DE 4771 : Plano 48 : 1 : P.gina 1 - Diário Económico
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16 <strong>Diário</strong> <strong>Económico</strong> Quinta-feira 3 Dezembro 2009<br />
POLÍTICA<br />
Vara faz da sua<br />
inocência<br />
“um combate”<br />
Obrigado a pagar uma caução de 25 mil euros e impedido de<br />
falar com cinco arguidos da Face Oculta, Vara ataca a justiça.<br />
António Freitas de Sousa<br />
antonio.sousa@economico.pt<br />
Irredutível. O antigo vice-presidente<br />
do BCP, Armando Vara,<br />
considera-se inocente de qualquer<br />
crime no âmbito do processo<br />
Face Oculta e vai avançar<br />
irredutivelmente e até às últimas<br />
consequências na defesa<br />
dessa inocência. Foi essa espécie<br />
de declaração de princípio<br />
que Vara proferiu ontem, à saída<br />
do Juízo de Instrução Criminal<br />
do Baixo Vouga, em Aveiro, para<br />
afirmar que fará tudo o que estiver<br />
ao seu alcance para provar<br />
que “os indícios de indícios de<br />
indícios” que levaram o juiz de<br />
instrução do processo a indiciálo<br />
na prática de um crime de<br />
tráfico de influências não têm<br />
qualquer consistência.<br />
Armando Vara afirmou considerar<br />
que as explicações avançadas<br />
por si e pelos seus advogadosnafasedeinterrogatório<br />
eram mais que suficientes para<br />
tornar clara toda a sua participaçãonoprocesso–istoé,nenhuma.<br />
Aparentemente o juiz<br />
que instrui o processo, António<br />
Costa Gomes, não foi tão longe:<br />
retirou a Vara o ónus dos indíciosdapráticadocrimedecorrupção<br />
passiva mas manteve o<br />
de tráfico de influências. O militante<br />
do PS, que logo quando<br />
chegou a Aveiro disse ponderar<br />
sair da cidade com a simples<br />
obrigação de termo de identidade<br />
e residência – que decorre da<br />
situação de arguido – acabou<br />
por ver agravadas as medidas de<br />
coacção: 25 mil euros de caução<br />
(metade da caução mais elevada<br />
do processo) e proibição de<br />
contactar com cinco dos arguidos<br />
do Face Oculta – a família<br />
Godinho, Manuel, João e Hugo,<br />
Maribel Rodrigues e Namércio<br />
Cunha. Mas Armando Vara,<br />
consequente, como não quis<br />
deixar de enfatizar, com a sua<br />
qualidade de inocente, vai recorrer<br />
da decisão.<br />
Questionado pelo batalhão<br />
de jornalistas que se tem mantidoàportadoJuízodeAveiro,<br />
Armando Vara não excluiu –<br />
agora que, apesar de não concordar<br />
com a sua condição de<br />
arguido, a sua posição no processo<br />
está definida – a hipótese<br />
de regressar à administração do<br />
BCP. O militante socialista afirmou<br />
apenas que essa é uma matéria<br />
de discussão restrita no interior<br />
da administração do banco<br />
privado.<br />
Finalmente, o ex-ministro<br />
socialista disse ainda que “parece<br />
haver uma tendência para o<br />
julgamento em praça pública”,<br />
repetindo argumentação que já<br />
outros arguidos do Face Oculta<br />
veicularam anteriormente, e<br />
que tem servido para criticar<br />
aquilo que já foi chamado de<br />
“quebra cirúrgica do segredo de<br />
Justiça”: o aparecimento na comunicaçãosocialdefactossobre<br />
o processo que deveriam estar<br />
sob reserva.<br />
Com as medidas de coacção<br />
decretadas a Armando Vara,<br />
chega ao fim o período de inquirição<br />
dos 18 arguidos do processo<br />
no Juízo de Instrução CriminaldoBaixoVouga.■<br />
ALGUNS DOS ARGUIDOS COM QUEM ARMANDO VARA ESTÁ IMPEDIDO <strong>DE</strong> CONTACTAR<br />
Manuel Godinho<br />
Empresário<br />
O magnata das sucatas é acusado<br />
de ter montado a rede de<br />
corrupção com vista a conseguir<br />
contratos de prestação de<br />
serviços na área dos resíduos sem<br />
ter que passar pelas incertezas<br />
dos concursos públicos. O filho<br />
João e o sobrinho Hugo são<br />
parte activa, segundo os indícios<br />
validados pelo Juízo.<br />
“Parece haver uma<br />
tendência para o<br />
julgamento na praça<br />
pública”,dizoexvice<br />
do BCP.<br />
Maribel Rodrigues<br />
Secretária de Manuel Godinho<br />
Acusada de dois crimes de burla<br />
qualificada na qualidade<br />
de cúmplice e de um crime de<br />
associação criminosa. Defendida<br />
pelo conhecido advogado Artur<br />
Marques (que defendeu Fátima<br />
Felgueiras) e secretária de<br />
profissão, Maribel teve que pagar<br />
uma caução de 15 mil euros,<br />
entre outras medidas de coacção.<br />
Namércio Cunha<br />
Empresa O2<br />
Foi acusado pelo Juízo do Baixo<br />
Vouga de dois crimes: um<br />
de corrupção activa e outro<br />
de associação criminosa. A<br />
inquirição deste arguido, uma<br />
das mais demoradas da ronda<br />
que decorreu em Aveiro,<br />
resultou na obrigação de pagar<br />
uma caução de 25 mil euros,<br />
entre outras medidas.<br />
Armando Vara deu a cara<br />
e respondeu ontem a todas<br />
as perguntas dos jornalistas.<br />
EM DISCURSO DIRECTO ARMANDO VARA arguido no caso<br />
“Não havendo provas<br />
Ex-vice do BCP diz que provará<br />
a sua inocência “demore um,<br />
dois ou três anos”.<br />
Ontem à saída do tribunal, Armando<br />
Vara respondeu a todas as<br />
questões dos jornalistas.<br />
Qual foi a decisão do juiz?<br />
Uma boa parte dos esclarecimentos<br />
que aqui trouxe sexta-feira<br />
foram tidos em conta e, por isso,<br />
o senhor juiz considerou que<br />
apenas persistem dúvidas quanto<br />
a um dos crimes. Tinha sido indiciado<br />
pela prática de dois crimes,<br />
o que quer dizer que a partir deste<br />
momento passaram a haver, apenas,<br />
alguns indícios que o juiz<br />
considera não suficientemente<br />
esclarecidos da prática de um crime<br />
apenas.<br />
Nocrimedetráfegodeinfluencias?<br />
No crime de tráfego de influências.<br />
O senhor juiz considerou por<br />
isso que eu não devia falar com alguns<br />
dos arguidos enquanto não<br />
se esclarecer completamente este<br />
facto e estabeleceu, também, uma<br />
caução de 25 mil euros, segundo<br />
me explicou, para incentivar esse<br />
não contacto com os arguidos.<br />
Quais arguidos?<br />
Eu não tenho os nomes de memória.<br />
De qualquer das formas, e<br />
como eu tenho dito, eu considero<br />
que não cometi nenhum crime e<br />
vamos, por isso, recorrer desta<br />
decisão por uma questão de princípio.<br />
Não por que ela represente<br />
muito no contexto das diligências<br />
queaindavãoserfeitasenoconjunto<br />
de provas que pensamos<br />
trazer para o processo, mas por<br />
uma questão de principio. Do<br />
ponto de vista do que foram as<br />
explicações que aqui demos na<br />
sexta-feira, para mim e para a<br />
equipa de advogados que me<br />
acompanha, a minha posição