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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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Como se pode ver, foi preciso ficar atento às “armadilhas” do<br />

universo hagiográfico. Para poder pisar neste terreno delicado, evitando<br />

as armadilhas, e sem esquecer que to<strong>da</strong> “Vi<strong>da</strong>1 hagiográfica é uma<br />

história, ain<strong>da</strong> que a narrativa se organize em torno a manifestações<br />

de virtu<strong>des</strong> e de pie<strong>da</strong>de” (LE GOFF, Ibid., p. 23), vários autores e<br />

teóricos foram utilizados nesse estudo. Entre os principais, citamos os<br />

estudos sobre <strong>memória</strong> e monumento, de Jacques Le Goff, para quem<br />

a <strong>memória</strong>, além de ser um fator essencial na <strong>construção</strong> <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />

de um indivíduo ou de um grupo, era ain<strong>da</strong> um eficaz instrumento de<br />

poder; ain<strong>da</strong> para as questões sobre <strong>memória</strong> e esquecimento as<br />

contribuições de Paul Ricoeur foram de grande auxílio, principalmente<br />

no que se refere ao seu conceito de “<strong>memória</strong> apazigua<strong>da</strong>” e de<br />

“esquecimento feliz”, conceitos-chave que, para o filósofo, fazem-se<br />

essenciais para se compreender a <strong>construção</strong> <strong>da</strong> História; para as<br />

reflexões sobre a literatura hagiográfica e seus diálogos com a História,<br />

foram indispensáveis as análises de Michel de Certeau sobre as<br />

relações, nem sempre tão claras, entre a noção de “ver<strong>da</strong>de” ofereci<strong>da</strong><br />

pelo olhar científico e histórico e a idéia de “ver<strong>da</strong>de” defendi<strong>da</strong> por um<br />

hagiógrafo medieval; e, finalmente, as observações de Roger Chartier<br />

sobre a representação e <strong>per</strong>cepção <strong>da</strong> santi<strong>da</strong>de foram também de<br />

grande importância, uma vez que o que estava em jogo nas várias<br />

biografias sobre São Francisco não era sua santi<strong>da</strong>de, mas como esta<br />

deveria ser representa<strong>da</strong> e <strong>per</strong>petua<strong>da</strong>.<br />

Entre os historiadores menos conhecidos, mas nem por isso<br />

menos importantes, citados neste trabalho, <strong>des</strong>tacamos os trabalhos<br />

do francês Theophile Desbonnets, que em sua provocante obra Da<br />

intuição à instituição, tentou responder à uma <strong>per</strong>gunta <strong>per</strong>tinente: “O<br />

que sobrou <strong>da</strong> intuição original de Francisco de Assis nos dias de hoje?”.<br />

A maior contribuição de Desbonnets para nosso estudo foi o modo<br />

minucioso com que investigou e rastreou as primeiras biografias de<br />

São Francisco. Os estudos do italiano Giovanni Merlo, franciscanólogo,<br />

em sua obra Em nome de São Francisco, também foram preciosos na<br />

medi<strong>da</strong> que apresentou suas análises articulando não só as antigas<br />

biografias do santo com outros documentos <strong>da</strong> Ordem, mas também<br />

com documentos eclesiásticos <strong>da</strong> época, como bulas papais, decretos<br />

pontifícios, cartas apostólicas, etc. As contribuições do especialista<br />

em “fontes franciscanas”, o brasileiro Ildefonso Silveira, não devem<br />

ser deixa<strong>da</strong>s de lado, já que ofereceram instrumentos práticos e bem<br />

acessíveis sobre as particulari<strong>da</strong><strong>des</strong> de ca<strong>da</strong> um <strong>des</strong>ses documentos<br />

franciscanos.<br />

As fontes primárias principais utiliza<strong>da</strong>s no presente trabalho<br />

de pesquisa foram produzi<strong>da</strong>s no <strong>per</strong>íodo de 1229 a 1266. Em sua<br />

maioria, essas fontes são de cunho hagiográfico, como é caso, entre<br />

as principais, <strong>da</strong> Vita I (1229), Vita II (1247) e o Tractatus Miraculis,<br />

escritas por Frei Tomás de Celano; <strong>da</strong> Legen<strong>da</strong> Maior Sancti Francisci<br />

(1263), compila<strong>da</strong> por São Boaventura. Aqui aproveitamos para pedir<br />

a paciência do leitor que, talvez, poderá, eventualmente, entediarse<br />

com as longas citações de trechos <strong>des</strong>sas biografias presentes,<br />

principalmente no segundo capítulo, e que compreen<strong>da</strong> que, se assim<br />

foi deliberado, foi para <strong>per</strong>mitir que o leitor tivesse acesso ao ritmo de<br />

narrativa tipicamente medieval <strong>des</strong>sas fontes.<br />

Também foram consultados documentos <strong>da</strong> época que possuem<br />

cunho jurídico, como as Deffinitiones facte in capitulo parisiensi ordinis<br />

fratrum minorum (1266) e cunho teológico, como o Itinerarium mentis<br />

in Deum (1260). A maioria <strong>des</strong>ses documentos estava disponível em<br />

língua portuguesa, entretanto, documentos, como o “Decreto de 1266”<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 3<br />

| História | 2011

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