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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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fazer um apostolado nos centros urbanos era tão surpreendente que<br />

ain<strong>da</strong> em meados do século XIII havia inquietações sobre a presença<br />

dos fra<strong>des</strong> nas ci<strong>da</strong><strong>des</strong>, Le Goff recor<strong>da</strong> que<br />

(...) essa escolha urbana aliás suscitou discussões <strong>da</strong>s quais<br />

fez um eco um texto franciscano atribuído a São Boaventura:<br />

as Determinationes quaestionum su<strong>per</strong> Regulam Fratrum<br />

Minorum, cuja quinta <strong>per</strong>gunta é: “Por que os fra<strong>des</strong> moram mais<br />

frequentemente nas ci<strong>da</strong><strong>des</strong> e nas aldeias fortifica<strong>da</strong>s? (Cur fratres<br />

frequentius maneant in civitatibus et oppidis?) (LE GOFF, Id.).<br />

O fato é que São Francisco nasceu num <strong>per</strong>íodo e numa região<br />

marca<strong>da</strong> pelo grande <strong>des</strong>envolvimento do Ocidente medieval. A<br />

população aumentava exponencialmente na mesma medi<strong>da</strong> que a<br />

economia se <strong>des</strong>envolvia a passos largos, principalmente na Itália<br />

do norte e central. A ci<strong>da</strong>de não tardou, assim, a <strong>da</strong>r os primeiros<br />

alertas de necessi<strong>da</strong>de tanto de alimento material quanto de alimento<br />

espiritual.<br />

A passagem de um modo de vi<strong>da</strong> do campo para o modo urbano<br />

não se deu <strong>da</strong> noite para o dia, mas sim em um processo lento e<br />

heterogêneo entre as diversas regiões <strong>da</strong> Europa. Pode-se dizer<br />

inclusive que o campo já havia ex<strong>per</strong>imentado algumas novi<strong>da</strong><strong>des</strong> do<br />

progresso:<br />

“a charrua com ro<strong>da</strong>s e com aveica dissimétricas substitui nas<br />

planícies o arado de pouca eficiência, o novo sistema de atrelar<br />

substitui o boi pelo cavalo, mais produtivo, novas culturas são<br />

introduzi<strong>da</strong>s na rotativi<strong>da</strong>de torna<strong>da</strong> trienal, os progressos dos<br />

pastos artificiais <strong>per</strong>mitem o <strong>des</strong>envolvimento <strong>da</strong> criação” (LE<br />

GOFF, Ibid., p. 24).<br />

A união <strong>des</strong>ses fatores, ou seja, <strong>des</strong>sas melhorias qualitativas <strong>da</strong><br />

produção agrária com o aumento <strong>da</strong> população que começava a se<br />

agrupar em aldeias e em volta do castelo (incastellamento) favoreceu<br />

o surgimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>des</strong>, que, por sua vez, não mais correspondiam às<br />

ci<strong>da</strong><strong>des</strong> greco-romanas ou mesmo às ci<strong>da</strong><strong>des</strong> <strong>da</strong> alta I<strong>da</strong>de Média, isto<br />

é, com suas funções de centros militares e administrativos. Ao contrário,<br />

as novas ci<strong>da</strong><strong>des</strong> medievais nascem com uma natureza diferente, pois<br />

se tornam, nesse momento, centros políticos, econômicos e culturais.<br />

Para o medievalista, Lázaro Iriarte, as transações marítimas pelo Mar<br />

Mediterrâneo tiveram um papel relevante na formação <strong>des</strong>sas ci<strong>da</strong><strong>des</strong>.<br />

Para o autor,<br />

(...) ao alvorecer do século XIII, começava a esfacelar-se a uni<strong>da</strong>de<br />

do Império Germânico e entrava em crise a contextura feu<strong>da</strong>l <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de. Na Itália, e nas regiões <strong>da</strong> Europa abertas ao tráfego<br />

marítimo, surgia uma nova força, debatendo-se contra essas duas<br />

instituições medievais: a comuna. Era constituí<strong>da</strong> pela nova classe<br />

social dos artesãos e comerciantes, com uma nova dinâmica urbana<br />

de tendência democrática, com uma nova economia monetária,<br />

com sua mobili<strong>da</strong>de oposta à estabili<strong>da</strong>de latifundiária e, também,<br />

com novos delineamentos éticos e novas exigências religiosas<br />

(IRIARTE, 1985, p. 33).<br />

É evidente que, ao lado dos progressos <strong>da</strong>s transações marítimas<br />

que favoreciam o comércio, a ci<strong>da</strong>de <strong>per</strong>mitia também maior<br />

<strong>des</strong>envolvimento de um artesanato bem diversificado, <strong>da</strong>ndo origem<br />

a setores que vão, aos poucos, se “industrializando”. É o caso <strong>da</strong><br />

<strong>construção</strong> e <strong>da</strong> tecelagem. A ci<strong>da</strong>de revelava-se, <strong>des</strong>te modo, como<br />

um lugar privilegiado para as trocas que, por sua vez, atraíam as<br />

feiras e os mercados que alimentam o comércio, concedendo grande<br />

importância a um novo <strong>per</strong>sonagem <strong>da</strong> nova vi<strong>da</strong> urbana: o mercador.<br />

Do ponto de vista econômico,<br />

(...) o início do século XIII assiste a uma grande reviravolta na<br />

economia ocidental. Dois fenômenos maiores se inscrevem<br />

tanto no quadro <strong>da</strong>s ideologias e <strong>da</strong>s mentali<strong>da</strong><strong>des</strong> como no <strong>da</strong>s<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 7<br />

| História | 2011

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