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caracterização das unidades sísmicas, processos - ANP

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CENTRO DE ESTUDOS GERAIS<br />

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA E GEOFÍSICA MARINHA - MESTRADO<br />

PRH-11<br />

MARCELA MARQUES PELLIZZON<br />

CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES SÍSMICAS,<br />

PROCESSOS SEDIMENTARES E IDADE DO CÂNION<br />

ALMIRANTE CÂMARA, BACIA DE CAMPOS<br />

NITERÓI<br />

2005


MARCELA MARQUES PELLIZZON<br />

CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES SÍSMICAS, PROCESSOS SEDIMENTARES E<br />

IDADE DO CÂNION ALMIRANTE CÂMARA, BACIA DE CAMPOS.<br />

Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação<br />

em Geologia e Geofísica Marinha da Universidade<br />

Federal Fluminense, como requisito parcial para<br />

obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração:<br />

Geologia e Geofísica Marinha.<br />

Orientador: Prof. Dr. ALBERTO GARCIA DE FIGUEIREDO Jr.<br />

Niterói<br />

2005<br />

II


MARCELA MARQUES PELLIZZON<br />

CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES SÍSMICAS, PROCESSOS SEDIMENTARES E<br />

IDADE DO CÂNION ALMIRANTE CÂMARA, BACIA DE CAMPOS.<br />

Aprovada em setembro de 2005<br />

III<br />

Dissertação apresentada ao curso de Pós-<br />

Graduação em Geologia e Geofísica Marinha da<br />

Universidade Federal Fluminense, como<br />

requisito parcial para obtenção do Grau de<br />

Mestre. Área de Concentração: Geologia e<br />

Geofísica Marinha.<br />

BANCA EXAMINADORA<br />

Prof. Dr Alberto Garcia de Figueiredo Jr. - Orientador<br />

Universidade Federal Fluminense - UFF<br />

Prof a . Dr a Isa Brehme<br />

Universidade Federal Fluminense - UFF<br />

Dr. Adriano R. Viana<br />

PETROBRAS<br />

Niterói<br />

2005


p___ Pellizzon, Marcela Marques<br />

Caracterização <strong>das</strong> Unidades Sísmicas, Processos<br />

Sedimentares e Idade do Cânion Almirante Câmara,<br />

Bacia De Campos. Marcela Marques Pellizzon. –<br />

Niterói: [ s.n.], 2005.<br />

___f.,__ cm.<br />

Dissertação (Mestrado em Geologia e Geofísica<br />

Marinha) – Universidade Federal Fluminense, 2005.<br />

Bibliografia: f. __-___.<br />

1. __________<br />

CDD ________<br />

IV


AGRADECIMENTOS<br />

Ao professor Alberto Garcia Figueiredo Jr., pela paciência e forma como me orientou<br />

neste trabalho, sua participação foi fundamental na execução e conclusão deste, bem como para o<br />

meu aprendizado durante este período.<br />

A professora Isa Brehme e ao Dr. Adriano R. Viana por participarem da banca. Suas<br />

análises na pré-banca foram de importante contribuição para esta dissertação.<br />

Ao professor Jean-Claude Faugères do Departamento de Geologia e Oceanografia da<br />

Universidade de Bordeaux I pela grande colaboração, com críticas e discussões, as quais foram<br />

essenciais para a evolução do trabalho. Ao professor Luis Antônio Gamboa por compartilhar sua<br />

experiência em interpretação sísmica auxiliando na compreensão dos registros.<br />

A Gaia Processamento de Dados Ltda. pela concessão dos dados sísmicos utilizados na<br />

pesquisa, tornando real a possibilidade de realização desta dissertação.<br />

Ao LAGEMAR pelo aprendizado adquirido, que vai além da parte acadêmica. Aos<br />

professores que ministraram as disciplinas do mestrado, que com suas aulas conseguiram<br />

transmitir grande conhecimento contribuindo para o meu aperfeiçoamento intelectual. Às<br />

secretárias Eneida e Jenny por se apresentarem sempre solícitas e pacientes.<br />

Agradeço a <strong>ANP</strong> – Agência Nacional de Petróleo - pela bolsa concedida e auxílio na<br />

participação de congressos.<br />

A todos os colegas (estagiários, mestrandos e doutorandos) pelos momentos de<br />

descontração compartilhados. Em especial meus colegas de turma, Alexandre, David, Fábio,<br />

Rafael e Zeca. Também não há como esquecer da Cláudia, André Silva, Valterlene, Maitê,<br />

Kleverson, Yeto e N’Landu.<br />

A minha família por serem a base de tudo. E principalmente aos meus pais por terem<br />

confiado em mim e por me apoiarem durante toda a minha vida.<br />

Enfim, agradeço a todos que me ajudaram nesta caminhada, direta ou indiretamente.<br />

Desde quem me deu aula até aquele que contribuiu com um singelo desejo de boa sorte o meu<br />

eterno agradecimento.<br />

V


ÍNDICE<br />

AGRADECIMENTOS V<br />

ÍNDICE VI<br />

LISTA DAS FIGURAS VII<br />

LISTA DAS TABELAS VIII<br />

LISTA DE ABREVIATURAS IX<br />

RESUMO X<br />

ABSTRACT XI<br />

1 - INTRODUÇÃO 13<br />

2 - ÁREA DE ESTUDO 16<br />

2.1 - Localização 16<br />

2.2 – Evolução Geológica da Bacia de Campos 18<br />

2.3 – Compartimentação Fisiográfica 25<br />

2.4 – Sedimentologia e Geomorfologia 26<br />

2.5 - Características Oceanográficas 31<br />

2.6 – Processos Sedimentares 34<br />

3 - METODOLOGIA 38<br />

3.1 - Dados Sísmicos 38<br />

3.2 – Sismoestratigrafia 40<br />

4 - RESULTADOS 44<br />

4.1 - Morfologia do Cânion 44<br />

4.2 – Caracterização Sísmica 45<br />

4.2.1 – Descrição <strong>das</strong> Unidades Sísmicas 45<br />

4.2.2 – Estruturas Identifica<strong>das</strong> 61<br />

5 - DISCUSSÃO 64<br />

5.1 – Correlação da Caracterização Sísmica com os resultados do DSDP 515 64<br />

5.2 – Evolução da Margem Continental na Área de Estudo 74<br />

5.3 – Processos Sedimentares no Cânion Almirante Câmara 75<br />

6 - CONCLUSÃO 77<br />

7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 78<br />

VI


LISTA DAS FIGURAS<br />

Fig. 1 Localização dos cânions na bacia de Campos. 15<br />

Fig. 2 Mapa de localização da área de estudo. 16<br />

Fig. 3 Evolução esquemática da margem continental brasileira. 19<br />

Fig. 4 Carta estratigráfica da Bacia de Campos. 21<br />

Fig. 5 Seqüência Oligo-holocênica da Bacia de Campos. 24<br />

Fig. 6 Seção sísmica de Peres (1990) do talude da Bacia de Campos. 25<br />

Fig. 7 Sedimentação submarina no talude médio e inferior a sul do cânion São<br />

Tomé.<br />

Fig. 8 Distribuição <strong>das</strong> massas d’água. 32<br />

Fig. 9 Representação esquemática da circulação no Oceano Atlântico Sudoeste. 33<br />

Fig. 10 Distribuição <strong>das</strong> fácies sedimentares superficiais na bacia de Campos. 36<br />

Fig. 11 Mapa de localização <strong>das</strong> linhas <strong>sísmicas</strong>. 39<br />

Fig. 12 Padrões de configuração de fácies <strong>sísmicas</strong>. 41<br />

Fig. 13 Geometria externa e padrão de configuração sísmica. 43<br />

Fig. 14 Seção transversal do cânion Almte. Câmara . 44<br />

Fig. 15 Unidades <strong>sísmicas</strong> Ia e Ib. 47<br />

Fig. 16 Unidade sísmica II. 47<br />

Fig. 17 Unidades <strong>sísmicas</strong> III e IV. 48<br />

Fig. 18 Unidade sísmica V. 48<br />

Fig. 19 Seção sísmica 0214-107. 51<br />

Fig. 20 Seção sísmica 0214-110. 52<br />

Fig. 21 Seção sísmica 0214-113. 53<br />

Fig. 22 Seção sísmica 0214-0083. 56<br />

Fig. 23 Seção sísmica 0214-0082. 57<br />

Fig. 24 Seção sísmica 0214-0079. 58<br />

Fig. 25 Mapa da distribuição dos setores individualizados na área. 60<br />

VII<br />

Página<br />

Fig. 26 Mapa de localização <strong>das</strong> fraturas profun<strong>das</strong>. 61<br />

28


Fig. 27 Seção mostrando os falhamentos no talude. 62<br />

Fig. 28 Seção sísmica com detalhe dos pequenos falhamentos. 63<br />

Fig. 29 Seção sísmica com o detalhe os paleocânions e pequenos canais<br />

soterrados.<br />

Fig. 30 Resumo litológico da locação 515 do DSDP. 64<br />

Fig. 31 Mapa de localização <strong>das</strong> áreas de estudos pretéritos. 65<br />

Fig. 32 Seção sísmica S-N, detalhe <strong>das</strong> falhas que cortam o talvegue do cânion. 76<br />

VIII<br />

63


LISTA DAS TABELAS<br />

IX<br />

Página<br />

Tabela I Quadro resumo do sítio 515 do DSDP. 68<br />

Tabela II Quadro resumo do sistema turbidítico de mar profundo São Tomé. 69<br />

Tabela III Correlação <strong>das</strong> seqüências <strong>sísmicas</strong> e descontinuidades de diversos<br />

autores.<br />

Tabela IV Correlação <strong>das</strong> seqüências <strong>sísmicas</strong> e descontinuidades identifica<strong>das</strong> com<br />

as descrições DSDP 515 e Viana (1998).<br />

70<br />

73


AAF = Água Antártica de Fundo<br />

ACAS = Água Central do Atlântico Sul<br />

ACP = Água Circumpolar Profunda<br />

AIA =Água Intermediária da Antártica<br />

APAN = Água Profunda do Atlântico Norte<br />

AT = Água Tropical<br />

CB = Corrente do Brasil<br />

CNB = Corrente Norte do Brasil<br />

DSDP = Deep Sea Drilling Project<br />

LISTA DAS ABREVIATURAS<br />

GEOMAR = Operação de Geologia Marinha do PGGM<br />

LAGEMAR = Laboratório de Geologia Marinha<br />

Ma = milhões de anos<br />

m/ Ma = metros por milhões de anos<br />

PGGM = Programa Plurianual de Geologia e Geofísica Marinha<br />

s = segundos<br />

Sv = Sverdrup (unidade de transporte de massa = 106 m 3 /s)<br />

UFF = Universidade Federal Fluminense<br />

ups = <strong>unidades</strong> práticas de salinidade<br />

X


RESUMO<br />

A bacia de Campos caracteriza-se pela presença de feições indicativas de <strong>processos</strong><br />

sedimentares de grandes proporções, sejam estas decorrentes de fluxos de gravidade, atuação de<br />

correntes de fundo ou puramente tectônicas. Da mesma forma que presentes na superfície do<br />

fundo oceânico, estas também se encontram preserva<strong>das</strong> ao longo da coluna geológica e podem<br />

ser utiliza<strong>das</strong> na identificação dos <strong>processos</strong> sedimentares ao longo do tempo. Neste estudo foram<br />

identificados os principais <strong>processos</strong> sedimentares ocorridos durante a formação e evolução do<br />

cânion submarino Almirante Câmara com o auxilio de perfis sísmicos. A análise destes perfis<br />

permitiu o mapeamento dos principais refletores e posteriormente a divisão do pacote sedimentar<br />

em <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong>, e estas por sua vez foram correlaciona<strong>das</strong> com as seqüências deposicionais<br />

analisa<strong>das</strong> por outros autores na bacia. Foram identifica<strong>das</strong> cinco <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> limita<strong>das</strong> por<br />

cinco superfícies discordantes no talude da Bacia de Campos, entre estas superfícies foi<br />

reconhecido o Marco Cinza . A região do talude no qual está inserido o cânion foi subdividida em<br />

quatro setores que se diferenciam pelas suas assinaturas <strong>sísmicas</strong>, onde na porção do talude<br />

inferior é evidente a ocorrência de mobilização de sedimentos em massa. Na porção do talude<br />

superior os refletores tornam-se muitas vezes inexistentes devido à presença de grandes<br />

falhamentos. Diferentemente no talude médio o pacote sedimentar encontra-se melhor preservado<br />

sendo possível à identificação <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> e principais refletores. Este pacote é interpretado<br />

como sendo progradação de borda de plataforma onde o intenso fluxo de sedimentos terrígenos<br />

transbordou o limite do cânion propiciando uma agradação vertical ao longo do tempo<br />

concomitantemente com a evolução do cânion. Supõe-se que a construção do cânion iniciou-se<br />

logo após um evento erosivo no limite do Eoceno-Oligoceno.<br />

XI


ABSTRACT<br />

The Campos Basin is characterized by the presence of features that indicate sedimentary<br />

processes of large proportions, whether caused by gravitational flows, bottom currents or<br />

tectonics. These features are observed in the ocean floor as well along the geologic column and<br />

can be use in sedimentary processes identification. The main sedimentary processes occurring<br />

during the establishment and evolution of the Almirante Camara submarine canyon were<br />

identified using seismic lines. Interpretation of these lines allowed mapping the main reflectors<br />

and division of sedimentary package in seismic units. The units were correlated with depositional<br />

sequences observed by other authors in this basin. Five seismic units separated by unconformities<br />

were identified in the continental slope and among these unconformities were the Marco Cinza.<br />

The area of the lobe in which the canyon is located was divided in 4 different sections that can be<br />

distinguished by theirs seismic signature. In the slope it was evident the occurrence of mass<br />

wasting/mobilization. In the upper slope the reflectors are, frequently, inexistent due to the<br />

presence of intense faulting. In the middle slope the sedimentary package is well preserved and it<br />

is possible identification of main units and reflectors. This package is interpreted as<br />

progradacional due to intense flux of terrigenous sediments causing canyon overflow and vertical<br />

aggradation of the whole system. It is here proposed that the construction of this canyon has<br />

started after an erosive event that may have happened in the Eocen-Oligocen limit.<br />

XII


1- INTRODUÇÃO<br />

O fundo submarino atual da bacia de Campos é caracterizado pela presença de inúmeras<br />

feições indicativas de <strong>processos</strong> sedimentares, sejam estes decorrentes de fluxos de gravidade,<br />

atuações de correntes junto ao fundo ou puramente eventos tectônicos. Feições como estas<br />

encontram−se também preserva<strong>das</strong> ao longo da coluna geológica e podem ser utiliza<strong>das</strong> na<br />

identificação dos <strong>processos</strong> sedimentares ocorridos ao longo do tempo.<br />

A compreensão dos <strong>processos</strong> sedimentares e os depósitos formados por sua atuação tem<br />

sido objeto de diversos estudos (Figueiredo Jr. et al. 1982, Gorini et al. 1998, Viana, 1998,<br />

Viana et al. 2003), sua aplicação na área de petróleo permitiu o detalhamento de certas<br />

peculiaridades dos depósitos que não são possíveis resolver com sísmica ou perfurações. Neste<br />

sentido, o estudo dos cânions submarinos localizados no talude da bacia é de grande relevância,<br />

pois estes desempenham um papel importante nos <strong>processos</strong> de dispersão sedimentar terrígena e<br />

conseqüentemente na formação dos depósitos de mar profundo e dos grandes sistemas de leques<br />

submarinos. Estes, formados principalmente por turbiditos, constituem os principais reservatórios<br />

da Bacia de Campos.<br />

Dentre as feições mais marcantes da Bacia de Campos, encontra-se o Cânion Almirante<br />

Câmara (Brehme, 1984) que corta a borda da plataforma continental e pode ser acompanhado até<br />

1800 metros de profundidade. Por se tratar de uma feição do Oligoceno Superior que esteve ativa<br />

até o Quaternário e que representa a remoção e passagem de grande quantidade de sedimento<br />

para oceano profundo (Peres, 1990), foi escolhido como foco central desta dissertação.<br />

Esta pesquisa tem como objetivo caracterizar a área em torno do cânion Almirante<br />

Câmara identificando as principais <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong>, os <strong>processos</strong> sedimentares, a evolução do<br />

cânion e sua morfologia atual. Para tal, foi utilizada uma malha densa de linhas <strong>sísmicas</strong> de alta<br />

resolução que permitiu observar as relações de causa e efeito entre a formação do cânion e os<br />

<strong>processos</strong> de progradação sedimentar do talude. Além disso foi possível visualizar a geometria<br />

<strong>das</strong> seqüências sedimentares e <strong>das</strong> feições erosivas como paleo-canais e estruturas características<br />

de movimentos de massa.<br />

13


O talude da bacia de Campos é marcado pela presença de diversos cânions e canais<br />

submarinos (Fig. 1). Estes foram considerados por Brehme (1984) como vales pronunciados com<br />

perfil em forma de “V”, de relevo de centenas de metros, que ocorrem extensivamente no talude<br />

continental. Além dos cânions principais os cânions de menores dimensões foram agrupados em<br />

dois conjuntos principais: O grupo Sudeste e Nordeste de Cânions.<br />

O cânion Almirante Câmara pertence ao grupo Nordeste de cânions, este indenta a quebra<br />

da plataforma continental atual, desde a isóbata de 70 m. O Platô de São Paulo caracteriza-se<br />

nesta região por uma topografia irregular, decorrente da presença abundante dos diápiros, domos<br />

e cadeias de sal (Silva et al., 2001).<br />

O cânion foi pela primeira vez identificado durante a Operação GEOMAR XII, em 1979,<br />

quando foi mapeado desde a cabeceira, na plataforma continental, até cerca de 1800m de<br />

profundidade no talude, através de perfis batimétricos e sísmicos aproximadamente paralelos às<br />

curvas batimétricas. Na plataforma externa, junto à borda, o cânion encontra-se soterrado por<br />

cerca de 300m de sedimentos. Do talude superior até o limite da área mapeada, o cânion é<br />

proeminente e apresenta profundidade da ordem de 300 a 350m (Alves et al., 1980). No talude<br />

superior o cânion apresenta 4,5km de largura mostrando o flanco sul maior declive que o flanco<br />

norte. No talude inferior o cânion se torna mais simétrico, passando a ter perfil em forma de “U”<br />

e largura de 3,5km (Brehme, 1984).<br />

Na plataforma continental ocorre o canal de Grussaí, também ortogonal a linha de costa,<br />

estendendo-se até a isóbata de 30m. A continuidade deste canal em direção a leste, coincide com<br />

as cabeceiras do cânion Almirante Câmara, sugerindo que estes estivessem interligados em<br />

épocas de nível de mar baixo.<br />

14


Figura 1 – Mapa batimétrico com intervalo de contorno de 100m. Localização dos cânions da<br />

bacia de Campos (Viana, 1998).<br />

De acordo com Gorini et al. (1993) evidências <strong>sísmicas</strong> mostram que alguns cânions da<br />

bacia de Campos, entre eles o cânion Almirante Câmara, tiveram participação na construção <strong>das</strong><br />

15


seqüências progradantes do Leque Submarino de São Tomé, através do extravasamento lateral de<br />

fluxos de turbidez.<br />

Relações estratigráficas entre os cânions e sistemas de lobos associados, sugerem que o<br />

sistema ativo mais antigo parece ser o cânion São Tomé e observações de cânions soterrados na<br />

plataforma continental atestam que este fez parte do sistema de drenagem e que hoje é<br />

representado pelo rio Paraíba do Sul (Gorini et al., 1998).<br />

A base do talude e a parte mais rasa do platô de São Paulo são soterra<strong>das</strong> por aportes<br />

sedimentares da desembocadura do cânion Almirante Câmara. Um cone de deposição desviado<br />

para o norte é igualmente observado na desembocadura do cânion de São Tomé (Viana, 1998).<br />

2 - ÁREA DA PESQUISA<br />

2.1 - Localização<br />

A área em estudo localiza-se na bacia de Campos que é limitada a norte pelo alto de<br />

Vitória e a sul pelo alto de Cabo Frio (Fig. 2). Segundo Dias et al. (1990) a bacia situada no<br />

litoral do Estado do Rio de Janeiro, abrange uma área aproximada de 100.000 km² considerando<br />

a cota batimétrica de 3400m, como seu limite oriental. A porção submarina da bacia estende-se<br />

para leste, por toda a plataforma e talude continentais e parte da elevação continental, dominada<br />

pelo platô de São Paulo.<br />

Este estudo concentra-se especificamente no talude da bacia na área onde o cânion<br />

submarino Almirante Câmara, indenta a quebra da plataforma continental atual a partir da isóbata<br />

de 70 m (Silva, 2001).<br />

16


Figura 2 – Mapa de localização da área de estudo destacada pelo retângulo. Mapa batimétrico<br />

modificado de Gorini et al. (1998).<br />

Nesta região o talude continental apresenta uma encosta estreita, que se estende até<br />

profundidades até 1800m. O relevo caracteriza-se por uma declividade relativamente acentuada<br />

na porção superior (4 a 12º) e se atenua na parte inferior (1,5 a 2º). As inclinações do talude<br />

variam regionalmente condiciona<strong>das</strong> por diferenças no regime de sedimentação e por feições<br />

especificas. As cama<strong>das</strong> mergulham suavemente em concordância com o talude pouco inclinado<br />

(Alves, 1999).<br />

17


2.2 - Evolução Geológica da Bacia de Campos<br />

A evolução geológica da bacia de Campos compreende diferentes estágios, envolvendo o<br />

rifteamento de um supercontinente, a formação da crosta oceânica e o desenvolvimento do<br />

oceano Atlântico Sul. Sua origem foi dominada pelos esforços extensionais que romperam a<br />

crosta do Gondwana no Cretáceo Inferior criando um sistema de rift valleys.<br />

Assim como as demais bacias marginais leste brasileiras, a Bacia de Campos tem sua<br />

gênese relacionada à evolução tectônica do Oceano Atlântico. Asmus e Guazelli (1981)<br />

classificaram os estágios de evolução da margem continental brasileira em: estágio pré-rift valley,<br />

estágio rift valley, estágio proto-oceano e estágio oceânico (Fig. 3).<br />

O estágio pré-rift valley é representado por um significativo soerguimento, representado<br />

por um relevo que teria existido ao longo da margem. Essas áreas eleva<strong>das</strong> atuaram então como<br />

fonte de sedimentos para as bacias interiores que se desenvolviam nas porções periféricas aos<br />

altos.<br />

O estágio rift valley foi desenvolvido durante o Eo-Cretáceo e foi marcado por<br />

fraturamentos e abatimento da crosta e localmente, por vulcanismo. Neste se desenvolveram os<br />

grabens e horts, orientados segundo a direção SW/NE. Sendo estes limitados por falhamentos<br />

sintéticos e antitéticos. Neste estágio a sedimentação é fluvio-lacustrina, representada<br />

principalmente pelos sedimentos siliciclásticos e carbonáticos da Formação Lagoa Feia, que<br />

foram depositados em lagos tectonicamente controlados.<br />

18


Figura 3 – Evolução da margem continental brasileira (Asmus & Guazelli, 1981).<br />

Entende-se por proto-oceano a configuração paleogeográfica subseqüente à condição<br />

fluvio-lacustrina do estágio rift-valley, em que ocorrem as primeiras ingressões de um oceano<br />

incipiente. O processo de formação de rifts, acima discutido, determinou considerável afinamento<br />

e estiramento da crosta, do que se supõem tenha resultado, na margem então nascente entre o<br />

Brasil e a África, uma configuração alongada, relativamente estreita e abatida. Tal configuração,<br />

19


favorecida por condições climáticas adequa<strong>das</strong> (maior evaporação do que precipitação),<br />

determinou a formação da bacia evaporítica.<br />

No estágio oceânico, as margens continentais do tipo Atlântico originalmente liga<strong>das</strong><br />

durante os estágios iniciais da evolução, são separa<strong>das</strong> por distâncias crescentes devido a geração<br />

de piso oceânico. Tal separação é aumentada a partir da intrusão e extrusão continuada de magma<br />

basáltico através da cordilheira Mesoatlântica. Na bacia de Campos esse processo iniciou-se no<br />

Albiano-Cenomaniano. Estabeleceram-se também nesse estágio as principais feições<br />

morfológicas da margem continental e <strong>das</strong> bacias oceânicas adjacentes. Dentre estas cabe<br />

destacar: as províncias da margem continental (plataforma, talude e sopé) modela<strong>das</strong> pelos<br />

<strong>processos</strong> erosivos e construcionais; os lineamentos, provocados possivelmente, pelo menos em<br />

parte, pelas descontinuidades nas espessuras crustais, e as zonas de fratura oceânicas resultantes<br />

da movimentação lateral divergente do Brasil e da África; além de altos e elevações.<br />

Azevedo (2001) usando modelos paleogeográficos e paleoclimáticos enfatiza a tese da<br />

extensão marinha por sobre a região central e nordeste do Brasil no Albiano, posterior à<br />

fragmentação do Gondwana. Esse mar ligado ao Atlântico Norte e possivelmente ao Pacífico<br />

estaria ligado ao Atlântico Sul Central apenas pelo norte, tendo altiplanos a separá-los ao sul.<br />

A primeira carta estratigráfica da bacia foi elaborada por Schaller (1973), com base nas<br />

informações provenientes de poucos poços exploratórios. A estratigrafia da bacia de Campos está<br />

diretamente relacionada com a história da evolução e sedimentação da margem continental<br />

sudeste, que é caracterizada pela combinação de eventos tectônicos e inúmeros mecanismos de<br />

sedimentação (Fig. 4).<br />

O embasamento Pré-Cambriano apresenta natureza gnáissica, comparável aos aflorantes<br />

no Estado do Rio de Janeiro. A Formação Cabiúnas designa os derrames basálticos eocretáceos<br />

que constituem o assoalho do preenchimento sedimentar da bacia de Campos, caracterizando-se<br />

pela presença de basalto amigdaloidal cinza e castanho, organizado em derrames e níveis<br />

piroclásticos interestratificados com conglomerado polimítico cinza-esverdeado (Rangel et al.,<br />

1994). Estas rochas ígneas constituem o embasamento da bacia.<br />

20


Figura 4 – Carta estratigráfica da Bacia de Campos (Rangel et al., 1994).<br />

21


Como mencionado anteriormente os primeiros sedimentos depositados na bacia de<br />

Campos pertencem a Formação Lagoa Feia, que abrange um intervalo de tempo que vai do final<br />

do Neocomiano – Barremiano até o Albiano basal. A parte baixa da formação inclui<br />

conglomerados formados por fragmentos vulcânicos em grandes leques, areia de granulometria<br />

grossa à media, xistos ricos em matéria orgânica, e coquinas, definindo uma seqüência de<br />

sedimentos flúvio-lacustres (Silva et al., 2001). Os folhelhos pretos laminados calcíferos e<br />

margas, da parte superior dos ciclos, são as rochas geradoras de hidrocarbonetos na bacia. Seus<br />

biomarcadores característicos indicam deposição em lago salino alcalino (Mello et al., 1988).<br />

No topo da Formação Lagoa Feia Inferior estão depositados coquinas de ostracodes sobre<br />

os altos estruturais. Estas rochas se encontram no Membro Coqueiros e tem de 15 a 50m de<br />

espessura. O Membro Retiro é composto por espessas cama<strong>das</strong> evaporíticas contendo halita<br />

hialina e anidrita branca. Estas cama<strong>das</strong> estão remobiliza<strong>das</strong>, mostrando um padrão de<br />

estruturação (Rangel et al., 1994).<br />

Em contato concordante com a Formação Lagoa Feia se encontra a Formação Macaé que<br />

consiste de calcirruditos, calcarenitos e calcilutitos, representando os primeiros sedimentos<br />

essencialmente marinhos da bacia de Campos. Três membros constituem esta Formação: o<br />

Membro Quissamã, formado por espessos leitos de calcarenito e calcirrudito oolítico e detrital,<br />

localmente dolomitizado, denominado também de Macaé Inferior; o Membro Outeiro, composto<br />

por calcilutito creme, marga cinza-clara e folhelho cinza, por vezes com cama<strong>das</strong> isola<strong>das</strong> de<br />

arenitos turbidíticos (Arenito Namorado). Estes pelitos são conhecidos como Macaé Superior. O<br />

Membro Goitacás, que se caracteriza por conglomerados polimíticos e arenito mal selecionado, e<br />

subordinadamente por calcilutito branco e marga cinza é também conhecido como Macaé<br />

Proximal (Rangel et al., 1994).<br />

A evolução <strong>das</strong> fácies descritas acima foi controlada pelo contínuo basculamento da<br />

bacia, com a conseqüente formação de blocos falhados associados ao movimento do evaporito<br />

subjacente. Este condicionamento estrutural teve um importante papel nas fases deposicionais da<br />

Formação Macaé. No Membro Macaé Inferior, condicionou as fácies de calcarenito de alta<br />

energia aos altos e os calcilutitos aos baixos; no Macaé Superior, condicionou a deposição dos<br />

turbiditos às calhas forma<strong>das</strong> pelas falhas de crescimento (Figueiredo et al., 1983 apud Souza<br />

Cruz, 1995).<br />

22


O Grupo Campos foi proposto por Schaller (1973) como formação, para designar a seção<br />

clástico-carbonática sobreposta aos carbonatos da Formação Macaé, que compreende as<br />

Formações Ubatuba, Carapebus e Emborê.<br />

A Formação Macaé é recoberta em discordância pela Formação Ubatuba, que é<br />

constituída de folhelhos e leques submarinos arenosos, os quais preenchem cânions com<br />

conglomerados e areias turbidíticas (Bruhn & Walker, 1995 apud Alves, 2002). A parte inferior<br />

da Formação Ubatuba, foi individualizada no Membro Tamoios, no qual as rochas apresentam<br />

uma maior litificação em relação ao restante da unidade. Esta foi depositada em ambiente<br />

francamente marinho, batial e abissal.<br />

Intercalada com os pelitos da Formação Ubatuba, a Formação Carapebus é caracterizada<br />

por um arenito fino a conglomerático, resultante da atuação de correntes de turbidez em ambiente<br />

de talude e bacia oceânica, do Turoniano ao Holoceno. A Formação Emborê apresenta-se<br />

lateralmente interdigitada com a Formação Ubatuba e é composta por pelitos, especialmente<br />

folhelho cinza escuro e esverdeado, argila e marga cinza-clara, calcilutito e diamictito cinzento,<br />

que foram depositados em leques costeiros e plataforma carbonática, do Maastrichtiano (?) ao<br />

Holoceno (Silva et al., 2001). Foram individualizados três membros nesta formação: Membro<br />

São Tomé, Membro Siri e Membro Grussaí.<br />

Durante o Terciário, o aumento <strong>das</strong> taxas de sedimentação resultaram em uma intensa<br />

progradação da margem continental. Este período é caracterizado por atividades tectônicas que<br />

geraram mudanças estruturais e diversas discordâncias erosionais, principalmente, no<br />

desenvolvimento do Leque Submarino de São Tomé (Gorini et al., 1993). Foi então formada<br />

uma espessa seção sedimentar, depositada em ambiente marinho aberto de águas profun<strong>das</strong> e<br />

oxigena<strong>das</strong>, constituída de folhelhos, margas e localmente calcilutitos e turbiditos arenosos com<br />

espessuras variáveis. Estes turbiditos constituem os principais reservatórios dos campos gigantes<br />

de águas profun<strong>das</strong> da Bacia de Campos (Barracuda, Marlim e Albacora) (Souza Cruz, 1995).<br />

A partir do Neo-Oligoceno a taxa de sedimentação ultrapassou a taxa de subsidência, o<br />

que ocasionou uma rápida progradação terrígena com intenso bypass de sedimentos finos para<br />

águas profun<strong>das</strong> (Souza Cruz, 1995). Durante o Oligoceno Inferior, um importante evento<br />

transgressivo, foi responsável pela formação de uma camada condensada de folhelhos<br />

afossilíferos, denominada de Marco Azul (Rangel et al., 1994) (Fig. 5).<br />

23


Figura 5 – Seqüência Oligo-holocênica da Bacia de Campos. Morfologia do talude<br />

resultante da cunha progradante (Peres, 1990).<br />

O Mioceno foi marcado também por intensa progradação sedimentar na bacia. As<br />

oscilações eustáticas do período, alia<strong>das</strong> à tectônica do sal levaram ao desenvolvimento de uma<br />

seqüência bem espessa. No final deste período, ocorreu um evento de migração do sal por toda a<br />

bacia, desenvolvendo falhas de crescimento de grandes rejeitos, colapso de grabens e a formação<br />

de feições diapíricas proeminentes que atravessam os sedimentos miocênicos da bacia (Reis,<br />

1994).<br />

Durante o Mioceno Médio / Mioceno Superior, através de um rebaixamento significativo<br />

do nível do mar, foi formada uma discordância erosional, denominada de Marco Cinza, que<br />

demarca o fim da intensa progradação sedimentar (Fig. 6). Sobre esta discordância, formando<br />

feições de onlap, é identificada uma seqüência de carbonatos de plataforma, denominada<br />

Membro Grussaí da Formação Emborê (Viana et al., 1998).<br />

A partir do Quaternário, a borda da plataforma e do talude continental sofreram um<br />

período de intensa erosão associado à formação de cânions submarinos, ravinamentos e<br />

deslizamentos, observados até hoje. Toda a sedimentação terrígena resultante desta erosão se<br />

24


encontra depositada sobre o Platô de São Paulo e sobre o sopé continental adjacente (Alves,<br />

2002).<br />

Figura 6 – Seção sísmica do talude da Bacia de Campos mostrando o Marco Cinza e o Marco<br />

Azul (Peres, 1990).<br />

2.3 – Compartimentação Fisiográfica<br />

De acordo com a classificação e a nomenclatura de Heezen et al. (1959), distingue-se na<br />

margem continental da área de estudo, três subprovincias bem desenvolvi<strong>das</strong>: plataforma, talude<br />

e sopé. Destacam-se ainda feições como o platô de São Paulo, canais, cânions, leques e montes<br />

submarinos.<br />

A plataforma continental possui uma largura variável, sub-horizontal com um gradiente<br />

máximo de 1:1000, estendendo-se da face de praia até o limite com o talude continental na<br />

quebra da plataforma. Na margem sudeste apresenta uma tendência de alargamento em direção<br />

ao sul e ao norte chega a apenas 70 km de largura (Lima, 2003). A deposição contínua de<br />

25


sedimentos terrígenos e a subsidência térmica originaram uma espessa seqüência progradante,<br />

resultando numa plataforma larga com borda relativamente profunda e com suave transição para<br />

o talude. A plataforma apresenta vestígios da drenagem escavada em épocas de nível de mar<br />

rebaixado, num padrão transversal à linha de costa. Os vales soterrados têm expressão<br />

topográfica na borda da plataforma onde conectam-se com cânions no talude superior<br />

propiciando influxo intermitente de sedimentos (Silva et al,. 2001).<br />

O talude continental constitui uma encosta, em geral estreita, que na bacia de Campos<br />

apresenta largura em torno de 45km e descende até profundidades abaixo de 2000m. O relevo<br />

caracteriza-se por uma declividade relativamente acentuada na porção superior (4 a 12°) e se<br />

atenua na parte inferior (1,5 a 2°). As inclinações do talude variam regionalmente condiciona<strong>das</strong><br />

por diferenças no regime de sedimentação e por feições específicas (Silva et al,. 2001). Viana<br />

(1998) realizou um estudo detalhado do talude continental na região da bacia de Campos, e<br />

dividiu o talude em dois setores (norte e sul), tendo como referência o cânion submarino São<br />

Tomé. Cada setor possui características morfológicas distintas, resultantes dos <strong>processos</strong> de<br />

erosão (escorregamento de sedimentos e erosão regressiva). A norte do cabo de São Tomé o<br />

talude é mais íngreme (3,5º), enquanto que, ao sul na região de cabo Frio, ele é mais suave<br />

(1,24º).<br />

A passagem do talude para a elevação continental é marcada pelo desenvolvimento de<br />

uma zona intermediária, entre 2000m e 3200m com um gradiente suave (0,6º) e com uma<br />

topografia irregular. O platô de São Paulo estende-se por cerca de 1000km desde o sul da cadeia<br />

Vitória-Trindade até a dorsal de São Paulo, com largura que cresce no mesmo sentido de 125 até<br />

550km. Sua estruturação é controlada por deformações halocinéticas de uma extensa seqüência<br />

evaporítica, pois os domos salinos geram um relevo fortemente ondulado ou formam pequenos<br />

terraços com bor<strong>das</strong> escarpa<strong>das</strong>.<br />

2.4 - Sedimentologia e Geomorfologia<br />

De acordo com Silva et al. (2001) a margem continental na Bacia de Campos, incluindo o<br />

platô de São Paulo, possui três regiões geomorfologicamente distintas, a saber: 1) o setor sul,<br />

entre Cabo Frio e Macaé, 2) o setor central, entre Macaé e a foz do Rio Paraíba do Sul e, 3) o<br />

setor norte, que estende-se até o limite norte da Bacia, na latitude de Vitória.<br />

26


O setor sul apresenta um forte grau de erosão sendo caracterizado pela concavidade no<br />

perfil batimétrico do talude e pela presença de inúmeras ravinas que indentam uma região de<br />

quebra e paleo-quebras da plataforma continental em profundidades superiores a 200 metros.<br />

Nesta região destacam-se como feições, proeminente erosivas, o Grupo Sudeste de cânions<br />

submarinos. O Platô se apresenta mais profundo e é interrompido ao norte por curvas<br />

batimétricas na direção ENE-WSW e E-W (Figueiredo et al.,1982).<br />

O setor central mostra um caráter progradante com morfologia convexa, nesta região<br />

encontram-se os cânions do Grupo Nordeste, respectivamente de sul para norte: São Tomé,<br />

Itapemirim, Grussaí e Almirante Câmara. O platô de São Paulo apresenta topografia irregular<br />

devido aos diápiros, domos e cadeias de sal. Dois lineamentos importantes sul-norte, constituindo<br />

cadeias de sal, são representados pelo escarpamento externo do Platô que o limita e por uma<br />

cadeia interna ao Platô.<br />

No setor norte, a norte do Cânion Almirante Câmara, o talude continental se retrai e é<br />

erodido com exposição de ravinas forma<strong>das</strong> por deslizamentos submarinos. A quebra da<br />

plataforma continental passa a profundidades menores, em torno de 75 m delineando uma região<br />

reentrante da margem continental, onde volta a prevalecer a forma côncava da topografia do<br />

talude.<br />

Viana (1998) subdivide o talude continental na parte central da bacia em duas áreas<br />

distintas: um corredor de instabilidade e uma zona de acumulação de sedimentos e movimentos<br />

de massa. Na zona de acumulação de sedimentos a concavidade característica do talude superior<br />

passa no final do talude a um fundo submarino convexo. Ao contrario, no corredor de<br />

instabilidade, o perfil topográfico apresenta-se com uma menor concavidade no talude superior e<br />

menor convexidade no final do talude. O mesmo autor, posiciona o refletor datado do Mioceno<br />

Superior (Marco Cinza) como a base, no talude médio e inferior, de uma serie de deslizamentos e<br />

correlaciona estes depósitos de deslizamentos aos produtos destas movimentações.<br />

De acordo com Viana (1998) e Viana et al. (1998) a base da escarpa da quebra da<br />

plataforma representa um importante sitio deposicional de transbordamento <strong>das</strong> areias da<br />

plataforma e retrabalhamento por correntes de fundo. Estas areias apresentam granulometria fina<br />

a grossa ao sul do cânion de São Tomé e limpas e grossas ao norte do mesmo cânion. Estas se<br />

espraiam por sobre toda a superfície do talude superior e apresentam composição siliciclástica e<br />

bioclástica com alguma presença de glauconita e micas.<br />

27


Observações em testemunhos rasos indicam que no talude da bacia de Campos o<br />

Quaternário está representado por lamas siliciclásticas com presença discreta de carbonato e<br />

matéria orgânica. A pequena quantidade de estruturas primarias preserva<strong>das</strong>, os contatos bruscos<br />

inferior e superior, da gradação normal e inversa e do acamamento interno fino, sugerem que a<br />

sedimentação é dominada por correntes de turbidez em todo o talude superior (Caddah et al.,<br />

1998).<br />

O talude médio é caracterizado por apresentar uma crosta ferruginosa com areias finas,<br />

siliciclásticas e biogênicas, lamina<strong>das</strong>, e pela presença localizada de corais de águas profun<strong>das</strong>.<br />

Esses recobrem um pacote de lama arenosa e areia lamosa laminada com espessura entre metros a<br />

dezenas de metros (Caddah et al., 1998) rompido em alguns locais por <strong>processos</strong> de fluxo de<br />

massa (Viana et al., 1998) (Fig. 7). A camada superficial enriquecida em ferro com cerca de 10<br />

cm de espessura, provavelmente se deve à presença da Água Intermediária da Antártica (AIA)<br />

(Caddah et al., 1994). Essa massa d’ água, rica em oxigênio, provavelmente, causa a oxidação<br />

dos sedimentos de fundo, criando crostas arenosas enriqueci<strong>das</strong> em Fe (Viana et al., 1994).<br />

No talude inferior (abaixo de 1200m), onde ocorre a atuação da Água Profunda do<br />

Atlântico Norte (APAN), uma fina camada de vasa carbonática (


De acordo com Alves et al. (1980) testemunhos coletados na região do cânion Almirante<br />

Câmara mostraram a presença de um sedimento silto-argiloso bastante compactado, sugerindo<br />

que a deposição atual é praticamente nula.<br />

A calha turbidítica que brota do Canyon Almirante Câmara tem cerca de 3,5 km de<br />

largura por 150 m de profundidade na fisiografia atual e, desde seu solo até 100 m abaixo do<br />

fundo marinho, apresenta assinaturas de areias. Ela pode ser dividida em Calha Proximal e Calha<br />

Distal, separa<strong>das</strong> entre si por um lobo deposicional. Constata-se que a porção arenosa do sistema<br />

turbidítico é depositada em uma calha, que mostra em seu interior inúmeros canais que se<br />

entrelaçam. Este entrelaçamento contendo abundante areia média / grossa com intercanais<br />

também arenosos indica que o tipo de fundo marinho tem uma altíssima razão areia / lama,<br />

podendo ser descrito como um braidplain arenoso (Machado et al., 2004).<br />

Em Brehme (1984) um testemunho coletado no talvegue do cânion Almirante Câmara<br />

recuperou apenas lama compacta de cor cinza não havendo cobertura de lama fluida, comum em<br />

todo o talude continental da região, indicando a remoção desta por <strong>processos</strong> gravitacionais ou<br />

por correntes no fundo do cânion que não permitiram a sedimentação.<br />

Isto sugere que os cânions só foram significantemente ativos em condições de nível de mar baixo<br />

como as que prevaleceram durante a ultima glaciação, quando o rio Paraíba do Sul devia lançar<br />

sua carga diretamente no talude continental (Alves et al., 1980).<br />

29


A) Detalhe da parte superior do<br />

testemunho (profundidade de<br />

1602m) Superposição de uma<br />

vasa pelágica (Holoceno) e da<br />

crosta ferruginosa<br />

Vasa pelágica rica em nanofósseis<br />

calcários e foraminíferos plantônicos<br />

Areia amarela, muito fina rica em óxido<br />

de Fe, com laminações paralelas e<br />

ligeiramente ondula<strong>das</strong> marca<strong>das</strong> por<br />

intercalações de siltes argilosos (crosta<br />

ferruginosa)<br />

B) Representação esquemática<br />

de distribuição <strong>das</strong> fácies<br />

sedimentares sobre o<br />

talude.<br />

Figura 7 – Sedimentação submarina do talude médio e inferior a sul do cânion São Tomé<br />

(Modificado de Viana, 1998).<br />

30


2.5 - Características Oceanográficas<br />

Na margem continental brasileira e bacia do Brasil são encontra<strong>das</strong> massas d´água,<br />

superficiais, intermediárias, profun<strong>das</strong> e de fundo. As cama<strong>das</strong> mais rasas apresentam uma<br />

circulação geostrófica, em maiores profundidades a circulação é influenciada pela cadeia meso-<br />

oceânica, pela elevação do Rio Grande e pela cadeia de Walvis, que dividem o Atlântico Sul nas<br />

bacias da Argentina, do Brasil, de Angola e do Cabo respectivamente (Reid, 1989).<br />

O Atlântico Sul é caracterizado pelo empilhamento de diferentes massas de água e<br />

apresenta seu sistema próprio de giros e correntes de contorno e as águas que fluem através deste<br />

sistema são modifica<strong>das</strong> por advecção e mistura vertical (Lima, 2003) (Fig. 8).<br />

A Água Tropical (AT) representa a parte da massa de água quente e salina que ocupa a<br />

superfície do Atlântico Sul Tropical. É formada como conseqüência da intensa radiação solar e<br />

excesso de evaporação em relação a precipitação (Emilson, 1961 apud Silveira et al., 2000).<br />

Encontrada abaixo da AT a Água Central do Atlântico Sul (ACAS) encontra-se na<br />

região da picnoclina, sendo caracterizada por temperaturas maiores que 6ºC e menores que 20ºC<br />

e salinidades entre 34,6 e 36 ups. É formada por afundamento <strong>das</strong> águas na região de<br />

Convergência Subtropical e subseqüente espalhamento ao longo da superfície de densidade<br />

adequada ao ajustamento hidrostático. De acordo com Silveira et al. (2000) seu padrão de fluxo<br />

não é simples, pois ela entra como parte do giro subtropical, circula com as correntes do<br />

Atlântico Sul e Benguela e atinge a costa da América do Sul transportada pela corrente Sul<br />

Equatorial. Esta é bifurcada, sendo que uma parte flui em direção ao Equador e a outra toma a<br />

direção sul como parte da Corrente do Brasil (CB).<br />

A Água Intermediária da Antártica (AIA) é identificada por um núcleo de baixa<br />

salinidade e altos valores de oxigênio. Movimenta-se em direção ao Equador ao norte de 25ºS,<br />

apresentando-se como uma corrente de contorno oeste bem definida em níveis subpicnoclinicos,<br />

fluindo para sul em 28ºS. A bifurcação do fluxo da AIA ocorre para norte e para sul através da<br />

corrente de contorno Oeste Intermediária dentro da bacia de Santos (Boebel, 1999).<br />

Subjacente a AIA, a Água Profunda do Atlântico Norte (APAN) é caracterizada por<br />

valores de temperatura entre 3ºC e 4ºC e salinidades entre 34,6 – 35 ups, ocupando níveis entre<br />

1500m e 3000m, ao largo do Sudeste brasileiro. Esta se apresenta como um fluxo organizado<br />

31


fluindo para o sul ao longo do contorno oeste até cerca de 32ºS, onde pelo menos parte da<br />

corrente retorna ao Equador (Reid, 1989).<br />

Outra massa de água que contribui para a estrutura vertical do Atlântico Sul é a Água<br />

Circumpolar Profunda (ACP) que se caracteriza pela temperatura, salinidade e oxigênio<br />

inferiores e por apresentar mais nutrientes do que a APAN. Esta é derivada <strong>das</strong> águas do Pacífico,<br />

que penetram no Atlântico Sul através da passagem de Drake e estende-se para o norte com uma<br />

densidade similar à da APAN (Silveira, 2000).<br />

Concluindo o grupo de massas d’água que formam a coluna vertical do Atlântico Sul é<br />

encontrada a Água Antártica de Fundo (AAF). Sendo caracterizada por valores baixos de<br />

temperatura (inferiores a 2ºC), salinidade (inferiores a 34,9) e oxigênio dissolvido (220µM/kg)<br />

(Lima, 2003).<br />

Figura 8 – Distribuição <strong>das</strong> massas d’água e seu sentido de deslocamento na área estudada<br />

(Viana, 1998).<br />

32


A circulação oceânica na parte oeste do Atlântico Sul é dominada pela Corrente do Brasil<br />

(CB), que representa a corrente de contorno oeste associada ao Giro Subtropical do Atlântico Sul<br />

(Fig. 9). Originando-se ao sul da latitude de 10ºS, como ramo sul da Corrente Sul Equatorial<br />

(CSE) que se bifurca, formando também a Corrente Norte do Brasil (CNB) (Silveira et al. 1994).<br />

Em torno de 20,5ºS, a CB é meandrante e apresenta um transporte relativo nas<br />

profundidades em torno de 450-500m de 9,4 SV, contido em dois ramos, com um pico de<br />

velocidade geostrófica de superfície da ordem de 0,55m/s. Mais da metade do transporte está<br />

concentrado em profundidades menores de 200m (Signorini, 1978).<br />

A corrente de contorno oeste intermediária promove o escoamento da AIA. Na região da<br />

bacia de Campos, ela flui em intervalos entre 800 e 1500m, alcançando picos de velocidades em<br />

torno de 30 cm/s (Viana, 1998).<br />

Figura 9 - Representação esquemática da circulação no Oceano Atlântico Sudoeste ao nível de<br />

800m (Silveira et al., 2000).<br />

33


O sistema de circulação de águas profun<strong>das</strong> no Atlântico Sul é ativo, especialmente nas<br />

bacias mais ao sul e ao longo <strong>das</strong> margens continentais oeste <strong>das</strong> bacias. Como resultado do<br />

padrão geomorfológico <strong>das</strong> bacias, as correntes de fundo são parcialmente trapea<strong>das</strong> e movem-se<br />

num padrão de circulação em giros complexos ou estão localmente restritas a passagens estreitas<br />

que proporcionam o único meio de conexão entre as mesmas (Souza Cruz, 1995).<br />

Como resultado do padrão morfológico e hidrológico do Atlântico Sul, os depósitos<br />

sedimentares resultantes são depósitos contorníticos em lençóis (contourite sheets), extensos<br />

campos de on<strong>das</strong> de sedimento (sediment waves) e depositos associados a canais, incluindo entre<br />

eles os “leques contorníticos” (contourite fans) construídos nas saí<strong>das</strong> <strong>das</strong> passagens profun<strong>das</strong><br />

(Faugeres et al. 1993).<br />

2.6 - Processos Sedimentares<br />

O fundo submarino da bacia de Campos é caracterizado pela presença de várias feições<br />

indicativas de <strong>processos</strong> erosivos, sejam estes decorrentes de fluxos de gravidade, atuação de<br />

correntes junto ao fundo ou puramente tectônicos (Silva et al., 2001). Os cânions submarinos são<br />

identificados e foram separados em dois principais grupos: o grupo Nordeste e o grupo Sudeste<br />

de Cânions (Brehme, 1984).<br />

Diferenças morfológicas encontra<strong>das</strong> no talude continental da Bacia evidenciam uma<br />

variação fisiográfica ao longo desta. A porção norte que abrange o cânions do grupo Nordeste é<br />

caracterizada por um talude de perfil convexo, resultado da intensa progradação sedimentar que<br />

se processou nesta região. E na porção sul o talude é progressivamente mais côncavo e com<br />

<strong>processos</strong> de canibalização dominantes sendo caracterizada pelo predomínio de <strong>processos</strong><br />

sedimentares erosivos (Silva et al., 2001).<br />

Mèzerais et al. (1993) consideram dois tipos de <strong>processos</strong> na distribuição de sedimentos<br />

ao longo da margem continental: as correntes turbiditicas associa<strong>das</strong> a <strong>processos</strong> gravitacionais e<br />

as correntes de contorno. Foi observado nesta que durante os períodos de deposição, a<br />

acumulação de sedimentos é influenciada por uma migração lateral formando sistema de canal<br />

contornitico.<br />

34


Os mecanismos de transporte e deposição mais conhecidos para os sedimentos de águas<br />

profun<strong>das</strong> são de acordo com Souza Cruz (1995): deposição lenta por suspensão dos pelagitos e<br />

hemipelagitos; redeposição de sedimentos provenientes de águas rasas e talude por movimento<br />

gravitacional de massa, incluindo turbiditos, e redeposição de sedimentos de mar profundo<br />

subseqüente a remoção e retrabalhamento por correntes de fundo (contornitos).<br />

Segundo Castro et al. (1995) que realizaram um estudo detalhado <strong>das</strong> feições<br />

subsuperficiais indicativas de movimentos de massa os <strong>processos</strong> de deslizamento foram<br />

recorrentes na bacia de Campos, desde o Mioceno tardio até os dias atuais. Esteves (1996)<br />

concluiu que os <strong>processos</strong> de movimento de massa, foram responsáveis pela concavidade da<br />

superfície do fundo submarino atual na zona de acumulação de sedimento.<br />

Viana (1998) relatou que os <strong>processos</strong> sedimentares envolvidos na deposição sedimentar<br />

quaternária no sistema turbidítico de mar profundo São Tomé, são a sedimentação pelágica e<br />

hemipelágica e as correntes de turbidez.<br />

Segundo Machado et al. (2004) os grandes rebaixamentos do nível do mar que<br />

caracterizam o Pleistoceno e que estão conceitualmente associados à formação de turbiditos<br />

indicam a atividade atual do sistema. Estes turbiditos ou simplesmente, areias limpas,<br />

intraclásticas, de águas profun<strong>das</strong> ocorrem em cama<strong>das</strong> espessas (30 a 300 cm) e tem origem<br />

fluvial por enxurrada em fluxos hiperpicnais, com processo de transporte e deposição por choque<br />

de grãos, arrasto, tração e saltação subaquosos (fluxo de detritos arenoso) visto que o rio Paraíba<br />

do Sul continua fisicamente no vale inciso, encaixando-se no cânion Almirante Câmara e<br />

conectando-se ao sistema turbidítico adjacente. O mesmo autor utiliza a integração do mapa<br />

faciológico do fundo marinho com a carta cronoestratigráfica da bacia de Campos para evidenciar<br />

que atualmente se encontram em deposição a Formação Emborê clástica na plataforma<br />

continental interna e média, a Formação Emborê/membros Siri e Grussaí na plataforma<br />

continental externa, a Formação Ubatuba no talude e platô de São Paulo e a Formação Carapebus<br />

no platô de São Paulo (Fig. 10).<br />

Gonthier et al. (2003) em analises detalha<strong>das</strong> de perfis 3,5kHz e testemunhos<br />

demonstraram que os sedimentos do Quaternário Superior foram predominantemente depositados<br />

por <strong>processos</strong> de sedimentação pelágica e hemipelágica e por correntes de turbidez.<br />

A partir de observações realiza<strong>das</strong> no canal Columbia, sobre os mecanismos de formação<br />

dos corpos sedimentares profundos, Lima (2003) constatou que os <strong>processos</strong> sedimentares atuais<br />

35


envolvidos na construção destes sistemas são: movimentos de massa, correntes de turbidez,<br />

correntes de contorno e sedimentação pelágica/hemipelágica.<br />

Figura 10 - Distribuição <strong>das</strong> fácies sedimentares superficiais na Bacia de Campos. Detalhe do<br />

sistema turbidítico na desembocadura do cânion Almirante Câmara. (Machado et al., 2004).<br />

36


Conforme Stow & Piper (1984), parece existir uma continuidade entre os <strong>processos</strong><br />

operantes em águas profun<strong>das</strong>, fluxos gravitacionais, correntes de fundo e sedimentação de<br />

pelágicos. Os eventos de ressedimentação por exemplo, podem ter inicio em escorregamentos de<br />

sedimentos instáveis do talude e depois, por mistura com a água do mar, evoluir através dos<br />

<strong>processos</strong> de fluxo de detrito, turbidito de alta concentração e finalmente corrente de turbidez de<br />

baixa concentração. A cauda diluída <strong>das</strong> correntes de turbidez sofre deflexão pelas correntes<br />

marinhas, especialmente aquelas correntes de fundo regionais que seguem os contornos<br />

batimétricos, fazendo com que os fluxos talude abaixo gradem imperceptivelmente para correntes<br />

de fundo ao longo do talude. Também a sedimentação pelágica pode ser defletida da mesma<br />

forma pela ação <strong>das</strong> correntes de fundo, até mesmo as mais fracas.<br />

Viana et al. (1998) sugerem que, ainda atualmente ocorre uma contínua e significativa<br />

transferência de sedimentos da plataforma continental para o talude. Processo este intensificado<br />

por correntes termohalinas e pela a Corrente do Brasil com a formação de vórtices. Estes<br />

<strong>processos</strong> têm grande importância na acumulação de areias na quebra da plataforma e até o<br />

talude.<br />

Os cânions são considerados áreas de risco por terem a cabeceira muito instável e suas<br />

paredes estarem sujeitas a fraturas que podem provocar deslizamentos submarinos e correntes<br />

turbidíticas ao longo dos seus talvegues. Os leques evidenciam a ocorrência destes eventos. Ao<br />

longo da borda da plataforma existem evidencias de movimentação de sedimentos associados<br />

com fortes correntes de fundo (Gorini et al., 1998). Campos de on<strong>das</strong> de areia têm sido mapeados<br />

em muitos locais ao longo da quebra da plataforma, sugerindo que estas correntes de fundo são<br />

ativas em toda a borda da plataforma continental da bacia de Campos. Em muitas áreas fica claro<br />

que estas areias entram na parte superior do talude caindo em ravinas de baixo gradiente e<br />

alimentando o talude médio e inferior com sedimentos arenosos. Estes sedimentos atuais são<br />

alimentadores <strong>das</strong> cabeças dos cânions e muitas ravinas ao longo do talude superior (Gorini et al.,<br />

1998).<br />

Os <strong>processos</strong> sedimentares associados à formação desses cânions bem como de todo o<br />

Leque Submarino de São Tomé, deram origem a um talude tipicamente progradante, com uma<br />

morfologia lobada e com predomínio de seqüências homogêneas, deposita<strong>das</strong> acima do Marco<br />

Cinza. Abaixo deste ocorre uma seqüência sedimentar falhada com presença de blocos<br />

basculados, decorrentes da movimentação de sal.<br />

37


3 - METODOLOGIA<br />

3.1 – Dados Sísmicos<br />

Para a definição <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong>, <strong>processos</strong> sedimentares e idade do cânion foram<br />

interpreta<strong>das</strong> 24 seções de <strong>sísmicas</strong> multicanal, num total de aproximadamente 580 km. As<br />

seções foram processa<strong>das</strong> e cedi<strong>das</strong> pela GAIA Processamento de Dados Ltda. e encontram-se na<br />

área que compreende toda a extensão do cânion Almirante Câmara. As seções <strong>sísmicas</strong> foram<br />

cedi<strong>das</strong> com profundidade de três segundos em tempo duplo de reflexão a partir do nível do mar<br />

e se encontram dispostas em uma malha retangular com espaçamento médio entre si de três<br />

quilômetros (Fig. 11).<br />

O trabalho foi baseado na interpretação destas seções, na <strong>caracterização</strong> <strong>das</strong> feições<br />

morfológicas de fundo através da batimetria e na correlação com analises pretéritas dos dados de<br />

geologia de superfície. Na interpretação <strong>das</strong> linhas <strong>sísmicas</strong> foi utilizado o software Petrel<br />

Seismic Interpretation que permite a individualização e <strong>caracterização</strong> <strong>das</strong> diferentes <strong>unidades</strong><br />

<strong>sísmicas</strong> e dos refletores que as delimitam de acordo com a configuração interna dos refletores<br />

sísmicos. Procurou-se identificar mudanças laterais e verticais dos parâmetros de reflexão<br />

sísmica e suas formas externas, com associação aos <strong>processos</strong> sedimentares atuantes e os<br />

depósitos formados por estes. Desde que o padrão de reflexão representa um padrão de<br />

estratificação, pode-se inferir consideráveis informações dos <strong>processos</strong> de transporte, erosão e<br />

paleotopografia a partir <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> de fácies <strong>sísmicas</strong>, que em síntese é a descrição e<br />

interpretação geológica de parâmetros de reflexão sísmica.<br />

38


Figura 11 - Mapa de localização <strong>das</strong> linhas <strong>sísmicas</strong> cedi<strong>das</strong> pela GAIA Processamento de Dados<br />

Ltda. Mapa batimétrico modificado de Gorini et al., (1998).<br />

39


3.2 – Sismoestratigrafia<br />

A sismoestratigrafia ou estratigrafia sísmica é um método estratigráfico de interpretação<br />

de dados sísmicos, que permite a melhor compreensão da evolução tectono-sedimentar de uma<br />

bacia, mesmo que estes não estejam registrados somente em afloramentos de subsuperfície (Vail<br />

et al. 1977).<br />

A sismoestratigrafia considera as reflexões <strong>sísmicas</strong> como o resultado de contrastes<br />

geológicos de caráter temporal, isto é, com conotação cronoestratigráfica (Payton, 1977). No<br />

entanto não corresponde necessariamente a um contato litológico.<br />

Um conceito chave na interpretação de seqüências <strong>sísmicas</strong> é o paralelismo dos refletores<br />

às cama<strong>das</strong> e portanto, às superfícies físicas que separam os sedimentos de idades diferentes<br />

(Sangree & Widmier, 1979). Este conceito é ressaltado pela tendência de sedimentos<br />

estratificados terem grande continuidade lateral. Isto não implica que todos os estratos sejam<br />

cama<strong>das</strong> de composição uniforme; ao contrario, variações laterais são comuns dentro de uma<br />

seqüência depositada num determinado intervalo geológico.<br />

De acordo com Vail et al. (1977) as interfaces de reflexão sísmica correspondem às<br />

superfícies estratais ou às discordâncias. As superfícies estratais correspondem aos níveis de<br />

acamamento, constituindo paleosuperfícies de deposição praticamente síncronas em sua<br />

extensão, podendo, todavia, haver pequenas variações temporais. As discordâncias são<br />

superfícies de erosão ou não deposição e implicam em um intervalo cronoestratigráfico<br />

significativo, mas fisicamente ausente.<br />

Para a <strong>caracterização</strong> <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> sedimentares pode-se tomar como referência a<br />

configuração interna de refletores. Segundo Vail et al. (1977) as configurações internas mais<br />

comumente observa<strong>das</strong> são as paralelas/subparalelas, divergentes, progradantes, caóticas,<br />

transparentes e hummocky (Fig. 12).<br />

40


Figura 12 - Padrões de configurações de fácies <strong>sísmicas</strong> (Modificada de Vail et al., 1977).<br />

As configurações paralelas ou subparalelas indicam uma taxa de sedimentação uniforme<br />

entre os estratos, sobre uma superfície estável ou uniformemente subsidente. A configuração<br />

divergente pode indicar uma variação em área da taxa de sedimentação e/ou uma progressiva<br />

inclinação do substrato. As configurações progradantes podem ser dividi<strong>das</strong> em oblíquas, que<br />

indicam uma combinação de condições de elevado suprimento sedimentar, pouca ou nenhuma<br />

subsidência e nível de mar estável, ocorrendo em águas rasas com alta energia durante a<br />

deposição; ou sigmoidal que indica baixo suprimento sedimentar, uma subsidência contínua ou<br />

subida relativa do nível do mar. Uma única fácies sísmica pode apresentar características de<br />

progradante oblíqua e sigmoidal, indicando um ambiente de alta energia onde ocorre à<br />

alternância entre <strong>processos</strong> construtivos e de by pass de sedimentos, a esta se dá o nome de<br />

sigmoidal-oblíqua. Uma quarta configuração progradante é chamada shingled, caracterizada por<br />

sua pequena espessura e limites superior e inferior paralelos, sendo associada à deposição em<br />

águas rasas. As configurações caóticas consistem em reflexões discordantes e descontínuas,<br />

sugerindo arranjos desordenados <strong>das</strong> superfícies de reflexão, podendo indicar um ambiente de<br />

41


alta energia, onde os sedimentos sofrem deformações durante (e/ou após sua deposição). O<br />

padrão de configuração transparente são intervalos com ausência de reflexão, podendo indicar<br />

pacotes sedimentares intensamente redobrados ou litologias homogêneas demais para a resolução<br />

sísmica.<br />

A configuração hummocky, caracterizada por refletores descontínuos, irregulares,<br />

subparalelos, formando um padrão ondulado segmentado com terminações não-sistemáticas.<br />

Sendo interpretada como lóbulos de sedimentos interdigitados. Montiformas caracterizam feições<br />

deposicionais mais eleva<strong>das</strong> topograficamente em relação às cama<strong>das</strong> adjacentes, podendo ser o<br />

resultado de <strong>processos</strong> sedimentares, vulcânicos ou biogênicos (leques de águas profun<strong>das</strong>, lobos<br />

deposicionais de escorregamento associados a turbiditos, contornitos, recifes e outros tipos de<br />

construções) (Fig. 13).<br />

Um outro meio de <strong>caracterização</strong> é a observação da geometria de preenchimento, que é<br />

interpretada como a sedimentação em feições negativas no relevo da superfície deposicional,<br />

como: canais, cânions, calhas estruturais, sopé de talude, etc. Sangree & Widmier (1977),<br />

observaram associações sistemáticas de padrões de fácies <strong>sísmicas</strong> com determina<strong>das</strong> fácies<br />

deposicionais para os sedimentos clásticos.<br />

As fácies <strong>sísmicas</strong> de talude/fundo de bacia diferenciam-se em vários tipos em função da<br />

geometria e da configuração interna, quais sejam: lençol drapeado (sheet-drape), preenchimento<br />

de talude (slope-front fill), depósitos de leques em montiformas (mounded fan), elevações<br />

forma<strong>das</strong> por depósitos de corrente de fundo – contornitos – (mounded-contourite),<br />

preenchimento em onlap (onlap fill), preenchimento em onlap conjugado com montiformas<br />

(mounded-onlap fill) e preenchimento caótico (chaotic fill). Estes tipos de fácies <strong>sísmicas</strong><br />

caracterizam-se de acordo com a variação da intensidade de energia, bem como, o respectivo<br />

local de deposição.<br />

42


Figura 13 - Geometria externa e padrão de configuração interna de algumas fácies <strong>sísmicas</strong> em<br />

montiforma (Modificada de Vail et al., 1977).<br />

43


4 - RESULTADOS<br />

4.1 – Morfologia do Cânion Almirante Câmara<br />

A partir de observações da batimetria e da malha de registros sísmicos que cobre a área de<br />

estudo, foi possível identificar algumas características morfológicas gerais do cânion. Este<br />

apresenta direção NE-SW, 28 km de comprimento, um máximo de 340m de relevo e morfologia<br />

meandrante. Na borda da plataforma o cânion apresenta uma largura média, observada a partir<br />

dos dados batimétricos, de 1,5 km, pequeno desnível topográfico, fundo plano e paredes<br />

assimétricas com um perfil em forma de “V”. A partir do talude superior, alarga-se (3 km) e<br />

marca o aparecimento de um fundo de morfologia intensamente irregular e uma certa simetria nas<br />

paredes do vale que tem agora um perfil em forma de “U”. Gradiente abaixo, ocorre um<br />

estreitamento do vale do cânion que apresenta em média 2 km e volta a apresentar uma<br />

significativa assimetria, até o talude inferior onde se encontra soterrado.<br />

Tais considerações sobre a morfologia do cânion concordam com as observações de<br />

Machado et al. (2004) do profundo entalhamento, com perfil em “V”e a presença de um canal<br />

sinuoso no seu talvegue com a pronunciada endentação da cabeceira na plataforma continental,<br />

como mostrado na figura 14.<br />

Figura 14 – Seções transversais do cânion Almirante Câmara e do cânion Grussaí (Machado et<br />

al., 2004).<br />

44


4.2 – Caracterização Sísmica<br />

Para a <strong>caracterização</strong> <strong>das</strong> estruturas sedimentares encontra<strong>das</strong> na área de estudo, os<br />

atributos <strong>das</strong> fácies <strong>sísmicas</strong> mais utilizados foi a configuração interna de refletores e suas formas<br />

externas, por serem aqueles que melhor às definem. O reconhecimento e mapeamento <strong>das</strong> fácies<br />

é baseado em parâmetros definidos objetivamente, para isso fez-se uma análise dentro da<br />

unidade determinando as variações <strong>das</strong> características <strong>sísmicas</strong> que envolvem a diferenciação <strong>das</strong><br />

<strong>unidades</strong> e a descrição <strong>das</strong> fácies <strong>sísmicas</strong> para cada seqüência.<br />

4.2.1 – Descrição <strong>das</strong> Unidades Sísmicas<br />

A análise dos registros sísmicos revelou a presença de cinco <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> principais,<br />

separa<strong>das</strong> por discordâncias e por superfícies erosionais. As <strong>unidades</strong> foram enumera<strong>das</strong> a partir<br />

da base <strong>das</strong> seções e são separa<strong>das</strong> pelos refletores R1 a R5 respectivamente. Foram utilizados<br />

seis perfis sísmicos como exemplo para ilustrar as descrições que seguem. Eles foram<br />

selecionados de acordo com a sua localização e representatividade.<br />

Unidade I<br />

A unidade I mostra refletores descontínuos, paralelos a semiparalelos com zonas de maior<br />

ondulação. Podendo ser subdividida em duas sub<strong>unidades</strong> uma inferior (Ia) com refletores<br />

paralelos a descontínuos, caóticos e presença de feições de corte e preenchimento com pequenos<br />

canais e uma superior (Ib) com refletores bem estratificados. Portanto constitui uma unidade de<br />

refletores descontínuos e amplitude fraca com organização crescente de refletores paralelos para<br />

o topo (Fig. 15).<br />

Unidade II<br />

Está separada da unidade I pelo refletor R2 e apresenta refletores descontínuos<br />

semiparalelos. Esta unidade é interrompida por um refletor (R2’) bem marcado de amplitude<br />

muito alta que divide a unidade ao meio. Este refletor apenas ocorre na borda a sul do cânion, a<br />

45


norte está ausente, assim como nas proximidades do talude inferior, onde os refletores<br />

apresentam-se mais caóticos, com discreta ondulação. Nota-se um aumento da espessura da<br />

unidade na porção sul da área (Fig. 16).<br />

Unidade III<br />

Separada da unidade II pelo refletor R3, esta unidade apresenta reflexões descontínuas<br />

semiparalelas que se tornam mais ondula<strong>das</strong> em direção ao talude inferior, na direção leste da<br />

área, podendo apresentar uma configuração caótica e transparente. Esta unidade também<br />

apresenta diferenças significantes entre sua configuração a sul e a norte do cânion, a sul<br />

apresenta-se mais estratificada com refletores hummocky.<br />

Unidade IV<br />

A unidade IV é limitada na base pelo refletor R4, que apresenta uma assinatura distinta e<br />

com distribuição regional. A unidade ocorre em forma de lente e com aspecto transparente, com<br />

refletores localmente descontínuos e perturbados (Fig.17).<br />

Unidade V<br />

Os depósitos da unidade V consistem de refletores contínuos, paralelos e bem<br />

estratificados. Apresenta na porção sul pequenos canais soterrados e bem desenvolvidos. O<br />

refletor R5 correspondente ao contato <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> IV e V representa uma superfície plana de<br />

alta frequencia.<br />

Em síntese as descrições <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> revelam que em um panorama geral da área existe<br />

uma maior regularidade e continuidade dos refletores a sul do cânion Almirante Câmara.<br />

Enquanto, a norte deste, as reflexões aparecem mais ondula<strong>das</strong> e caóticas, por vezes mais<br />

transparentes também (Fig. 18).<br />

46


Figura 15 – Unidades <strong>sísmicas</strong> Ia e Ib.<br />

Figura 16 – Unidade <strong>sísmicas</strong> II, detalhe do refletor R2’.<br />

47


Figura 17 – Unidades <strong>sísmicas</strong> III e IV.<br />

Figura 18 – Unidade <strong>sísmicas</strong> V.<br />

48


Descrição dos Perfis Strike<br />

Perfil 0214 – 107<br />

É um perfil paralelo à costa, localizado na porção superior do talude. O talvegue do<br />

cânion se apresenta com as paredes em forma de “V” mostrando um vale escavado. São<br />

observa<strong>das</strong> fraturas que ocorrem em conjunto e tem provável relação com os <strong>processos</strong> de<br />

alargamento do cânion atuando como mecanismo de disparo dos escorregamentos internos ao<br />

vale. Observam-se to<strong>das</strong> as <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> previamente descritas bem representa<strong>das</strong>, assim<br />

como as discordâncias que as separam. A unidade I apresenta os refletores bem característicos<br />

com organização crescente dos refletores paralelos para o topo e exibindo as sub<strong>unidades</strong> Ia e Ib.<br />

O refletor R2’ se mostra bem evidente nesta seção separando a unidade II em duas porções no<br />

flanco sul. Podem-se observar ainda no flanco norte a configuração em forma de lente e a maior<br />

espessura da unidade IV em relação ao flanco sul do cânion (Fig. 19).<br />

Perfil 0214 – 110<br />

Este perfil também paralelo à margem continental, se encontra disposto no centro da<br />

extensão do cânion, no talude médio/inferior. Apresenta o talvegue do cânion assimétrico, em<br />

forma de “U” também com fraturas dispostas no vale de maneira conjunta, indicando a relação<br />

destas com eventos de escorregamentos. Observa-se neste perfil a presença de pequenos<br />

paleocanais cortando as <strong>unidades</strong> II e V no flanco sul do cânion, um destes paleocanais<br />

interrompe a continuidade <strong>das</strong> discordâncias R3 e R4, evidenciando o caráter erosivo que foi<br />

desenvolvido em um evento posterior ao que gerou as discordâncias. O perfil também apresenta<br />

to<strong>das</strong> as <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> previamente descritas onde se pode observar claramente a variação na<br />

configuração destas no flanco norte e no flanco sul do cânion, principalmente no que se trata da<br />

diminuição da espessura de tais <strong>unidades</strong> no flanco norte do cânion, menos na unidade III (Fig.<br />

20).<br />

49


Perfil 0214 – 113<br />

Este perfil se localiza no talude inferior e portanto na porção final do cânion, que mostra<br />

o talvegue em forma de “U” com uma pequena valeta escavada e fraturamentos que condicionam<br />

as suas abertura e evolução. O perfil ainda apresenta um canal secundário na porção sul da área<br />

estudada, com paredes em forma de “U”. Trata-se de uma feição erosiva atual que afeta a<br />

continuidade <strong>das</strong> reflexões da unidade V. As <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> e discordâncias são identifica<strong>das</strong><br />

apenas no flanco sul do cânion neste perfil, pois no flanco norte as reflexões se apresentam sem<br />

continuidade, muitas vezes caóticas (Fig. 21).<br />

50


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

S<br />

N<br />

0 1500m<br />

S N<br />

R5<br />

R4<br />

R3<br />

0 1500m<br />

R2’ III<br />

R2 II<br />

R1 Ia<br />

V<br />

R1 R2 R3 R4 R5<br />

Figura 19 – Seção sísmica 0214-107 paralela à margem continental, destacando o refletor R2’.<br />

Escala lateral, grau de impedância acústica.<br />

IV<br />

Ib<br />

51


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

S<br />

S<br />

0 1500m<br />

R5<br />

R4<br />

R3<br />

R2<br />

R1<br />

R2’<br />

0 1500m<br />

Detalhe - Figura 28<br />

III<br />

II<br />

Ia<br />

Ib<br />

V<br />

IV<br />

R1 R2 R3 R4<br />

Figura 20 – Seção sísmica 0214-110 paralela à margem continental, mostrando os refletores e as<br />

<strong>unidades</strong>, além dos pequenos canais. Escala lateral, grau de impedância acústica.<br />

R5<br />

N<br />

N<br />

52


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

S<br />

S<br />

0 1500m<br />

R5<br />

R4<br />

R3<br />

R2<br />

R1<br />

0 1500m<br />

III<br />

Ia<br />

II<br />

Ib<br />

V<br />

IV<br />

R1 R2 R3 R4 R5<br />

Figura 21 – Seção sísmica 0214-113 paralela à margem continental, mostrando as diferenças nas<br />

reflexões entre os flancos norte e sul do cânion. Escala lateral, grau de impedância acústica.<br />

N<br />

N<br />

53


Descrição dos Perfis Dip<br />

Perfil 0214 – 0083<br />

Localiza-se em uma posição perpendicular à margem continental, disposto quase<br />

inteiramente sobre o flanco norte do cânion, estendendo-se desde a plataforma até o platô de São<br />

Paulo. Mostra os quatro setores individualizados quanto às características e ao comportamento<br />

dos refletores sísmicos bem definidos. Apresenta dois grandes falhamentos profundos na quebra<br />

da plataforma que afetam as reflexões <strong>sísmicas</strong> e impedindo a identificação <strong>das</strong> <strong>unidades</strong><br />

<strong>sísmicas</strong>. Neste a unidade III apresenta um espessamento em direção a leste e a unidade IV revela<br />

mais claramente sua forma em lente. A porção leste é evidenciada por blocos rotacionados e<br />

pequenas falhas lístricas que mostram relação com eventos de escorregamentos e movimentos de<br />

massa caracterizados pelas reflexões caóticas. No talude inferior, observa-se o vale do cânion em<br />

um corte logitudinal onde as reflexões <strong>sísmicas</strong> encontram-se descontínuas e caóticas (Fig. 22).<br />

Perfil 0214 – 0082<br />

Encontra-se disposto sobre o vale do cânion, estendendo-se desde a plataforma até o platô<br />

de São Paulo. Observa-se que a unidade III apresenta um espessamento em direção a leste. No<br />

talude inferior, o perfil é marcado por um escarpamento de grande porte evidenciando a<br />

passagem para o talvegue do cânion, a partir desta queda abrupta na declividade o perfil está<br />

caracterizado por uma grande massa de blocos rotacionados composto por reflexões caóticas e<br />

desordena<strong>das</strong> e ainda falhas lístricas, feições estas indicativas de movimento de sedimentos em<br />

massa (Fig. 23).<br />

Perfil 0214 – 0079<br />

Perfil perpendicular à margem continental, localizado sobre o flanco sul do cânion,<br />

estendendo-se desde a quebra da plataforma até a base do talude continental. O cânion Almirante<br />

Câmara aparece discretamente no inicio do perfil. Apresenta dois grandes falhamentos profundos<br />

no talude médio, a partir dos quais as <strong>unidades</strong> I e II e os refletores R1 e R2 não são mais<br />

54


identificados, devido à presença de um pacote composto por refletores de alto grau de<br />

impedância acústica. A unidade IV apresenta um aumento na espessura em direção ao leste. No<br />

talude inferior, observa-se o vale de um canal secundário em que um escarpamento evidencia a<br />

ocorrência de eventos de escorregamentos e movimentos de massa (Fig. 24).<br />

55


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

W E<br />

W<br />

0 1500m<br />

0 1500m<br />

A<br />

B<br />

C D<br />

R4<br />

R5<br />

R3<br />

R2<br />

R1<br />

R1 R2 R3 R4<br />

Figura 22 – Seção sísmica 0214-0083 transversal à margem continental, mostrando os quatro setores individualizados na área. Escala<br />

lateral, grau de impedância acústica.<br />

R5<br />

E<br />

56<br />

56


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

W<br />

0 1500m<br />

W<br />

0 1500m<br />

A<br />

B<br />

C D<br />

R5<br />

R4<br />

R3<br />

R2<br />

R1<br />

R1 R2 R3 R4<br />

Figura 23 – Seção sísmica 0214-0082 transversal à margem continental, mostrando os quatro setores individualizados na área. Escala<br />

lateral, grau de impedância acústica. 57<br />

E<br />

E<br />

R5<br />

57


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

W E<br />

E<br />

W<br />

0 1500m<br />

0 1500m<br />

B<br />

R1<br />

R2<br />

C D<br />

R5<br />

R4<br />

R3<br />

R1 R2 R3 R4<br />

Figura 24 – Seção sísmica 0214-0079 transversal à margem continental, mostrando três dos quatro setores individualizados na área.<br />

Escala lateral, grau de impedância acústica. 58<br />

R5<br />

WE<br />

WE<br />

58


A análise dos perfis sísmicos transversais à margem continental, perfis dip, permitem<br />

individualizar quatro setores distintos na área estudada, quanto às características e ao<br />

comportamento dos refletores sísmicos são estes A, B e C e D (Fig. 25). O setor A está localizado<br />

na plataforma continental, região mais a oeste da área em estudo, o setor B se estende desde a<br />

quebra da plataforma até o talude superior, o setor C abrange o talude médio e o setor D no<br />

talude inferior, localizado na porção leste da área.<br />

O setor A apresenta refletores descontínuos semiparalelos que são interrompidos por<br />

grandes falhamentos profundos tornando as reflexões irregulares e muitas vezes simplesmente<br />

inexistentes. Essas fraturas apresentam-se alinha<strong>das</strong> na direção NE-SW e acompanham toda a<br />

extensão na área estudada.<br />

No setor B o pacote sedimentar encontra-se preservado e os refletores sísmicos são<br />

visíveis, no entanto, não é possível a identificação <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong>, pois estes refletores não<br />

assumem as mesmas características utiliza<strong>das</strong> para diferenciação <strong>das</strong> <strong>unidades</strong>.<br />

No setor C o pacote sedimentar apresenta-se bem preservado, onde as <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong><br />

são facilmente identifica<strong>das</strong> assim como os refletores e as descontinuidades principais, o que não<br />

ocorre nos outros setores onde estas <strong>unidades</strong> aparecem parcial ou inteiramente desconfigura<strong>das</strong>.<br />

No setor D os refletores tornam-se caóticos e as <strong>unidades</strong> transparentes. São observados<br />

também nesta porção pequenas falhas e falhas lístricas de grande porte. Também aqui elas se<br />

encontram alinha<strong>das</strong> na direção NE-SW, assim como as grandes fraturas, alem de dobras<br />

compressivas e blocos rotacionados, dificultando e tornando pouco confiável a identificação <strong>das</strong><br />

<strong>unidades</strong> e dos refletores principais.<br />

59


Figura 25 – Mapa da distribuição dos setores individualizados na área.<br />

60


4.2.2 – Estruturas Identifica<strong>das</strong><br />

No contexto da área investigada foram observa<strong>das</strong> estruturas de caráter sedimentar e<br />

tectônico, dentre as quais estão os falhamentos mais profundos, falhas de crescimento superficiais<br />

e falhas lístricas, falhamentos associados aos flancos dos cânions, além dos canais e<br />

paleocânions.<br />

Os falhamentos mais profundos são mais evidentes no talude superior e afetam to<strong>das</strong> as<br />

<strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> descritas que são interrompi<strong>das</strong> perdendo suas características de formação.<br />

Essas fraturas apresentam-se alinha<strong>das</strong> na direção NE-SW e acompanham toda a extensão na área<br />

estudada (Fig. 26). E também foram relata<strong>das</strong> por Reis (1993) e Caddah et al. (1998) (Fig. 27).<br />

Figura 26 – Mapa de localização <strong>das</strong> fraturas profun<strong>das</strong>.<br />

61


Figura 27 – Seção sísmica multicanal mostrando os extensos falhamentos no talude continental a<br />

sul do cânion São Tomé. MU = Descontinuidade do Mioceno Superior; PW = Cunha<br />

progradante. Modificada de Caddah et al. (1998).<br />

As pequenas falhas lístricas estão localiza<strong>das</strong> no talude inferior. E o outro tipo de<br />

falhamento comum na área são as falhas presentes nas bor<strong>das</strong> do cânion, que ocorrem geralmente<br />

em conjunto. Ambas, apresentam forma côncava (Fig. 28).<br />

Os paleocânions e pequenos canais soterrados são observados em toda a extensão da área<br />

estudada. Esses canais apresentam tamanho, forma e padrão de preenchimento variável. No<br />

entanto, a maioria deles tem grande continuidade de oeste para leste, convergindo para o sopé<br />

continental (Fig. 29).<br />

62


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

W<br />

0 1200m<br />

Figura 28 - Seção sísmica com detalhe dos pequenos falhamentos.<br />

TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

S N<br />

0 600m<br />

Figura 29 – Seção sísmica mostrando em detalhe os paleocânions e pequenos canais soterrados.<br />

Localização deste detalhe na Figura 20.<br />

E<br />

63


5 – DISCUSSÃO<br />

5.1 - Correlação da Caracterização Sísmica com os Resultados do DSDP 515<br />

No presente trabalho utilizou-se como referência para a interpretação e denominação <strong>das</strong><br />

seqüências o furo litológico do Deep Sea Drilling Project (DSDP) de número 515, o único no sul<br />

da bacia do Brasil. Situado nas coordena<strong>das</strong> 26°14’S e 36°30’W (Fig. 30), este poço alcançou<br />

636m de profundidade em relação ao fundo do mar, penetrando três discordâncias ou hiatos<br />

litológicos e quatro seqüências sedimentares (Fig. 31). A seção sedimentar foi divida pelos<br />

autores em três <strong>unidades</strong> principais, do topo para a base (Tabela I).<br />

Figura 30 – Resumo litológico da locação 515 do DSDP (Barker et al., 1983).<br />

64


Figura 31 - Mapa de localização da área de estudo deste trabalho, Viana (1998), Lima (2003),<br />

65<br />

Artusi (2004) e do furo DSDP 515.


De acordo com Barker et al. (1983) a unidade 1 (superior) apresenta espessura de 180m e<br />

é composta por lamas terrígenas marrons acinzenta<strong>das</strong> do Mioceno Médio ao Quaternário. Sua<br />

razão média de sedimentação está entre 20m/Ma a 30m/Ma. Contem cama<strong>das</strong> ricas em<br />

foraminíferos calcários e outras em nanofósseis. Esta camada apresenta um contato abrupto com<br />

a subunidade 2a, que é composta por lamas silicosas, cinza esverdea<strong>das</strong> escuras e lamitos com<br />

espessura de 351m e idade entre o Oligoceno Superior e o Mioceno Médio. Essa subunidade<br />

apresenta mais de 15% de fragmentos de radiolários, diatomáceas e espículas de esponja e<br />

horizontes finos com mais de 10% de material calcário. A bioturbação aumenta em direção a<br />

base, bem como as estruturas sedimentares de pequena escala, indicando circulação de fundo<br />

variável. Um hiato deposicional com 5 Ma de duração ocorre a 167m de profundidade.<br />

A unidade 2b, oligocênica, é formada por lamitos terrígenos cinza esverdeados escuros<br />

com 84m de espessura. Diferencia-se da subunidade 2a pela ausência de microfósseis silicosos e<br />

pela ocorrência mais freqüente de lâminas claras de nanofósseis que se apresentam altera<strong>das</strong> para<br />

chert em sua base. São relata<strong>das</strong> indicações de flutuação <strong>das</strong> correntes de fundo, incluindo a<br />

alternância entre foraminíferos bentônicos e calcários restritos. A razão média de sedimentação é<br />

entre 10 m/Ma e 50 m/Ma. O hiato de 22 Ma entre a subunidade 2b e a unidade 3, estende-se a<br />

sul da bacia do Brasil e favorece o conceito do ingresso da AABW no limite Eoceno/Oligoceno.<br />

A unidade 3 apresenta espessura de 20m e é formada por lamitos zeolíticos calcários<br />

endurecidos do Eoceno Inferior. A discordânica entre as <strong>unidades</strong> 2 e 3 é marcada por depósitos<br />

residuais de 3m formados por quartzo, dentes de peixe, glauconita, biotita e minerais pesados,<br />

com bioturbação comum, cama<strong>das</strong> paralelas, laminações cruza<strong>das</strong> e ripples maks.<br />

Os estudos sísmicos permitiram a identificação de cinco seqüências <strong>sísmicas</strong><br />

denomina<strong>das</strong>, da base para o topo, de I, II, III, IV e V e quatro discordâncias defini<strong>das</strong>, da base<br />

para o topo , como DI, DII, DIII e DIV. Essas discordâncias são correlaciona<strong>das</strong> com as<br />

discordâncias Paleoceno-Eoceno, Eoceno-Oligoceno, Oligoceno-Mioceno e Mioceno Médio-<br />

Mioceno Superior respectivamente (Gamboa et al., 1983).<br />

A discordância DI, limite superior da seqüência I, marca uma mudança distinta no caráter<br />

sísmico dos sedimentos acima e abaixo dela. Essa foi definida através dos refletores de alta<br />

amplitude que truncam as cama<strong>das</strong> da seqüência I que, por sua vez é caracterizada por reflexões<br />

internas subparalelas a paralelas de amplitude relativamente baixa, as quais terminam contra uma<br />

superfície com maior inclinação, em onlap nas bor<strong>das</strong> de altos do embasamento. Esses onlaps e<br />

66


preenchimentos na base da seqüência sugerem deposição de turbiditos distais e sedimentação<br />

hemipelágica.<br />

A seqüência II é definida entre duas discordâncias DI e DII. Essa ultima corresponde ao<br />

contato entre a unidade 3 e a subunidade 2b, representando o hiato de 22 Ma entre o Eoceno<br />

Inferior e o Oligoceno Médio. A DII é uma superfície regional que representa o maior evento<br />

erosivo na parte sul da bacia do Brasil. Esta seqüência é acusticamente mais transparente que a<br />

seqüência abaixo e é caracterizada por reflexões subparalelas fracas e pouco contínuas.<br />

A discordância DIII representa uma superfície plana que corresponde em profundidade<br />

com o contato entre as sub<strong>unidades</strong> litológicas 2a e 2 b. Acima desta são observa<strong>das</strong> reflexões<br />

hummocky, correspondem à base da subunidade 2a, onde clastos, dobras sedimentares e marcas<br />

ondula<strong>das</strong> indicam um relevo gerado pelas correntes de fundo transportando um aporte elevado<br />

de sedimentos. A seqüência III (subunidade 2b) apresenta refletores contínuos e fortes.<br />

A seqüência IV foi definida entre as discordâncias DIII e DIV. Ela em geral é<br />

acusticamente transparente, exceto por algumas reflexões caóticas fortes em sua base. A<br />

discordância DIV separa as seqüências IV e V e foi correlacionada ao limite entre a unidade 1 e a<br />

subunidade 2a. Ela representa o hiato Mioceno Médio-Mioceno Superior. A seqüência V, entre a<br />

discordância IV e a superfície de fundo, é em geral acusticamente transparente, exceto por alguns<br />

refletores fortes observados na sua base.<br />

67


Tabela I– Quadro resumo do furo 515 do DSDP (Lima, 2003).<br />

68<br />

68


Viana et al. (2003) realizaram uma comparação semelhante aplicando os resultados<br />

obtidos na pesquisa sobre a porção distal do sistema turbidítico de São Tomé (Viana, 1998) sobre<br />

as descrições do DSDP. Em Viana (1998) foram identifica<strong>das</strong> três <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> I, II<br />

(subdividida em IIa e IIb) e III (subdividida em IIIa, IIIb e IIIc). Sendo estas separa<strong>das</strong> entre si<br />

por descontinuidades erosivas (R1, R1a, R2 e R3). A tabela II resume as descrições destas<br />

<strong>unidades</strong>.<br />

Tabela II – Quadro resumo do Sistema turbidítico de mar profundo São Tomé a parir de<br />

descrições de Viana (1998), modificado de Lima (2003).<br />

69


A tabela III mostra a correlação realizada por Viana et al. (2003) entre as maiores<br />

seqüências <strong>sísmicas</strong> e discordâncias na porção sudeste da bacia do Brasil identifica<strong>das</strong> por Viana<br />

(1998) e com trabalhos anteriormente publicados.<br />

Tabela III – Correlação <strong>das</strong> seqüências <strong>sísmicas</strong> e descontinuidades identifica<strong>das</strong> por diferentes<br />

autores com as descrições DSDP 515 (Modificado de Viana et al. 2003).<br />

Apesar da distância entre as áreas de trabalho dos demais autores foi possível comparar e<br />

correlacionar os resultados do presente trabalho com a tabela de correlação de Viana et al. (2003)<br />

(Tabela IV).<br />

A descontinuidade R4, que marca o limite entre as <strong>unidades</strong> III e IV descritas neste<br />

trabalho, é representada por uma superfície muito irregular com depressões erosivas, e pode ser<br />

correlacionada com a descontinuidade R2 de Viana (1998) e conseqüentemente com a<br />

70


Discordância IV do sítio 515 do DSDP. Provavelmente esta descontinuidade (R4) corresponde<br />

em idade ao Marco Cinza.<br />

Alguns pontos principais evidenciam melhor esta correlação, um deles é a concordância<br />

entre as profundidades de ocorrência do refletor R4 e do Marco Cinza, identificado por Peres<br />

(1990) e Caddah et al. (1998) no pacote sedimentar do talude da bacia de Campos a 0,6 segundos<br />

de profundidade a partir do fundo oceânico. Outro ponto a ser considerado é o caráter e a<br />

espessura da unidade acima deste refletor, que de acordo com Viana (1998) mostra transparência<br />

a refletores caóticos e descontínuos gradando em direção ao fundo submarino para refletores<br />

bem estratificados, o que corrobora com as descrições <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> IV e V, identifica<strong>das</strong> neste<br />

trabalho e que se encontram logo acima do refletor R4. Além do caráter do próprio refletor R4<br />

que condiz com as descrições realiza<strong>das</strong> por Silva (1992), Viana (1998) e Artusi (2004), que<br />

descrevem o Marco Cinza como um refletor positivo de boa assinatura e distribuição regional,<br />

com característica marcadamente erosiva. As idades <strong>das</strong> descontinuidades, representa<strong>das</strong> pelos<br />

refletores R2, R3 e R5 foram propostas a partir do arcabouço estratigráfico do sistema como: R2,<br />

limite Eoceno-Oligoceno; R3, limite Oligoceno-Mioceno e R5, Plioceno Superior.<br />

A unidade I, de idade provavelmente paleocênica-eocênica, apresenta espessura média de<br />

0,5s a 0,7s e é caracterizada por apresentar reflexões descontínuas e amplitude fraca com<br />

organização crescente de refletores paralelos para o topo. Esta unidade se correlaciona com a<br />

unidade I descrita por Viana (1998) como hemipelágica com ação de correntes de fundo como<br />

<strong>processos</strong> sedimentares atuantes.<br />

A unidade II, tem uma espessura de 0,5s a 0,3s. A norte do cânion observa-se um<br />

estreitamento desta unidade, onde ela se apresenta com menor espessura, e mostrando refletores<br />

ondulados com transparência aparente, em contrapartida, a sul do vale do cânion esta se apresenta<br />

mais espessa com refletores subparalelos e semicontínuos, e dividida por um refletor evidente e<br />

bem marcado R2’. Este refletor apenas aparece na porção a sul do vale do cânion. Faz-se<br />

associação desta unidade com a unidade IIa descrita por Viana (1998), onde a sedimentação<br />

principalmente terrígena ocorreu sobre a ação de fortes correntes.<br />

A unidade III com espessura de 0,2s apresenta a norte do cânion refletores descontínuos<br />

mais irregulares, muitas vezes caóticos e a sul do cânion esta mostra cama<strong>das</strong> semiparalelas.<br />

Viana (1998) associa estas características a uma alta razão de sedimentação sobre a influencia de<br />

<strong>processos</strong> gravitacionais, como fluxo de detritos e correntes de turbidez.<br />

71


A unidade IV com espessura de 0,25s em média, apresenta reflexão transparente com<br />

alguns poucos refletores caóticos. Esta unidade se correlaciona diretamente com a unidade IIIb<br />

relatada por Viana (1998) que descreve fluxos de massa e provavelmente fluxos de detritos. O<br />

padrão lenticular desta indica provavelmente a deposição por fluxos de massa mais fluidizados.<br />

A unidade V apresenta espessura média de 0,6s, com refletores bem estratificados. Esta<br />

pode ser correlacionada com a unidade IIIc de Viana (1998) que sugere a ocorrência de uma<br />

sedimentação terrigena de dinâmica aplainadora, para justificar estes depósitos.<br />

72


Tabela IV - Correlação <strong>das</strong> seqüências <strong>sísmicas</strong> e descontinuidades identifica<strong>das</strong> com as descrições DSDP 515, Viana (1998), Silva<br />

(1992) e Artusi (2004) (Modificado de Viana et al. 2003).<br />

73<br />

73


5.2 – Evolução da Margem Continental na Área de Estudo<br />

Partindo da correlação com os trabalhos anteriores e juntamente com as observações <strong>das</strong><br />

seções <strong>sísmicas</strong> foi possível propor um modelo de evolução para o talude onde se encontra o<br />

cânion Almirante Câmara. Neste contexto, a discordância representada pelo refletor R4<br />

representa um guia para a compreensão desta evolução. Este refletor, pela sua natureza erosional<br />

e ampla distribuição geográfica na área, apresenta aspectos sísmicos marcantes e foi<br />

correlacionada a eventos regionais do talude, mapeado mais a sul por Viana (1998).<br />

A localização deste refletor a cerca de 0,6s a 0,8s em tempo duplo de profundidade na<br />

porção inferior do talude nordeste, sua natureza erosiva truncando o topo da unidade subjacente,<br />

leva as características do Marco Cinza, como descritas por Silva (1992). Deste modo, toda a<br />

seqüência sedimentar mapeada abaixo de R4 deve corresponder a progradação oligo-miocênica<br />

do sistema turbidítico de mar profundo São Tomé. Assim, a continuidade desse refletor para<br />

nordeste, sob o talude no cânion Almirante Câmara, sugere que estes eventos progradacionais<br />

estendem-se para a área de ocorrência do cânion.<br />

Quanto a progradação pós-Marco Cinza, Gorini et al. (1993) discutem sua forma de<br />

cunha sedimentar restrita ao talude superior/médio, e sustentam que os principais eixos dessa<br />

progradação convergem para a região de maior protuberância e simetria morfológica do leque<br />

superior, ao largo dos cânions São Tomé e Almirante Câmara.<br />

Levando em consideração estas observações e a geomorfologia observada no cânion,<br />

entende-se que o mesmo se desenvolveu em função da progradação do talude continental, de<br />

modo que o grande aporte de terrígenos resultou em fluxos não estritamente canalizados no<br />

cânion, determinando uma evolução temporal caracterizada por <strong>processos</strong> de agradação vertical<br />

na coluna sedimentar.<br />

De acordo com Viana et al. (2003) no Oligoceno Superior, houve uma queda do nível do<br />

mar e o fundo da bacia foi recoberto por depósitos contorníticos na porção média e inferior do<br />

talude. Portanto este foi o momento de formação do cânion, o que corrobora com Peres (1990)<br />

que propôs que o cânion Almirante Câmara se desenvolve no talude desde o Neo-Oligoceno.<br />

A análise dos refletores identificados neste trabalho não permite inferir a idade exata do<br />

surgimento do cânion no talude, visto que os refletores abaixo deste encontram-se mascarados<br />

74


por interferências no sinal sísmico. No entanto, observa-se que a construção deste iniciou-se logo<br />

após o evento erosivo marcado pelo refletor R2 (limite Eoceno-Oligoceno).<br />

5.3 – Processos Sedimentares no Cânion Almirante Câmara<br />

Partindo <strong>das</strong> feições observa<strong>das</strong> nas seções <strong>sísmicas</strong>, foi possível sugerir algumas<br />

implicações a cerca dos <strong>processos</strong> sedimentares atuantes durante a formação dos depósitos aqui<br />

relatados.<br />

De uma maneira geral, a conformação diferenciada entre os refletores sísmicos dos<br />

flancos norte e sul do cânion sugerem a influência da Água Intermediaria da Antártica na<br />

sedimentação destes depósitos, visto que os refletores observados a norte se apresentam mais<br />

caóticos e muitas vezes ondulados e descontínuos, e no flanco sul do cânion estes de apresentam<br />

bem mais estratificados e paralelos. Esta conformação foi observada em to<strong>das</strong> as <strong>unidades</strong><br />

<strong>sísmicas</strong>, no entanto em algumas <strong>unidades</strong> são mais claras as diferenças, como é o caso da<br />

unidade II, em que a porção norte mostra uma menor espessura e maior desorganização dos<br />

refletores, além da ausência de um refletor (R2’) de alta amplitude que surge de forma marcante<br />

na porção sul subdividindo a unidade ao meio. Portanto, a AIA teria influenciado na deposição<br />

<strong>das</strong> seqüências a norte do cânion carreando o material proveniente deste, principalmente <strong>das</strong><br />

correntes de turbidez, para o flanco norte e o depositando juntamente com a seqüência normal de<br />

progradação, impedindo que estas seqüências deposita<strong>das</strong> permanecessem com as mesmas<br />

características da porção sul. A configuração lenticular e a ausência de continuidade regional da<br />

unidade IV, caracterizada pela reflexão transparente bem acentuada, indica a influência de<br />

escorregamentos que possam ter atuado durante a sua deposição.<br />

Na porção central do cânion foram identifica<strong>das</strong> falhas que tem sua origem devida a<br />

<strong>processos</strong> intensos de movimento de sedimentos em massa, deslizamentos e escorregamentos que<br />

são possivelmente intensificados por correntes de turbidez e correntes de fundo. Estas não<br />

apresentam continuidade com o avanço da profundidade e se restringem as proximidades do<br />

talvegue, confirmando sua origem não tectônica (Fig. 32). Estas séries de pequenas falhas se<br />

apresentam em forma côncava e condicionam o relevo do talvegue, que mostra uma estrutura em<br />

“degraus”. De acordo com Reis (1994) este escalonamento pode resultar de <strong>processos</strong> de<br />

deslizamentos ao longo de superfícies originais de acamamento <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> progradantes.<br />

75


TEMPO DUPLO DE REFLEXÃO (s)<br />

S N<br />

0 1200m<br />

Figura 32 – Seção sísmica S-N, detalhe <strong>das</strong> falhas que ocorrem no talvegue do cânion.<br />

Os falhamentos profundos interrompem to<strong>das</strong> as <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong>, tornando-as<br />

irregulares e muitas vezes causando o desaparecimento completo dos refletores, sugerindo que as<br />

<strong>unidades</strong> sofrem influência de uma eventual deformação causada pela percolação gases ao longo<br />

dos planos de falha, que em alguns casos chegam a atingir a superfície do fundo do mar.<br />

A conformação <strong>das</strong> reflexões <strong>sísmicas</strong> observa<strong>das</strong> no setor D está associada a <strong>processos</strong><br />

de deslizamentos e escorregamentos sin- ou pós-deposicionais. São observados também nesta<br />

porção de pequenas falhas a importantes falhas lístricas, dobras compressivas e blocos<br />

rotacionados, o que intensifica a sugestão de depósitos deslizados e de grandes eventos de<br />

movimentos de massa. Em síntese, no cânion Almirante Câmara registra-se como <strong>processos</strong> de<br />

sedimentação principais a ação <strong>das</strong> correntes de turbidez, movimentos de sedimentos em massa e<br />

possíveis correntes de contorno.<br />

76


6 – CONCLUSÃO<br />

Os mecanismos de construção dos depósitos sedimentares em águas profun<strong>das</strong><br />

compreendem a interação de diferentes <strong>processos</strong> sedimentares, tais como movimentos de massa,<br />

correntes de turbidez e correntes de contorno, que podem atuar de maneira combinada gerando<br />

depósitos complexos com características mistas.<br />

Neste contexto, o objetivo geral dessa dissertação foi contribuir para o melhor<br />

conhecimento dos <strong>processos</strong> sedimentares que atuaram na formação do Cânion Almirante<br />

Câmara, para tal foram utilizados registros sísmicos de alta qualidade que permitiram a<br />

identificação de cinco <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> limita<strong>das</strong> por cinco superfícies discordantes no talude da<br />

Bacia de Campos a partir do Eoceno Superior.<br />

Partindo <strong>das</strong> correlações realiza<strong>das</strong> com diversos autores, mas principalmente com Viana<br />

(1998) foi possível associar o refletor R4, localizado a cerca de 0,6s a 0,8s de profundidade na<br />

porção inferior do talude, como o Marco Cinza e de modo que este foi utilizado como referencia<br />

para a associação <strong>das</strong> idades dos demais refletores e <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong>.<br />

O talude atual da bacia de Campos é caracterizado por exibir uma morfologia convexa<br />

(Brehme, 1984) devido ao acúmulo de sedimentos inconsolidados, tornando-se vulnerável a<br />

mobilização episódica de massas. Como pode ser observado nos registros sísmicos aqui<br />

estudados, evidenciado pelas reflexões caóticas, dobras compressivas e blocos rotacionados,<br />

impossibilitando à identificação <strong>das</strong> <strong>unidades</strong> e dos refletores principais.<br />

O pacote sedimentar que contém o cânion foi interpretado como empilhamento de<br />

seqüências desenvolvi<strong>das</strong> sob a influência da progradação do talude continental, de modo que o<br />

grande aporte de terrígenos resultou em fluxos não estritamente canalizados no cânion,<br />

determinando uma evolução temporal caracterizada por <strong>processos</strong> de agradação vertical.<br />

A Água Intermediaria da Antártica exerceria de certa maneira influência na deposição <strong>das</strong><br />

seqüências, visto que a norte do cânion as <strong>unidades</strong> <strong>sísmicas</strong> apresentam características distintas<br />

<strong>das</strong> mesmas <strong>unidades</strong> a sul.<br />

A identificação da idade exata de surgimento do cânion no talude não pode ser realizada<br />

devido a interferências nos registros sísmicos, ainda assim observa-se que a construção deste<br />

iniciou-se logo após o evento erosivo marcado pelo refletor R2 (limite Eoceno-Oligoceno).<br />

77


7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS<br />

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