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Sumário<br />

Prefácio ............................................................................................... 11<br />

Apresentação ........................................................................................... 13<br />

1. O SISVAN nos Dias de Hoje .....................................................................15<br />

2. As Bases para o Diagnóstico Nutricional .......................................... 27<br />

3. Diagnóstico Nutricional de Crianças Menores de Cinco Anos .......... 41<br />

4. Diagnóstico Nutricional de Gestantes ............................................... 61<br />

5. Diagnóstico Nutricional de Adultos e Idosos .................................... 85<br />

6. Diagnóstico Nutricional de Adolescentes e Escolares ...................... 99<br />

7. Perímetros Corporais e Pregas Cutâneas ........................................... 115<br />

8. Carências Nutricionais Específicas ............................................... 123<br />

Considerações Finais – Os Novos Rumos do SISVAN............................139<br />

Referências Bibliográficas ........................................................................141<br />

ANEXOS ENCARTADOS<br />

Anexo 1– Tabela Peso/Idade – crianças (percentil) – masc. e fem.<br />

Anexo 2– Tabela Altura/Idade – crianças (percentil) – masc. e fem.<br />

Anexo 3– Gráfico para Avaliação Nutricional de Gestante segundo<br />

Índice de Massa Corporal<br />

Anexo 3.1. – Peso Esperado para Altura segundo a Idade Gestacional<br />

(valores mínimos e máximos de normalidade e valores<br />

limítrofes para o diagnóstico de obesidade)<br />

Anexo 4– Pranchas de Tanner – maturação sexual – masc. e fem.<br />

Anexo 5 – Tabela Altura/Idade – adolescentes (desvio-padrão) – masc. e fem.<br />

9


O Diagnóstico Nutricional<br />

Anexo 6– Gráfico Curvas de Crescimento Altura/Idade<br />

(padrão NCHS) – masc. e fem.<br />

Anexo 7– Tabela Altura/Idade – escolares (desvio-padrão) – masc. e fem.<br />

Anexo 8– Tabela Peso/Altura – escolares (desvio-padrão) – masc. e fem.<br />

10


Prefácio<br />

Historicamente, o interesse pela avaliação do estado nutricional de<br />

indivíduos e populações representa um conceito e uma prática ainda<br />

recente, que pode ser demarcado com as contribuições de Frederico Gomez<br />

e de Jelliffe nos meados do último século. Experiências e estudos anteriores,<br />

notadamente na esfera dos aspectos fisiopatológicos e suas manifestações<br />

bioquímicas, ainda que marcantes para a caracterização do estado<br />

nutricional, não alcançaram o nível de validação interna e externa suficiente<br />

para massificar sua aplicação rotineira na prática diagnóstica e na conduta<br />

terapêutica dos profissionais da saúde.<br />

Na realidade, mesmo nos dias atuais, a avaliação do estado nutricional<br />

ainda enfrenta questionamentos conceituais, metodológicos e operacionais<br />

que demandam um esforço contínuo e sistemático de pesquisas muitas<br />

vezes de caráter multicêntrico, a exemplo do que se faz no sentido<br />

de revisar novos padrões antropométricos para a classificação do<br />

crescimento de crianças ou da evolução ponderal de gestantes. É possível<br />

até presumir, antes mesmo que esses estudos colaborativos sejam<br />

concluídos, que novas e ponderáveis especulações sejam colocadas no<br />

foco de debates, como a incorporação de princípios alométricos na<br />

definição e análise do crescimento humano e suas repercussões em termos<br />

funcionais e metabólicos.<br />

Por essas e várias outras razões, que implicam novas requisições em<br />

termos de formação de recursos humanos, o lançamento da 2a edição<br />

atualizada e revisada do SISVAN: Instrumento para o Combate aos Distúrbios<br />

Nutricionais em Serviços de Saúde – o diagnóstico nutricional pelo Centro<br />

Colaborador em Alimentação e Nutrição (CECAN) da Região Sudeste deve<br />

ser entendido como um evento de singular importância diante das demandas<br />

que se ampliam e se diversificam no advento do novo século.<br />

11<br />

Prefácio


O Diagnóstico Nutricional<br />

Contemplam-se com esta publicação os vários aspectos nutricionais<br />

que se sucedem ao longo do ciclo vital, desde a concepção até<br />

a senescência. Tendo um destinatário com perfil próprio (os profissionais<br />

da saúde no exercício de suas tarefas em nível de atendimento<br />

individual), este livro oferece um campo de consulta pertinente e<br />

relevante para a prestação de cuidados nutricionais que obviamente<br />

devem ser fundamentados na consideração preliminar do estado de<br />

nutrição de cada cliente, seja saudável ou esteja comprometido com alguma<br />

intercorrência patológica.<br />

É dentro dessa perspectiva que a nova edição do Diagnóstico Nutricional<br />

deve ser entendida e sobretudo aplicada, convertendo-se num instrumento<br />

de adesão e capacitação dos profissionais da saúde para as responsabilidades<br />

crescentes que a assistência qualificada reclama, como exigência técnica e<br />

como direito de cidadania.<br />

Malaquias Batista Filho<br />

Professor-Titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)<br />

Consultor do Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP)<br />

Coordenador do Centro Colaborador em Alimentação e<br />

Nutrição (CECAN) – Região Nordeste I<br />

12


Apresentação<br />

No contato com profissionais da saúde interessados no<br />

desenvolvimento do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN)<br />

em seus estados e municípios, surgiu a idéia de escrever este manual. A<br />

idéia transformou-se em necessidade; percebemos que diante das inúmeras<br />

perspectivas de mudanças no cenário da saúde e das instituições voltadas<br />

à alimentação e à nutrição, era preciso compartilhar reflexões sobre os<br />

novos rumos desse sistema no País.<br />

Embora a concepção date dos anos 70 do século XX, apenas a partir<br />

da última década desse século, o SISVAN brasileiro vem assumindo identidade<br />

própria, caminhando junto de vários níveis governamentais, habilitandose<br />

a atuar no combate aos principais distúrbios nutricionais.<br />

Convivendo com avanços e males do mundo moderno, a saúde e a<br />

nutrição no Brasil de hoje têm características peculiares. Observam-se<br />

mudanças no perfil nutricional da população e nas respostas que o setor<br />

saúde oferece a esse novo contexto, tendo, no SISVAN, um braço forte de<br />

articulação, geração de informações que permitirão subsidiar a formulação<br />

de políticas e programas públicos e, ao mesmo tempo, propiciar intervenção<br />

adequada. Para esse fim, o sistema deve ser dinâmico e ágil, sendo<br />

imprescindível ter seu conceito, suas funções e atribuições bem claras para<br />

aqueles que lidam com os problemas diários da população: os serviços de<br />

saúde, o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa<br />

Saúde da Família (PSF).<br />

No contexto atual, o que é e para que serve o SISVAN? Como construílo?<br />

Qual a importância do diagnóstico nutricional? São muitos os<br />

questionamentos e nos propomos a responder apenas a alguns deles; em<br />

especial, queremos apontar prioridades. Pretendemos oferecer subsídios para<br />

a geração da informação nutricional de boa qualidade. Acreditamos ser<br />

esse o primeiro passo para a construção de um sistema forte, com intuito<br />

que essa informação transforme-se em uma ação precoce de reversão de<br />

13<br />

Apresentação


O Diagnóstico Nutricional<br />

agravos, quando diagnosticados. Formulando um diagnóstico nutricional<br />

adequado, estaremos caminhando para uma prática coletiva e organizada,<br />

que pode ser fértil na produção de informações, mas, sobretudo, poderemos<br />

atuar de forma efetiva na resolução dos problemas nutricionais brasileiros.<br />

Como uniformizar práticas em um País com tantos contrastes é tarefa<br />

árdua e longa. Fruto de nossa experiência como Centro Colaborador em<br />

Alimentação e Nutrição na Região Sudeste (CECAN-Sudeste), achamos<br />

importante centrar o foco desta publicação no diagnóstico nutricional<br />

conforme as recomendações do Ministério da Saúde (MS), acrescidas das<br />

preconizadas em nível internacional, especialmente pela Organização<br />

Mundial da Saúde (OMS).<br />

Nesta edição atualizada e revisada, procedemos à reformulação<br />

significativa no capítulo sobre avaliação nutricional de gestantes em face<br />

de uma proposta do Ministério da Saúde (2000), adequamos a classificação<br />

de adultos segundo a OMS (1997) e mantivemos os demais indicadores<br />

segundo referência descrita em cada capítulo.<br />

Esperamos, assim, caminhar rumo ao fortalecimento de uma rede<br />

nacional, o SISVAN brasileiro... voltado para os brasileiros. Acreditamos que<br />

essa tarefa requer, como passo inicial, a valorização do estado nutricional<br />

como condicionante fundamental à saúde dos indivíduos. Em um exercício<br />

de repensar os novos rumos do SISVAN e encontrar respostas a muitos<br />

questionamentos realizados por gestores e profissionais da saúde,<br />

construímos esta publicação. Trabalhamos com muita fé na causa,<br />

acreditando sinceramente que o SISVAN possa contribuir para a melhoria da<br />

saúde e da nutrição em nosso país.<br />

Mãos à obra!<br />

14<br />

Elyne Montenegro Engstrom


17<br />

O SISVAN nos Dias de Hoje<br />

A implantação do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional<br />

(SISVAN) no Brasil, proposta desde 1977, tem sido acompanhada pela idéia<br />

de construção de um sistema de informações para vigilância do estado<br />

nutricional e da situação alimentar de uma determinada população. Essa<br />

noção é pertinente do ponto de vista conceitual, baseada nas recomendações<br />

internacionais da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da<br />

Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO),<br />

preconizadas desde a década de 70 do século XX. (42)<br />

1.1. O que é o SISVAN?<br />

O SISVAN é um sistema que tem como objetivo descrever o diagnóstico<br />

da situação nutricional, predizer de maneira contínua tendências das<br />

condições de nutrição e alimentação de uma população e seus fatores<br />

determinantes, com fins de planejamento e avaliação dos efeitos de políticas,<br />

programas e intervenções.<br />

O conceito de SISVAN traz em sua concepção idéias relacionadas a<br />

sistemas de informações e de vigilância epidemiológica sobre alimentos,<br />

alimentação e nutrição de coletividades e indivíduos, sendo esta uma<br />

atribuição por excelência do setor saúde. Dadas a dimensão e a diversidade<br />

das áreas de atuação do SISVAN, é necessária a parceria entre governo,<br />

instituições não-governamentais e sociedade, com esforços conjuntos para<br />

a melhoria do quadro alimentar e nutricional do País.<br />

O SISVAN ‘convida’ a ver a alimentação e a nutrição de maneira ampliada,<br />

intersetorial, em um exercício contínuo de identificação de fatores que<br />

determinam problemas nessas áreas. Embora as raízes desses problemas<br />

residam, com certeza, nos fatores estruturais, ou seja, no modelo de<br />

desenvolvimento político, econômico e social adotado no Brasil nessas<br />

últimas décadas, a informação gerada pelo SISVAN pode apoiar na prevenção<br />

e influir de forma decisiva na solução dos distúrbios nutricionais<br />

da população.


O Diagnóstico Nutricional<br />

1.2. Como esse sistema está sendo concebido no Brasil?<br />

O SISVAN foi regulamentado como atribuição do Sistema Único de<br />

Saúde (SUS), por meio da portaria no 080-P (16/10/90), do Ministério<br />

da Saúde (MS) e da Lei Orgânica do SUS. Antes desse momento, existiam<br />

inúmeras experiências locais em diversas partes do País, sem uma articulação<br />

estadual e nacional.<br />

Com o Programa Leite é Saúde/MS, implantado em 1993, (30) que<br />

estabelecia como critério de adesão ao programa a implantação do SISVAN<br />

em nível municipal, o sistema foi organizado como uma rede (englobando<br />

os níveis local, municipal, estadual e nacional), articulando-se e crescendo a<br />

cada dia. Atualmente, a rede SISVAN é formada por Coordenações Estaduais<br />

ligadas à Coordenação Geral da Política Nacional de Alimentação e<br />

Nutrição do Ministério da Saúde (MS) e por Centros Colaboradores em<br />

Alimentação e Nutrição regionais, que atuam como núcleos de apoio<br />

técnico-científico e assessoramento às Secretarias Estaduais de Saúde e<br />

ao Ministério da Saúde.<br />

Desde dezembro de 1997, o SISVAN consta como um dos requisitos de<br />

acesso ao Programa de Combate às Carências Nutricionais (PCCN),<br />

normatizado em 18 de dezembro de 1997, programa este que foi substituído<br />

pelo Incentivo de Combate às Carências Nutricionais (ICCN). A portaria<br />

no 709 de junho de 1999 do MS (6) estabelece critérios e requisitos para<br />

ações de combate às carências nutricionais, mediante a transferência dos<br />

recursos do Piso Assistencial Básico (PAB) e do ICCN. Estabelece,<br />

ainda, a existência do SISVAN municipal como requisito para repasse de<br />

recursos financeiros.<br />

Essa característica insere o SISVAN como um sistema de monitoramento<br />

de programas públicos de intervenção nutricional, como também de<br />

informações sobre o perfil nutricional e alimentar. Para alcançar essa<br />

potencialidade, o sistema pode e deve utilizar diversas fontes de informações,<br />

por exemplo: pesquisas populacionais sobre alimentação e nutrição e dados<br />

sobre programas e ações de promoção e assistência à saúde e à<br />

18


19<br />

O SISVAN nos Dias de Hoje<br />

nutrição. Em síntese, as fontes de dados do SISVAN no Brasil podem ser<br />

provenientes de:<br />

• estudos e pesquisas populacionais;<br />

• serviços de saúde: em especial as unidades básicas de saúde, podendo<br />

abranger ainda ambulatórios, hospitais e maternidades;<br />

• programas comunitários: Programa Agentes Comunitários de Saúde<br />

(PACS) e Programa Saúde da Família (PSF);<br />

• creches e escolas;<br />

• utilização de outros bancos de dados do SUS, tendo, por exemplo,<br />

interface com o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e o<br />

Sistema de Informação sobre Nascidos-Vivos (SINASC).<br />

O SISVAN, assim concebido, deverá ter informações de pesquisas<br />

transversais de âmbito nacional, estadual e/ou municipal para o<br />

conhecimento do perfil alimentar e nutricional da população. (32) Essas<br />

pesquisas podem ser planejadas com periodicidade anual, bienal ou<br />

qüinqüenal, com amostra populacional do País, do estado ou do município,<br />

ou, ainda, de uma área geográfica e grupos populacionais mais restritos,<br />

utilizando recursos estatísticos. O objetivo das pesquisas é fornecer<br />

informações fidedignas para o estabelecimento e a avaliação de políticas e<br />

programas públicos, devendo ser representativas de áreas geográficas, grupos<br />

populacionais e problemas prioritários.<br />

Cabe ressaltar que, no Brasil, por inúmeras dificuldades operacionais e<br />

financeiras, conta-se com dados de três pesquisas de abrangência nacional:<br />

o Estudo Nacional de Despesas Familiares (ENDEF, 1975), a Pesquisa<br />

Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN, 1989) (28) e a Pesquisa Nacional<br />

sobre Demografia e Saúde (PNDS, 1996), (5) além da Pesquisa Sobre Padrões<br />

de Vida (PPV, 1997) apenas nas Regiões Nordeste e Sudeste, com<br />

dados de adultos já publicados. (23) Dados detalhados podem ser consultados<br />

nas publicações específicas.<br />

Nas unidades de saúde e programas comunitários, o SISVAN deve obter<br />

informações da clientela dos distritos sanitários, para apoiar a melhoria das<br />

práticas de assistência individual e coletiva prestada aos usuários dos serviços


O Diagnóstico Nutricional<br />

e população adstrita. Ao contrário das pesquisas, o SISVAN nos serviços de<br />

saúde representa uma fonte de informação privilegiada e atual, que trata do<br />

processo de identificação de risco nutricional sem estimativa, atuando nos<br />

casos segundo seu processo temporal de desenvolvimento, isto é, intervindo<br />

no ato do diagnóstico.<br />

Neste manual, será destacado somente o papel dos serviços de saúde na<br />

geração de informações, compreendendo esse setor como uma das fontes do<br />

sistema. Esse papel é de suma importância, já que os serviços de saúde são<br />

locais estratégicos para o diagnóstico precoce e o combate aos problemas<br />

nutricionais da população.<br />

Os dados gerados nos serviços, diferente das pesquisas, identificam e<br />

individualizam os problemas nutricionais, permitindo a captação para uma<br />

atuação diferenciada, quer seja priorizando a assistência (agendamento,<br />

inscrição em grupos de acompanhamento nutricional, controle de<br />

enfermidades associadas, entre outras) quer para a entrada em programas<br />

de suplementação alimentar. Dessa forma, propicia intervenção rápida e a<br />

menor custo em relação às pesquisas, refletindo o momento presente, o<br />

cotidiano, recurso que somente os profissionais da saúde e agentes<br />

comunitários podem oferecer com sua vivência diária.<br />

Compreender essas duas fontes de dados de forma articulada e<br />

complementar é um desafio inovador ao SISVAN, cuja aplicação prática pode<br />

ser entendida, por exemplo, na atual estratégia do Incentivo de Combate às<br />

Carências Nutricionais – ICCN/MS. Para estabelecer sua clientela-alvo –<br />

crianças menores de dois anos –, utilizaram-se informações do Modelo<br />

Preditivo da Desnutrição Infantil, desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas<br />

Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS-USP), a pedido do extinto<br />

Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), em 1994. Nesse<br />

trabalho, estimaram-se as taxas de desnutrição em crianças menores de<br />

cinco anos, baseadas na PNSN (28) e aplicadas, segundo o censo do Instituto<br />

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1991, em todos os<br />

municípios brasileiros. O resultado final do estudo foi a discriminação, em<br />

20


21<br />

O SISVAN nos Dias de Hoje<br />

números absolutos, do quantitativo estimado de crianças desnutridas<br />

(‘número provável’), para cada município, com destinação de verba<br />

correspondente às estimativas.<br />

Como ponto de partida para a organização de um programa<br />

governamental, essa estratégia pode ser considerada excelente, porque<br />

permite a utilização de um critério justo e transparente de seleção de grupo<br />

beneficiário, nesse caso crianças menores de dois anos e desnutridas (critério<br />

de faixa etária vulnerável associado à critério antropométrico).<br />

Mas o modelo, como seu nome diz, é um ensaio de probabilidades<br />

baseado em um cenário de um determinado período de tempo em que<br />

variáveis, como renda, escolaridade materna, condições de saneamento, entre<br />

outros, tinham uma característica determinada.<br />

Embora saibamos que mudanças nos fatores sociais ocorram a longo<br />

prazo, podemos ser surpreendidos com adversidades ou situações<br />

emergenciais, como, por exemplo, a seca nordestina.<br />

Para melhor discutir essa questão, vai-se pensar a hipótese de um<br />

município nordestino, que, segundo o Modelo Preditivo, teria cem crianças<br />

consideradas de risco nutricional e nos últimos meses, após ter recebido os<br />

recursos do ICCN/MS, tem sofrido com a seca.<br />

Os números absolutos utilizados pelo MS para a liberação dos recursos<br />

financeiros para o município foram estimados segundo o cenário de anos<br />

atrás. Só que, no presente, aconteceu um fato: a seca, que agrava as condições<br />

sociais das famílias, sendo determinante de desnutrição nas crianças. Com<br />

os dados detectados pelo SISVAN no local, os representantes municipais<br />

poderão constatar se, de fato, houve aumento no número de crianças<br />

desnutridas para, por exemplo, 200 crianças. Certamente, o Modelo<br />

Preditivo não consegue (e nem foi pensado com esta função) apontar em<br />

tempo viável, a baixo custo e simplicidade operacional, essa situação de<br />

risco iminente.<br />

Embora a ciência estatística seja extremamente eficiente para predição<br />

de tendências de problemas de saúde e de nutrição, é necessário um<br />

conjunto de recursos metodológicos, de alto custo financeiro e operacional,<br />

que muitas vezes é incompatível com as emergências humanas.


O Diagnóstico Nutricional<br />

De fato, o que se precisa assegurar é a liberação de recursos públicos<br />

de maneira correta, com critérios técnicos justos e adequados à problemática<br />

nutricional, evitando distorções e a ineficiência no uso da verba destinada à<br />

melhoria da saúde da população. Para esse fim, as informações do SISVAN,<br />

quer sejam oriundas de pesquisas quer dos serviços de saúde, são de valiosa<br />

utilidade no planejamento e na execução de ações públicas.<br />

A utilização de informações confiáveis e de fácil obtenção é a estratégia mais<br />

adequada para orientar os programas públicos de intervenção nutricional. Para<br />

isso, considera-se que os serviços de saúde e programas de agentes comunitários/<br />

saúde da família podem contribuir como veículo do cotidiano em nível local.<br />

Desse modo, os serviços de saúde podem colaborar para apontar as<br />

modificações do perfil nutricional de uma localidade/município, com base<br />

na geração de informações consistentes obtidas na rotina de atendimento<br />

das unidades de saúde e de programas comunitários, com baixo custo e<br />

boas condições operacionais, sendo fonte de informação complementar às<br />

pesquisas, no delineamento de diagnóstico coletivo.<br />

Portanto, o seu papel no SISVAN é contribuir com a geração de<br />

informações confiáveis para os programas públicos de promoção à saúde,<br />

alimentação e nutrição, valendo-se do diagnóstico, do monitoramento e da<br />

avaliação da situação nutricional coletiva, sem esquecer sua principal vocação<br />

que é a detecção e a assistência individual dos casos de risco nutricional.<br />

1.3. Como o SISVAN nos serviços pode contribuir na resolutividade<br />

dos problemas nutricionais?<br />

As características dos problemas nutricionais do Brasil fazem dos<br />

serviços de saúde um espaço essencial no sistema, local de atuação de<br />

um conjunto de importantes programas e ações de saúde e nutrição. Um<br />

passo fundamental para a articulação entre o sistema e as ações<br />

de saúde é a incorporação do acompanhamento do estado nutricional de<br />

22

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