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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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urguês filho do povo e, ao mesmo tempo, os sonhos cavalheirescos<br />

e a ânsia de renúncia a uma época em declínio. Enlaça duas épocas<br />

e reúne todos os contrastes <strong>da</strong>quele século em transição (IRIARTE,<br />

Op. cit., p. 34).<br />

Curiosamente, Francisco de Assis se posicionou em um outro<br />

nível de questionamento em relação às explorações econômicas que já<br />

<strong>per</strong>cebera em sua região. A partir disso, Francisco<br />

(...) não se limita a rejeitar. Ele se interroga. Escolheu a pobreza, mas<br />

não põe em causa a sinceri<strong>da</strong>de, a fé muito real dos mercadores.<br />

Conserva, diante do dinheiro, o princípio que manterá em todos<br />

os domínios: não impõe sua regra a não ser a si próprio e a seus<br />

irmãos (FRANCO JÚNIOR, Op. cit. p. 114).<br />

Seus “irmãos” foram, <strong>des</strong>te modo, bem acolhidos nos meios urbanos,<br />

pois pregavam ao pobre e ao rico, ao fraco e ao poderoso, usavam<br />

roupas pobres, mas jamais criticavam os que usavam roupas finas e<br />

caras. Transitavam muito bem entre os dois mundos, aparentemente,<br />

antagônicos, como fazia seu mestre e fun<strong>da</strong>dor Francisco que<br />

(...) por nascimento, <strong>per</strong>tencia à nova socie<strong>da</strong>de dos artesãos e<br />

comerciantes que abria caminho na vi<strong>da</strong> pública dos municípios<br />

italianos; porém, seu tem<strong>per</strong>amento cavalheiresco o fazia sintonizar<br />

com o ambiente feu<strong>da</strong>l dos cantos de gesta e com as virtu<strong>des</strong><br />

humanas <strong>da</strong> cavalaria an<strong>da</strong>nte: cortesia, leal<strong>da</strong>de, liberali<strong>da</strong>de,<br />

valentia, compaixão pelos seres débeis e indefesos. Em sua vi<strong>da</strong>,<br />

vemos alternar-se o impulso incontido <strong>da</strong> ação, ao <strong>per</strong>correr o<br />

mundo, e a atração pela solidão e pela intimi<strong>da</strong>de fraterna e<br />

sossega<strong>da</strong> (IRIARTE, Op. cit. p. 39).<br />

Se por um lado, Francisco de Assis conseguia se locomover entre<br />

o mundo feu<strong>da</strong>l e o espírito <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>des</strong>, por outro, em seu caminho<br />

espiritual frente a uma fraterni<strong>da</strong>de religiosa que com o tempo se<br />

transformaria numa Ordo, fez o possível para evitar que as relações<br />

entre seus “irmãos de hábito” imitassem os antigos modelos feu<strong>da</strong>is.<br />

Para o historiador <strong>da</strong> Igreja, Ildefonso Silveira, Francisco<br />

(...) não se deixou contaminar por certos costumes do tempo, por<br />

exemplo evitou o espírito feu<strong>da</strong>l dentro de sua Ordem, a intolerância<br />

do regime de Cristan<strong>da</strong>de, a busca <strong>da</strong> riqueza e do dinheiro como<br />

fonte de poder, característicos do sistema comunal. No entanto,<br />

imbuiu-se de outros, purificando-os, por exemplo: o espírito<br />

cavalheiresco não a serviço <strong>da</strong> guerra, mas, de Jesus Cristo, a<br />

mobili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s comunas, a mobili<strong>da</strong>de e os aspectos positivos dos<br />

movimentos reformatórios <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média (...) (SILVEIRA, Apud.,<br />

MOREIRA, 1996, p. 15).<br />

No âmbito cultural, é no clima provocante <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>des</strong> que o ensino<br />

se <strong>des</strong>envolveu e fez nascer as primeiras universi<strong>da</strong><strong>des</strong> europeias. O<br />

saber, que durante séculos repousava nas mãos de clérigos ou protegido<br />

dentro dos muros maciços dos antigos mosteiros, aos poucos também<br />

ganhava os novos ares citadinos com seus ritmos e suas necessi<strong>da</strong><strong>des</strong><br />

sui generis.<br />

É ver<strong>da</strong>de que no final do século XII, os burgueses já haviam<br />

estimulado a criação de escolas urbanas, mas, mesmo nessas<br />

condições, uma boa parte dos filhos dos comerciantes era educa<strong>da</strong> à<br />

sombra <strong>da</strong>s catedrais. É o caso do próprio Francisco de Assis que<br />

(...) possuía a cultura média dos que, não tendo cursado o trivium<br />

e o quadrivium, não podiam figurar entre os clerici ou literatti.<br />

Gostava de chamar-se de simples e inculto (idiota). Contudo não<br />

era um ignorante; dominava bastante bem o latim corrente, que<br />

havia cursado na escola <strong>da</strong> igreja local de São Jorge (IRIARTE,<br />

Op. cit., p. 39).<br />

Como se pode <strong>per</strong>ceber, a ci<strong>da</strong>de medieval oferecia condições<br />

para a criação de novas formas de educação. As escolas monásticas<br />

começaram, assim, a <strong>per</strong>der espaço para as novas tendências e buscas<br />

de conhecimento. As novas escolas planta<strong>da</strong>s no meio dos centros<br />

urbanos<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 9<br />

| História | 2011

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