11.05.2013 Views

CORNELIA FUNKE Ilustrações - CloudMe

CORNELIA FUNKE Ilustrações - CloudMe

CORNELIA FUNKE Ilustrações - CloudMe

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Naquela noite, em que tanta coisa começou e tanta coisa<br />

mudou para sempre, um dos livros preferidos de Meggie estava<br />

debaixo de seu travesseiro. Como a chuva não a deixava<br />

dormir, ela se sentou, esfregou os olhos e pegou o livro. As<br />

páginas farfalharam cheias de promessas quando ela o abriu.<br />

Meggie achava que esses primeiros sussurros soavam de<br />

maneira diferente em cada livro, conforme ela soubesse ou não<br />

o que ele lhe contaria. Mas agora era preciso providenciar luz.<br />

Havia uma caixa de fósforos escondida na gaveta do<br />

criado-mudo. Mo a proibira de acender velas à noite. Ele não<br />

gostava de fogo. “O fogo devora os livros”, ele sempre dizia,<br />

mas afinal de contas ela tinha doze anos e podia muito bem<br />

tomar conta de algumas chamas. Meggie adorava ler à luz de<br />

velas. Ela havia posto três pequenas lanternas e três castiçais no<br />

batente da janela. E estava justamente encostando o palito de<br />

fósforo aceso num dos pavios já queimados quando ouviu os<br />

passos lá fora. Assustada, Meggie apagou o fogo com um sopro<br />

— como ela ainda lembrava nitidamente depois de muitos anos<br />

—, ajoelhou-se em frente à janela molhada pela chuva e olhou<br />

para fora. Foi então que ela o viu.<br />

A chuva dava à escuridão um tom esbranquiçado, e o<br />

estranho quase não passava de uma sombra. Somente seu rosto,<br />

virado na direção de Meggie, brilhava lá embaixo. Os cabelos<br />

estavam grudados em sua testa molhada. A chuva o encharcava,<br />

mas ele parecia não se importar. Estava imóvel, os braços em<br />

volta do peito, como se dessa maneira pudesse se aquecer pelo<br />

menos um pouco. Assim, ele olhava para a casa de Meggie.<br />

“Preciso acordar Mo!”, Meggie pensou. Mas continuou<br />

ali sentada, com o coração aos pulos, os olhos fixos na noite,<br />

como se o estranho a tivesse contagiado com a sua imobilidade.<br />

De repente ele virou a cabeça e Meggie teve a impressão de que<br />

olhava diretamente em seus olhos. Ela pulou da cama tão afoita<br />

que o livro aberto caiu no chão. Descalça, saiu correndo pelo<br />

corredor escuro. Estava frio na velha casa, embora já fosse final<br />

de maio.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!