Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP
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e outras fontes jurídicas franciscanas, tiveram que ser traduzi<strong>da</strong>s do<br />
italiano e do latim. To<strong>da</strong>s essas fontes foram <strong>des</strong>critas detalha<strong>da</strong>mente<br />
no decorrer <strong>des</strong>te trabalho.<br />
Neste estudo, optou-se por utilizar o método comparativo para<br />
a análise <strong>des</strong>sas antigas biografias sobre São Francisco. O intuito,<br />
conforme pode ser observado principalmente no segundo capítulo,<br />
foi comparar as fontes proscritas, isto é, as biografias escritas<br />
ou influencia<strong>da</strong>s pela vertente dita celaniana e a Legen<strong>da</strong> Maior,<br />
de São Boaventura, na tentativa de identificar as aproximações<br />
e os distanciamentos, os acréscimos e os silêncios, entres essas<br />
biografias.<br />
O trabalho foi divido em três capítulos, respeitando uma espécie<br />
de cronologia “tradicional”, isto é, iniciando por uma visão geral<br />
sobre o contexto sociocultural do século XIII, oferecendo as principais<br />
características de um século marcado por profun<strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças de<br />
ordem social, econômica, política, cultural e religiosa e buscando<br />
compreender a “novi<strong>da</strong>de” do movimento franciscano neste cenário<br />
histórico. A segun<strong>da</strong> parte, apoia<strong>da</strong> por uma sóli<strong>da</strong> reflexão sobre a<br />
natureza peculiar do gênero literário hagiográfico, debruçou-se sobre<br />
uma análise breve, mas nem por isso su<strong>per</strong>ficial, <strong>da</strong>s biografias de<br />
São Francisco escritas antes <strong>da</strong> Legen<strong>da</strong> Maior, tentando vislumbrar<br />
nelas os vários “rostos” construídos para o santo. Enfim, na terceira<br />
parte, este estudo tratou de investigar mais a fundo o projeto de<br />
reestruturação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Ordem franciscana e <strong>per</strong>ceber suas<br />
implicações diretas e indiretas na <strong>construção</strong> de uma nova imagem de<br />
São Francisco de Assis.<br />
Durante esses quase oitocentos anos de história franciscana,<br />
muitos rostos foram <strong>da</strong>dos ao “santo de Assis”. Este trabalho teve,<br />
assim, a intenção de reavivar as inquietações sobre as origens <strong>des</strong>ta<br />
busca, já que, por vários séculos e até em nossos dias videmus <strong>nunc</strong><br />
<strong>per</strong> speculum et aenigmate2 .<br />
1 O AMBIENTE SOCIOCULTURAL E<br />
RELIGIOSO DO SÉCULO XIII<br />
Francisco de Assis3 foi um homem medieval. Apesar <strong>da</strong>s tentativas<br />
modernas de conceder a ele um status de homem a frente de seu<br />
tempo, é na I<strong>da</strong>de Média que deve ser procurado e compreendido a<br />
ambiência de seu carisma e de sua mensagem que encheu de fascínio<br />
e, ao mesmo tempo, <strong>des</strong>afiou tanto os seus contemporâneos quanto<br />
as futuras gerações de seus devotos e seguidores. Francisco de Assis<br />
fez parte de um mundo em que a “dor, alegria, calami<strong>da</strong><strong>des</strong>, festa,<br />
devoções, e to<strong>da</strong> uma diversi<strong>da</strong>de de ex<strong>per</strong>iências eram vivi<strong>da</strong>s de uma<br />
maneira mais intensa” (MAZZUCO, 2001, p. 19).<br />
As pesquisas sobre a I<strong>da</strong>de Média, torna<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s e<br />
atraentes a partir dos esforços de medievalistas do século XX, como<br />
Marc Bloch, Jacques Le Goff, J.C. Smith, Georges Duby, entre outros,<br />
além de oferecerem novas ferramentas de investigação historiográfica,<br />
também conseguiram dis<strong>per</strong>sar algumas nuvens escuras que, <strong>des</strong>de o<br />
Renascimento, assombravam o <strong>per</strong>íodo convencional e di<strong>da</strong>ticamente<br />
entendido entre o século V e o século XV.<br />
Entretanto, mesmo com as novas luzes e surpreendentes<br />
<strong>des</strong>cobertas, o medievo ain<strong>da</strong> continua sendo um enigma, uma<br />
sutil provocação. Martin Heidegger (1889-1976), um dos principais<br />
expoentes <strong>da</strong> filosofia do século XX, talvez seja quem melhor definiu<br />
o homem moderno e o fez a partir de dois modos de existência frente<br />
à reali<strong>da</strong>de: a distração e o esquecimento. Talvez, esta preocupante<br />
Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 4<br />
| História | 2011