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Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...

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antropológicas, por exemplo, <strong>da</strong>quela época, não deram conta suficientemente dos<br />

estudos sobre raça e relações raciais no Brasil, uma vez que<br />

23<br />

[...] há uma contradição entre as idéias e os fatos de nossas relações de raças.<br />

No plano ideológico, é dominante ain<strong>da</strong> a brancura como critério de estética<br />

social, No plano dos fatos, é dominante na socie<strong>da</strong>de brasileira uma cama<strong>da</strong><br />

de origem negra, nela distribuí<strong>da</strong> de alto a baixo. (RAMOS, 1995, p. 216)<br />

Ain<strong>da</strong> é pertinente a veemência do pesquisador ao afirmar a ineficiência e a<br />

inadequação <strong>da</strong> literatura sociológica e antropológica sobre relações raciais, produzi<strong>da</strong><br />

por estudiosos brasileiros <strong>da</strong>quele período. Para Ramos, “[...] De um modo geral, os<br />

nossos especialistas neste domínio têm contribuído mais para confundir do que para<br />

esclarecer os suportes de nossas relações de raça [...]” (RAMOS, 1995, p. 218). A<br />

estudiosa Narcimária C. P. Luz já advertira sobre tal situação:<br />

[...] Através de uma operação reducionista, embebi<strong>da</strong> por obstáculos teóricoideológicos<br />

que denegavam a riqueza e a complexi<strong>da</strong>de do patrimônio<br />

simbólico-cultural africano-brasileiro, construíram-se argumentações em que<br />

esta civilização aparece como uma espécie de “desvio”, algo que deman<strong>da</strong><br />

não só uma explicação, mas também uma correção social que poderia vir<br />

através <strong>da</strong> Educação, <strong>da</strong> Psiquiatria, etc. [...]<br />

Assim se expandiram durante déca<strong>da</strong>s deformações que iriam<br />

sobredeterminar a compreensão do patrimônio civilizatório africano no<br />

Brasil, e essa situação de “objeto de ciência” caracteriza a percepção<br />

etnocêntrica, pois o outro jamais é percebido enquanto sujeito social [...]<br />

(LUZ, 1998, p. 154-155)<br />

Assim, ideologias e conceitos constituíram-se como obstáculos teórico-<br />

ideológicos que negaram as complexi<strong>da</strong>des e abrangências que permeiam culturas<br />

negras e fortaleceram práticas contundentes de racismo individual e institucional 5 .<br />

Há, felizmente, outros capítulos <strong>da</strong> história <strong>da</strong>s ciências e até <strong>da</strong> historiografia<br />

literária, sendo, paulatinamente, construídos, em que múltiplas áreas do conhecimento<br />

apropriam-se de questões, temas e patrimônios e culturas negras, não para reduzi-las<br />

e/ou recalcar suas potenciali<strong>da</strong>des, mas valorizá-las, bem como contribuir para o<br />

5 O racismo individual é compreendido aqui como uma prática, eminentemente relacional, de acordo com<br />

Paulo S. P. <strong>da</strong> <strong>Silva</strong> (2008), por manifestar-se através de atos discriminatórios nas relações inter-pessoais.<br />

Pode alcançar níveis extremos, como atos de agressão verbal e/ou física, destruição de bens e/ou<br />

proprie<strong>da</strong>des e assassinatos. Já o racismo institucional, segundo <strong>Silva</strong> (2008), atua direta ou indiretamente<br />

com o aval do Estado, uma vez que é um tipo específico de racismo, que se estabelece nas estruturas de<br />

organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, nas instituições, traduzindo os interesses, ações e mecanismos de exclusão<br />

perpetrados pelos grupos racialmente dominantes. Ele é, pois, a incapaci<strong>da</strong>de coletiva de uma<br />

organização em prover um serviço apropriado ou profissional às pessoas devido a sua cor, cultura ou<br />

africani<strong>da</strong>des.

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