Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
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Quisera ser a terra em que ela pisa,<br />
Torná-las em colher, comer com elas. [...]<br />
Dar cultos à beleza, amor aos peitos,<br />
Sem vi<strong>da</strong> que transponha a eterni<strong>da</strong>de,<br />
Bem que mostra que a sandice estava em voga<br />
Quando Uranus gerou a humani<strong>da</strong>de.<br />
Mas já que o fato iníquo não consente,<br />
Que amor, além <strong>da</strong> campa, faça vasa,<br />
Ornemos de Cupido as santas aras,<br />
Tu feita em fogareiro, eu feito em brasa. (GAMA, 2000, p. 60)<br />
120<br />
Assim, ao incluir características físicas femininas negras, atribuindo-lhes um<br />
valor positivo e elevando-as à condição de padrão estético, Luis Gama cria<br />
afirmativamente, de acordo com Heitor Martins, “[...] uma possibili<strong>da</strong>de estética<br />
alternativa [...]” (MARTINS, 1996, p. 95) para a literatura brasileira. Além disso, forja<br />
riscos afirmativos de universos e tipos africanos na linguagem literária que certamente<br />
se separam <strong>da</strong>queles que os menosprezam, distorcem e determinam outros perfis de<br />
identi<strong>da</strong>des negras na literatura brasileira.<br />
Ao contrário <strong>da</strong> voz resigna<strong>da</strong> e passiva de Escrava Isaura, percebi<strong>da</strong> ao longo<br />
<strong>da</strong> narrativa, acima de tudo em diálogos entre ela e sua senhora, Fátima Trinchão, em<br />
Ecos do passado, cria um sujeito poético au<strong>da</strong>cioso e altivo que rememora<br />
inventivamente fragmentos de momentos de fugas durante a saga histórica vivi<strong>da</strong> por<br />
africanos/as escravizados/as. De modo adverso ao que ocorre em Escrava Isaura, ele<br />
narra aflições e injustiças a que foram submetidos.<br />
Na mata fugir é constante.<br />
No passo apressado ressoam possantes<br />
ecos do passado<br />
Alarma! Alarma!<br />
É mais um que foge,<br />
e a cuja desdita,<br />
só o Alto socorre.<br />
Padece injustiça,<br />
padece aflição,<br />
ser-lhe-ia melhor<br />
morrer nas savanas do seu doce chão.<br />
Altivo e au<strong>da</strong>z que fora um dia,<br />
não volta jamais,<br />
o negro fugido,<br />
à terra tão quente,<br />
macia e formosa dos seus ancestrais. (T<strong>RI</strong>NCHÃO, 2009)<br />
São ecos de memórias inventa<strong>da</strong>s, mas que trazem à baila formas de<br />
insurgências frente aos males e adversi<strong>da</strong>des de ser escravizado, diferentemente <strong>da</strong> ação