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DE 4771 : Plano 48 : 1 : P.gina 1 - Diário Económico

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Agarrem-se!<br />

Quando estamos perto de sermos atingidos por um abalo o<br />

grito de alerta comum é: “- Agarrem-se!”, senão “- Fujam!”<br />

Acabaram de sair as estatísticas do desemprego europeu<br />

publicadas pelo Eurostat. Todos os portugueses se fixaram<br />

nas estatísticas de Portugal, as quais apresentam a horrível<br />

confirmação de um indicador de dois dígitos para Outubro<br />

(10,2%) depois de um Setembro também ele já superior à<br />

marca mítica dos 10%. Estes números acima da taxa média<br />

europeia (9,3% para a Europa dos 27 ou 9,8% para a Europa<br />

do Euro) assustam-nos, e preocupam muito quem<br />

não vê bem qualquer ponta de entusiasmo ou caminho de<br />

inversão, tirando umas intenções governamentais de fazer<br />

obra pública capaz de absorver ou, pelo menos, não deixar<br />

agravar este indicador.<br />

Mas foi ao ler este relatório que pressenti que alguma<br />

coisa vem aí.<br />

Se consideram maus os indicadores do desemprego para<br />

Portugal, então leiam o que se diz sobre a taxa de desemprego<br />

para a faixa etária abaixo dos 25 anos de idade: 18,9% para<br />

Portugal, mas mais medonho ainda, 42,9% para Espanha!<br />

MeuDeus!Oqueéquenósestamosafazer?Comovão<br />

ser estes jovens em adultos? Como é que eles vão lá chegar<br />

e em que estado?<br />

Oquedemauseenraizarnajuventude<br />

espanhola vai contagiar-se à<br />

portuguesa, como fogo em palha seca.<br />

Já ima<strong>gina</strong>ram o que é chegarem a um qualquer encontro<br />

de jovens (um concerto musical por exemplo) e saberem que<br />

a metade dos que não estão a estudar está desempregada? De<br />

que vivem? Como se ocupam? Quem os sustenta? Que vícios<br />

vão criar? Que hábitos de trabalho vão ganhar para a vida?<br />

Tenho medo, muito medo, das respostas que posso ter a<br />

estas perguntas. E sei que o que de mau se enraizar na<br />

juventude espanhola vai contagiar-se à portuguesa, como<br />

fogo em palha seca.<br />

Quando estive na tropa, um certo dia o comandante de<br />

pelotão mandou-me dar Ordem Unida (ensinar a rapaziada<br />

amarchar)emplenatardedeumAgostoardente,numa<br />

parada de alcatrão a fumegar debaixo das chispas de um sol<br />

abrasador. A razão dele foi simples: “- Quando 40 homens<br />

estão para aí, ociosos, começam a dizer mal da tropa!”<br />

Dei ordem de “- Está a reunir!” seguida de “- Em frente,<br />

marche...” e assim se calaram aqueles jovens, quase da<br />

minha idade, e que, de facto, diziam mal da tropa como<br />

eu… Todos nos calámos e assim ocupámos mais uma hora<br />

das nossas vidas sem “dizer mal da tropa”.<br />

Nas ruas das cidades espanholas não há comandantes de<br />

companhia para os mandar perfilar, e marchar para a frente<br />

e para trás. Há perigosos ‘drug dealers’, há entusiastas<br />

fanáticos que facilmente vendem a ira, a raiva e o entusiasmante<br />

incentivo à destruição de quem não tem mais do que<br />

a mesada dos pais para viver, mas já tem a vergonha de uma<br />

idade de querer e não ter para fazer.<br />

Tenho medo e penso que vem aí coisa. Só vos digo:<br />

“- Agarrem-se!”…■<br />

PUB<br />

João Duque<br />

Professor Catedrático do ISEG<br />

EDITORIAL<br />

Quem aprova<br />

o Orçamento<br />

rectificativo?<br />

O ministro das Finanças<br />

foi ontem ao Parlamento<br />

defender o Orçamento<br />

rectificativo e, apesar de<br />

todos os seus esforços, não<br />

conseguiu garantir o apoio<br />

de nenhum partido da<br />

oposição. Esta situação<br />

émaisumexemplodanova<br />

realidade política do país:<br />

o Governo está nas mãos<br />

da Assembleia da República<br />

e a oposição sabe disso.<br />

E nenhum dos actores<br />

conseguiu ainda<br />

compreender a nova<br />

situação. O fato não fica<br />

bem. De um lado, o Governo<br />

ainda mantém o tom.<br />

Teixeira dos Santos foi<br />

ao Parlamento mas não<br />

pareceu disposto a negociar<br />

e fazer pontes. Preferiu o<br />

discurso do nós ou o caos.<br />

Ou aprovam a alteração ao<br />

Orçamento ou o Estado não<br />

tem dinheiro para pagar<br />

as contas. Do outro lado, a<br />

oposição ainda não aprendeu<br />

a controlar o seu novo poder.<br />

Parece deslumbrada.<br />

Obviamente que o bom<br />

senso exige a aprovação do<br />

Orçamento rectificativo e a<br />

oposição não deve brincar<br />

com situações sérias.<br />

A penalização do Governo<br />

pelo agravamento das contas<br />

públicas deve ser feita na<br />

discussão política e no<br />

contexto da actual crise.<br />

Ainda assim, é cada vez mais<br />

óbvio que a oposição terá no<br />

futuro mais poder para<br />

obrigar o Governo a fazer o<br />

que quer. Isto vai agravar a<br />

deterioração da situação<br />

política, que apareceu mais<br />

cedo do que se pensava. Este<br />

novo Governo tomou posse<br />

no fim de Outubro mas<br />

parecequejáfoiháanos.<br />

Aguentar os quatro anos vai<br />

ser uma tarefa árdua.<br />

OS FACTOS<br />

Quinta-feira 3 Dezembro 2009 <strong>Diário</strong> <strong>Económico</strong> 3<br />

Silêncio de Teixeira dos Santos<br />

reforça incerteza sobre o rectificativo<br />

O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, insistiu, mas nenhum dos<br />

deputados da Oposição respondeu. A pergunta era de qual o sentido de<br />

votação agendado para o próximo dia 11 quando for discutido no parlamento<br />

o segundo orçamento rectificativo. Para já, os líderes parlamentares<br />

concordaram resolver o assunto nesse mesmo dia, não querendo assim<br />

explicações de outros ministros sobre os gastos. Em Portugal nunca um<br />

orçamento rectificativo foi chumbado e este também irá passar, segundo a<br />

maioria dos economistas. Mas a luta política será feroz e percebe-se porquê.<br />

Houve dois actos eleitorais e para a oposição estes anúncios das contas<br />

públicas já deveriam ter acontecido. Teixeira dos Santos discorda, alegando a<br />

imprevisibilidade dos efeitos da crise.<br />

Algo que os modelos econométricos<br />

não conseguem estimar. Mas uma<br />

questão subsiste. No caso da maioria<br />

dos deputados chumbar o<br />

rectificativo,qualvaiseracartaque<br />

Teixeira dos Santos vai jogar? ANTÓNIO<br />

<strong>DE</strong> ALBUQUERQUE ➥ LEIA A NOTÍCIA P14<br />

Oposição vai forçar Governo alargar<br />

período de subsídio de desemprego<br />

O actual nível de desemprego é um dos mais elevados da história<br />

económica portuguesa. Segundo as contas do Eurostat, no mês<br />

passado já ultrapassou os dois dígitos. Políticos, economistas e<br />

empresários são unânimes em defender que esta deve ser a<br />

prioridade política no curto prazo. A solução também parece óbvia e é<br />

só uma: crescimento económico. Mas, entretanto, será necessário<br />

acudir aos milhares de pessoas que estão sem emprego, sobretudo<br />

jovens. A taxa de desemprego entre os jovens já é um quarto do total.<br />

A legislação define, e bem, que estes têm o tempo de subsídio de<br />

desemprego mais curto, pois são os mais capazes para encontrarem<br />

soluções. Contudo, a situação da economia ainda é grave e não<br />

consegue gerar procura de<br />

trabalho, comprometendo por isso<br />

o sucesso profissional dos jovens.<br />

Esta é uma questão, a par da<br />

formação profissional, que os<br />

partidos da oposição querem ver<br />

discutida agora na Assembleia da<br />

República. A.A. ➥ LEIA A NOTÍCIA P14<br />

CONTAS PÚBLICAS<br />

8%<br />

Este foi o valor do défice que<br />

Bruxelas calculou e que as<br />

Finanças consideram como bom.<br />

<strong>DE</strong>SEMPREGO<br />

547 mil<br />

Este é o valor estimado pelo<br />

Eurostat do número de<br />

desempregados em Portugal.<br />

Emissão de dívida de longo prazo<br />

vai custar mais caro aos Estados<br />

Saúda-se com algum entusiasmo o facto de governos e empresas estarem a<br />

emitir dívida a prazos mais longos. É um bem vindo retorno à normalidade<br />

dos mercados. Afinal, não se pode esperar que estradas, escolas e planos de<br />

investimento de empresas sejam financiados unicamente com dinheiro a 3<br />

meses. Mas também é mau, porque a dívida de prazo mais longo é mais cara.<br />

Algo que é sobretudo verdadeiro neste momento, dada a acentuada<br />

inclinação da curva de rendimentos. As empresas talvez possam suportar o<br />

acréscimo de custo. Os governos não. Uma simples ‘conta de merceeiro’<br />

mostra como estes custos extra podem ser pesados. Durante a crise<br />

financeira, os governos recorreram essencialmente a financiamento de curto<br />

prazo, emitindo títulos com maturidade inferior a um ano. Uma década atrás<br />

nos EUA, um quinto de todos os títulos nas mãos do público eram de curto<br />

prazo. Agora chega a um terço. Isto trouxe alguns benefícios. Dado que as<br />

taxas de curto prazo são efectivamente zero, reduziu a taxa de juro implícita<br />

do governo dos EUA para cerca de 2,5%. Se, no entanto, se assumisse uma<br />

estrutura de maturidades “normal”, com maior peso dos títulos de longo<br />

prazo, o custo em juros nos EUA rondaria os 3,2%, ➥ “FINANCIAL TIMES”

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