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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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pelas Constituições, que “a Ordem em si tem os instrumentos<br />

para eliminar os abusos e os defeitos, que são atos pessoais e não<br />

estruturais” (MERLO, Op. cit., p. 121), no lado de fora <strong>da</strong> Ordem havia<br />

ameaças a serem combati<strong>da</strong>s também com pulso forte.<br />

Pode-se dizer que a crise externa enfrenta<strong>da</strong> pela Ordem<br />

franciscana, em meados do século XIII, tivera seu centro nos meios<br />

universitários, principalmente na Universi<strong>da</strong>de de Paris. É bem sabido<br />

que os fra<strong>des</strong> dominicanos<br />

(...) <strong>des</strong>de a origem procuraram um lugar nas universi<strong>da</strong><strong>des</strong>.<br />

O próprio objetivo de seu fun<strong>da</strong>dor – a pregação e a luta<br />

contra a heresia – os levava em busca de uma sóli<strong>da</strong> bagagem<br />

intelectual. Os franciscanos logo chegaram à universi<strong>da</strong>de,<br />

acorrendo mais a ela à medi<strong>da</strong> que assumiam uma influência<br />

crescente na Ordem aqueles que se afastavam, ao menos<br />

sob alguns pontos de vista, <strong>da</strong>s posições de São Francisco,<br />

hostil, como se sabe, a uma ciência em que via um obstáculo<br />

à pobreza, ao <strong>des</strong>pojamento, à fraterni<strong>da</strong>de para com os<br />

humil<strong>des</strong> (LE GOFF, 2006, p. 129).<br />

Os choques mais violentos entre os mestres seculares e os mestres<br />

Mendicantes (dominicanos e franciscanos) ocorreram de 1252-1290<br />

em Paris, especialmente entre os anos de 1252-1259, de 1265-1271<br />

e de 1282-1290. Também na Universi<strong>da</strong>de de Oxford ocorreram estes<br />

embates de 1303-1320 e, por fim, de 1350-1360 (Cf. LE GOFF, Id.).<br />

Para este estudo, importará somente as querelas ocorri<strong>da</strong>s em Paris<br />

(1252-1259) e que teve como principal expoente um mestre secular<br />

chamado Guilherme de Santo Amor, autor de uma obra que atacava<br />

principalmente os franciscanos, intitula<strong>da</strong> De <strong>per</strong>iculis novissimorum<br />

temporum (1256).<br />

Entre os <strong>per</strong>sonagens que fizeram parte <strong>des</strong>sas disputas, podemos<br />

citar as ordens mendicantes e seus mestres parisienses; a maioria dos<br />

mestres seculares <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris, o papado, o rei de França,<br />

e os estu<strong>da</strong>ntes.<br />

Quais foram os motivos <strong>des</strong>sas <strong>des</strong>avenças entre Mendicantes e<br />

seculares? Podemos dizer que houve duas frentes de ataques: num<br />

primeiro momento, de natureza de cunho mais corporativa e, num<br />

segundo e mais violento momento, de natureza mais dogmática.<br />

Inicialmente, os mestres seculares acusaram os mestres<br />

Mendicantes de violarem os estatutos universitários: os fra<strong>des</strong>, assim,<br />

foram acusados de lecionar sem terem um laureamento em Artes,<br />

mas somente uma graduação em Teologia; acusados de terem duas<br />

cadeiras no curso de Teologia quando os estatutos só previam uma para<br />

essas ordens religiosas; acusados de rom<strong>per</strong>em com a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

universitária ao continuarem <strong>da</strong>ndo aulas mesmo quando os professores<br />

seculares estavam em greve; acusados de fazerem uma concorrência<br />

<strong>des</strong>leal, monopolizando os estu<strong>da</strong>ntes; e, finalmente, de viverem de<br />

esmolas e não se sentirem responsáveis pelas reivindicações materiais<br />

dos universitários.<br />

Jacques Le Goff ilustra bem o drama <strong>des</strong>ses mestres seculares<br />

ao considerar que se tratavam mesmo de queixas exigentes e bem<br />

significativas, pois “os universitários rapi<strong>da</strong>mente tomaram consciência<br />

<strong>da</strong> incompatibili<strong>da</strong>de do duplo papel de <strong>per</strong>tencer a uma ordem, ain<strong>da</strong><br />

que de estilo novo, e a uma corporação, ain<strong>da</strong> que de certa forma uma<br />

corporação clerical e original” (LE GOFF, Ibid., p. 130).<br />

Diante <strong>da</strong>s reclamações dos mestres seculares <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />

Paris, o papa Inocêncio IV revogou alguns dos privilégios concedidos<br />

aos fra<strong>des</strong> Mendicantes. Entretanto, seu sucessor, o papa Alexandre<br />

IV, que havia sido antes cardeal protetor dos franciscanos, anulou<br />

esta bula um mês depois com uma bula chama<strong>da</strong> Nec insolitum, e,<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 35<br />

| História | 2011

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