagem Mãe Maria do Obi com outras pessoas sugere pensar<br />
que, diferentemente <strong>da</strong> narrativa de As vítimas e algozes, é importante fazer referências<br />
às africani<strong>da</strong>des, contando histórias com o intuito de preservar tradições e legados<br />
africano-brasileiros e, ao mesmo tempo, colaborar com a afirmação de suas<br />
afrodescendências. É, nesta perspectiva, que o contador de histórias, o Griot, é<br />
ovacionado no poema Tradições por uma voz poética negra que aponta a sua<br />
importância, inclusive, no aqui e agora.<br />
Se calarem o “griot”<br />
Quem dirá <strong>da</strong>s savanas<br />
Desertos e planícies livres,<br />
Verdes e absolutas<br />
Do continente africano?<br />
E quem dirá de sua luta,<br />
De sua história,<br />
De sua fome, de sua glória?<br />
Quem falará dos heróis,<br />
Dos deuses e dos mortais.