Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Ana Rita Santigo da Silva - texto.pdf - RI UFBA - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Logo se encontra com<br />
Você uma negra bonita<br />
Logo encontra outro bem.<br />
Quem sabe se eu sirvo<br />
Para ser o seu amor<br />
Salvo se você não gosta<br />
De gente <strong>da</strong> sua cor<br />
Mas se gosta eu sou o tal<br />
Que não perde pra ninguém<br />
Sou o tipo ideal<br />
Pra quem ficou sem o bem [...] (T<strong>RI</strong>NDADE, 1961, p. 130)<br />
113<br />
No poema, uma voz poética brinca com as palavras para cantar a finitude e a<br />
fugaci<strong>da</strong>de do amor, mas também se encanta com a beleza <strong>da</strong> Negra bonita que parece<br />
triste por ter perdido seu amor. Também se apresenta como um negro que é um traço<br />
identitário comum entre ele e a Negra bonita, considerado por ele determinante para se<br />
colocar (ou não) como o novo amor <strong>da</strong> Negra bonita: “[...] Quem sabe se eu sirvo para<br />
ser o seu amor [...]” (T<strong>RI</strong>NDADE, 1961, p. 130). Com sutileza, o poeta abor<strong>da</strong><br />
liricamente sobre as tramas que perpassam as relações inter-raciais, indicando uma delas<br />
que é não se encantar com o outro por compartilhar do mesmo pertencimento étnico-<br />
racial. Negra bonita é lin<strong>da</strong>, entretanto, para aceitar os encantos <strong>da</strong> voz poética<br />
masculina, é preciso gostar “[...] <strong>da</strong> gente de sua cor [...] ” (T<strong>RI</strong>NDADE, 1961, p. 130).<br />
A Negra bonita é caracteriza<strong>da</strong> pela capaci<strong>da</strong>de de escolher outro amor, pelo seu<br />
vestido azul e branco e até pela cara tão triste que não sorri para alguém. Não há<br />
destaque para seus dotes físicos, que justifiquem a sua beleza, tampouco exibição de sua<br />
sensuali<strong>da</strong>de e virili<strong>da</strong>de. Tal descrição mostra um fazer poético comprometido com<br />
uma faceta de identi<strong>da</strong>de negra distinta <strong>da</strong> presente na poética de Gregório de Matos.<br />
Em Instante mulher, de Mel Adún, como em Parcimônia, de <strong>Rita</strong> Santana,<br />
existe uma busca por uma literatura em que sujeitos poéticos e ficcionais femininos<br />
negros possam forjar reversões de representações inventa<strong>da</strong>s com perfis negativos e sem<br />
liber<strong>da</strong>de, tal como aparecem em obras literárias canônicas.<br />
Com vontade apenas de boas risa<strong>da</strong>s.<br />
Do carinho descarado embaixo.<br />
De qualquer lençol que me abrigue.<br />
Sem brigas.<br />
Não tenho intimi<strong>da</strong>de pra brigar com você.<br />
Exijo as boas trepa<strong>da</strong>s segui<strong>da</strong>s deuteamos falsos.<br />
Com prazer dou risa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s suas pia<strong>da</strong>s.<br />
Se não me agra<strong>da</strong>m não te permito repetir o prato.<br />
Estou nesse estágio – posso escolher.<br />
Pode falar bobagens, sentir prazer quando te molho,<br />
Posso até bater, mas ain<strong>da</strong> não aprendi a apanhar...<br />
E gozar.