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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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imagens de São Francisco conti<strong>da</strong>s nessas biografias, já que estas não<br />

apresentavam variações que fossem dignas de nota. Somente para<br />

ilustração, aqui serão apresenta<strong>da</strong>s essas outras obras hagiográficas<br />

que, de alguma maneira, aju<strong>da</strong>ram a compor e divulgar a <strong>memória</strong> de<br />

São Francisco neste <strong>per</strong>íodo, com algumas <strong>da</strong>s características que<br />

lhes eram mais inerentes.<br />

O já mencionado Tractatus Miraculis (“Tratado dos Milagres”)<br />

<strong>da</strong>ta de 1250-1253 e foi compilado sob o pedido do então ministro<br />

geral, Frei João de Parma. A intenção do Tractatus era de mostrar<br />

como o culto a São Francisco tinha se espalhado por to<strong>da</strong> a Europa,<br />

ain<strong>da</strong> poucos anos depois de sua morte. Além de celebrar o santo<br />

pelos seus milagres, essa obra refletia o momento histórico em que a<br />

Ordem franciscana estava passando, isto é, os ataques externos18 por<br />

parte do clero secular e as ameaças internas <strong>da</strong> influencia <strong>da</strong> heresia<br />

joaquimita. Fiel a tradição celanina, no Tractatus São Francisco era<br />

identificado como um “outro Cristo” (alter Christus), pois centralizava<br />

suas narrativas nos estigmas (chagas) que o santo recebera no Monte<br />

Alverne no fim de sua vi<strong>da</strong> e novamente <strong>da</strong> “novi<strong>da</strong>de” franciscana.<br />

Pode-se dizer, em suma, que “se suspeita que Tomás de Celano<br />

<strong>des</strong>ejou conciliar o ideal franciscano primitivo com aquele que estava<br />

se <strong>des</strong>envolvendo na Ordem, <strong>da</strong>ndo assim uma imagem inexata de<br />

Francisco” (VANDENBROUCKE, 1991, p. 115).<br />

A obra intitula<strong>da</strong> De inceptione vel fun<strong>da</strong>mento Ordinis et actus<br />

illorum Fratrum Minorum qui fuerunt primi in Religione et socii Beati<br />

Franisci19e conhecido como Anônimo Perusino pode ser <strong>da</strong>tado de 1240-<br />

1241, mas ain<strong>da</strong> não há consenso sobre a <strong>da</strong>tação do texto original, já<br />

que somente uma cópia sua foi encontra<strong>da</strong> e esse manuscrito é mais<br />

tardio, do século XIV. Se for ver<strong>da</strong>de que foi escrita nos anos quarenta<br />

do século XIII, o Anônimo Perusino pode ser a primeira vi<strong>da</strong> de São<br />

Francisco <strong>des</strong>tina<strong>da</strong> especialmente aos fra<strong>des</strong>. Há que afirme que não<br />

se tratava de uma biografia, propriamente dita, já que seu assunto<br />

principal não é o santo, mas o começo e o <strong>des</strong>envolvimento <strong>da</strong> Ordem<br />

franciscana. No seu conjunto geral não pode ser considera<strong>da</strong> uma<br />

obra polêmica, pois respeitava muito os valores tidos como originais<br />

<strong>da</strong> primeira fraterni<strong>da</strong>de franciscana, especialmente quando tende a<br />

evidenciar a pobreza e a alegria presente na vi<strong>da</strong> cotidiana de São<br />

Francisco e de seus primeiros companheiros.<br />

A Legen<strong>da</strong> Perusina, embora só se conserve dela um manuscrito<br />

copiado no século XIV, provavelmente tenha sido composta por volta de<br />

1240 e contém material anterior ain<strong>da</strong> a Vita II. Mesmo que o seu título<br />

- legen<strong>da</strong> – sugerisse uma biografia, isto é, uma vi<strong>da</strong> com começo e fim<br />

com uma sequência, ao menos, minimamente cronológica, esta obra<br />

era mais uma compilação de episódios soltos sobre os atos do santo<br />

de Assis. Ela se calou sobre a juventude de Francisco de Assis e só<br />

tratou dele como mais um membro <strong>da</strong> Ordem que ele mesmo fun<strong>da</strong>ra.<br />

Apresentava o testemunho dos fra<strong>des</strong> que viviam já em conventos,<br />

mas com muita sau<strong>da</strong>de dos primeiros tempos e de sua austeri<strong>da</strong>de.<br />

A Legen<strong>da</strong> Perusina retratou um São Francisco preocupado com os<br />

caminhos que sua Ordem estava começando a trilhar. Era uma época<br />

difícil já que a vi<strong>da</strong> dos fra<strong>des</strong> universitários contrastava com a vi<strong>da</strong><br />

dos fra<strong>des</strong> que viviam nos eremitérios20 , conservando os costumes <strong>da</strong><br />

“primeira hora21 ”. Não é por acaso que nesta legen<strong>da</strong> apareça inúmeras<br />

vezes a Porciúncula22 como “modelo de pureza” <strong>da</strong> Ordem (31 vezes).<br />

A Vita Sancti Francisci, escrita por Juliano de Spira, entre 1232 e<br />

1235, foi considera<strong>da</strong> uma cópia resumi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Vita I, de Celano. Alguns<br />

estudiosos acreditam que esta Vita tinha como objetivo difundir a fama<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 29<br />

| História | 2011

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