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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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logo diante dele, prometeu-lhe obediência e reverência. Os fra<strong>des</strong><br />

choraram e deram altos gemidos de dor, vendo que tinham ficado<br />

órfãos de semelhante pai. (...) Passou a ser súdito até a morte,<br />

comportando-se com mais humil<strong>da</strong>de que qualquer outro (2 Cel<br />

143).<br />

A atitude de São Francisco, aqui exposta por Celano, não deixou<br />

de re<strong>per</strong>cutir nos fra<strong>des</strong> uma sensação de abandono por parte do<br />

seu fun<strong>da</strong>dor. Em outro relato, em resposta a um frade que quase o<br />

repreendeu por sua decisão drástica, o santo não conseguiu esconder<br />

sua tristeza, mesmo tendo entregue sua Ordem a um frade de tão boa<br />

índole como era o caso de Frei Pedro Cattani. A narração de Celano<br />

quase soava como uma profecia <strong>des</strong>astrosa. Conta que esta foi a<br />

resposta <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo santo:<br />

(...) “Filho, amo os fra<strong>des</strong> como posso. Mas haveria de amá-los<br />

mais ain<strong>da</strong> se seguissem meus vestígios, e não me alhearia deles.<br />

Porque há alguns prelados que os conduzem por outros caminhos,<br />

propondo-lhes exemplos dos antigos e fazendo pouco de meus<br />

avisos. Mas depois vão aparecer os resultados do que estão<br />

fazendo” (2 Cel 188).<br />

Por mais que Celano houvesse retratado um São Francisco<br />

sempre muito incisivo, pouco inclinável e às vezes um tanto ás<strong>per</strong>o<br />

no que se referia às questões do poder e <strong>da</strong> hierarquia dentro <strong>da</strong><br />

Ordem, seu primeiro biógrafo não deixou de elencar as virtu<strong>des</strong> que,<br />

segundo o santo, deveriam acompanhar um ministro geral, os ministros<br />

provinciais, e os guardiães dos conventos, numa espécie de “speculum 17<br />

ministrorum” (“Espelho dos Ministros”):<br />

(...) “deve ser um homem - prosseguiu - de vi<strong>da</strong> austeríssima, de<br />

grande discrição, de fama intocável. Um homem que não tenha<br />

amiza<strong>des</strong> particulares, para que não tenha mais amor por uma<br />

parte, gerando um escân<strong>da</strong>lo no conjunto. Um homem amigo do<br />

esforço pela oração, que reserve algumas horas para sua alma<br />

e outras para o rebanho que lhe foi confiado. (...) Deve ser um<br />

homem que, fazendo acepção de pessoas, não olhe as coisas<br />

por ângulo sórdido, que se preocupe tanto com os menores e os<br />

simples quanto com os instruídos e os maiores. Um homem que,<br />

mesmo que lhe tenha sido concedido distinguir-se pelo dom <strong>da</strong><br />

cultura, se <strong>des</strong>taque mais ain<strong>da</strong> pela simplici<strong>da</strong>de, e que cultive a<br />

virtude. (...) Não seja colecionador de livros, nem muito entregue<br />

às leituras, para não roubar de seu encargo o que dá aos estudos.”<br />

(2 Cel 184-185).<br />

Finalmente, no que diz respeito à imagem de São Francisco<br />

retrata<strong>da</strong> na Vita II, Celano traçou uma relação muito forte entre o<br />

santo fun<strong>da</strong>dor e a Regra professa<strong>da</strong> por ele e pelos fra<strong>des</strong>. Diante<br />

dos frequentes abusos de alguns fra<strong>des</strong> feitas a partir de um<br />

<strong>des</strong>contentamento frente à Regra aprova<strong>da</strong> pelo papa Honório III, em<br />

1223, Celano apresentou um São Francisco que su<strong>per</strong>valorizava este<br />

documento, exaltando sua natureza divina e quase <strong>da</strong>ndo-lhes poderes<br />

sobrenaturais:<br />

(...) tinha um zelo ardente pela profissão comum e pela Regra, e<br />

deixou uma bênção especial para os que eram zelosos por ela. Pois<br />

dizia aos seus que a Regra era o livro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a es<strong>per</strong>ança <strong>da</strong><br />

salvação, a medula do Evangelho, o caminho <strong>da</strong> <strong>per</strong>feição, a chave<br />

do paraíso, o pacto <strong>da</strong> aliança eterna. (...) Ensinou que se devia ter<br />

sempre a Regra diante dos olhos para dirigir a vi<strong>da</strong> e, até mais, que<br />

com ela se deveria morrer (...) (2 Cel 208).<br />

É sabido, entre os estudiosos <strong>da</strong> literatura franciscana medieval,<br />

que a maioria <strong>da</strong>s outras biografias compila<strong>da</strong>s na primeira metade do<br />

século XIII, de alguma forma tiveram como base a Vita I e a Vita II de<br />

Frei Tomás de Celano. Desta forma, para os objetivos <strong>des</strong>ta mo<strong>des</strong>ta e<br />

breve pesquisa, não serão aqui analisados de modo pormenorizado as<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 28<br />

| História | 2011

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