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CORNELIA FUNKE Ilustrações - CloudMe

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Língua Encantada levou um susto quando tocou o<br />

esqueleto na escuridão. Ele parecia pequeno, mal possuía o<br />

tamanho para ser o esqueleto de um adulto, e jazia<br />

pacificamente ali, no estreito compartimento subterrâneo,<br />

encolhido como se tivesse se deitado para dormir. Talvez Farid<br />

não sentisse medo por ele parecer tão pacífico. Se havia algum<br />

espírito ali embaixo, com certeza era aquele, mas não passava<br />

de uma figura triste e pálida, da qual não era preciso ter medo.<br />

O espaço ficou apertado quando Farid tapou o buraco<br />

com a prancha novamente. Língua Encantada era grande, quase<br />

grande demais para o esconderijo, mas estar perto dele era<br />

tranqüilizador, mesmo o seu coração batendo tão depressa<br />

quanto o de Farid. O garoto sentia cada batida enquanto os dois<br />

estavam ali agachados, lado a lado, escutando o que acontecia lá<br />

fora.<br />

As vozes se aproximaram, mas ainda não era possível<br />

ouvi-las nitidamente, a terra as abafava como se fossem algo do<br />

outro mundo. Em certo momento um pé pisou no metal, e<br />

Farid cravou os dedos no braço de Língua Encantada. Ele não<br />

o largou até o silêncio voltar sobre as suas cabeças. Demorou<br />

muito tempo para eles confiarem novamente no silêncio, um<br />

tempo tão interminavelmente longo que Farid chegou a virar a<br />

cabeça algumas vezes com a impressão de que o esqueleto se<br />

mexia.<br />

Eles de fato não estavam mais lá quando Língua<br />

Encantada ergueu a prancha com cuidado e espiou para fora.<br />

Apenas os grilos estrilavam sem parar, e um pássaro assustado<br />

levantou vôo do muro carbonizado.<br />

Eles haviam levado tudo, os cobertores, o pulôver de<br />

Farid, dentro do qual ele se enfiava à noite como um marisco<br />

numa concha, até mesmo a atadura ensangüentada que Língua<br />

Encantada enrolara em sua cabeça na noite em que eles quase<br />

haviam sido fuzilados.<br />

— E daí? — disse Língua Encantada, quando estavam<br />

ao lado dos restos da fogueira. — Hoje à noite não

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