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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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9.<br />

A mu<strong>da</strong>nça muito frequente e dispendiosa de locais, o que tornava<br />

os fra<strong>des</strong> muito inconstantes;<br />

10. E, finalmente, o exagero nos gastos.<br />

Para o historiador francês, Theophile Desbonnets,<br />

(...) que tais defeitos possam ter existido, admitimo-lo (...). Mas<br />

que, após os dez anos de generalato de um homem tão zeloso<br />

como João de Parma, esta enumeração de vícios pu<strong>des</strong>se ser<br />

considera<strong>da</strong> como um quadro referencial <strong>da</strong> Ordem é que provoca<br />

dúvi<strong>da</strong>s. Parece evidente que Boaventura, que até esta altura não<br />

ocupara cargo algum de governo ou de administração dentro <strong>da</strong><br />

Ordem, se deixou intoxicar (DESBONNETS, 1987, p. 137).<br />

Nota-se que, mesmo que Frei Boaventura não tivesse uma visão<br />

de totali<strong>da</strong>de em relação à Ordem que acabara de encabeçar, não<br />

significava que fosse alheio aos problemas que corroíam o movimento<br />

franciscano por dentro. Se, para Desbonnets, parece que a supracita<strong>da</strong><br />

“carta dos dez defeitos” foi uma atitude pouco amistosa para um frade<br />

recém-eleito para o mais alto cargo de uma <strong>da</strong>s ordens religiosas mais<br />

celebra<strong>da</strong>s <strong>da</strong>quele momento, para o pesquisador italiano, Giovanni<br />

Merlo, este documento foi apenas<br />

(...) um primeiro programa em negativo, em vista de um mais eficaz<br />

disciplinamento <strong>da</strong> Ordem, que teria incluído intervenções de<br />

“eliminação do conflito” e uma formalização teológico-ideológica<br />

do ser Frade menor (MERLO, Op. cit., p. 118).<br />

É ain<strong>da</strong> Merlo quem observa que, se esta “carta” era somente um<br />

esboço de uma reestruturação <strong>da</strong> Ordem senti<strong>da</strong> como urgentemente<br />

necessária por Frei Boaventura, este projeto tomaria duas direções<br />

que se interligavam: uma jurídico-institucional e outra hagiográficoteológica”<br />

(MERLO, Ibid., p. 119).<br />

A crise interna vivi<strong>da</strong> pela Ordem franciscana, já bem ilustra<strong>da</strong> nos<br />

“dez defeitos” citados, pedia soluções drásticas por parte do governo<br />

geral. Por isso, na linha de uma reestruturação jurídico-institucional, a<br />

criação de Constituições26 mais claras e precisas deveria ser, para Frei<br />

Boaventura, um primeiro passo para a execução de seu programa de<br />

governo. Em relação a isso, sabemos que<br />

(...) <strong>des</strong>de a aprovação <strong>da</strong> Regra, em 1223, (...) Capítulos gerais<br />

haviam se realizado e ca<strong>da</strong> um deles havia promulgado estatutos<br />

para precisar a aplicação <strong>da</strong> Regra. (...) Todos estes estatutos<br />

formavam um conjunto não muito coerente e, provavelmente,<br />

ignorado pela maioria dos fra<strong>des</strong> e, talvez, até por alguns<br />

ministros provinciais. Boaventura fez unificar to<strong>da</strong> esta legislação,<br />

completou-a e fê-la aprovar pelo Capítulo de Narbonne, em 1260,<br />

três anos após sua eleição (DESBONNETS, Op. cit., p. 137).<br />

Para Desbonnets, estas novas Constituições tiveram um aspecto<br />

demasia<strong>da</strong>mente ás<strong>per</strong>o, tão ás<strong>per</strong>o que sequer mencionou a herança<br />

espiritual deixa<strong>da</strong> por São Francisco27 , como se obseva:<br />

(...) a primeira coisa que choca o leitor <strong>des</strong>tas Constituições,<br />

ditas de “Narbonne” (...) é a ausência quase total de referências<br />

a São Francisco. Mais de um <strong>des</strong>ses artigos regulamentares teria<br />

merecido uma alusão a São Francisco, o apelo a sua “intenção”,<br />

quando escreveu a Regra ou o exemplo de seu modo de agir. Mas<br />

não! (DESBONNETS, Id.).<br />

Desbonnets aponta para uma característica relevante que marcou<br />

todo o projeto de reestruturação do carisma franciscano: a centralização.<br />

Como já foi tratado nos capítulos anteriores, a Ordem franciscana<br />

na época de Frei Boaventura já havia inicia<strong>da</strong>, há algumas déca<strong>da</strong>s<br />

atrás, um caminho de clericalização, isto é, de sacerdotalização. Isso<br />

implicava, às vezes, sutil outras vezes mais explícita, <strong>des</strong>valorização<br />

dos fra<strong>des</strong> que não eram sacerdotes – os chamados “irmãos leigos”<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 33<br />

| História | 2011

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