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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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comércio de tecidos, os Moriconi de Lucca” (FALBEL, 1995, p. 3). De<br />

outro lado, sua mãe, Donna Pica, “de origem aristocrática, era oriun<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> Provença” (FALBEL, Id.).<br />

O filho de Pedro de Bernardone foi educado na cultura e no<br />

idioma gauleses, ou seja, o “langue d’oil, que na época, segundo a<br />

observação de Sabatier, era a língua internacional <strong>da</strong> Europa e no<br />

norte <strong>da</strong> Itália era a língua dos jogos e dos torneios <strong>da</strong>s pequenas<br />

cortes principescas” (FALBEL, Ibid., p. 4).<br />

Francisco, em sua juventude, pouco se distanciava dos modos<br />

juvenis de nossos tempos. Seus sonhos e ideais, traumas e fracassos<br />

o conduziam e o maceravam, respectivamente, de tal maneira que<br />

se via forçado a fazer escolhas às vezes um tanto incompreensíveis.<br />

Como qualquer jovem de sua época, Francisco “absorveu a literatura<br />

liga<strong>da</strong> ao ciclo do rei Artur e a de Rolando” (FALBEL, Id.).<br />

Mesmo sendo filho de comerciantes, e assim não <strong>per</strong>tencente à<br />

classe tão afama<strong>da</strong> dos nobres e de seu questionável status social,<br />

Francisco “procurava levar um ritmo de vi<strong>da</strong> cavaleiroso, imitando<br />

o comportamento dos nobres, mais que praticando as virtu<strong>des</strong> e os<br />

defeitos <strong>da</strong> burguesia comercial” (LE GOFF, 2001, p. 59).<br />

Seu sonho era se tornar cavaleiro, e fez todo o possível<br />

para que isso se realizasse chegando a ingressar nas fileiras do<br />

exército assisiense na guerra contra a vizinha ci<strong>da</strong>de de Perugia,<br />

onde foi preso e libertado pelo pai, mediante o pagamento de um<br />

resgate. Em outra oportuni<strong>da</strong>de, novamente foi combater nas<br />

Apúlias, mas quando estava em Espoleto, sentiu-se mal e teve que<br />

voltar para casa como um fracassado. Para Le Goff, essa doença<br />

marcou profun<strong>da</strong>mente a conversão e to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> do santo. Para o<br />

historiador,<br />

(...) sobre a natureza <strong>des</strong>sa doença que durou meses na<strong>da</strong><br />

sabemos, mas, <strong>des</strong>de logo, revela-se um traço essencial <strong>da</strong><br />

<strong>per</strong>sonali<strong>da</strong>de física e espiritual de Francisco: trata-se de um<br />

homem doente. Até a morte ele sofrerá de dois tipos de males:<br />

doenças dos olhos e afecções do sistema digestivo: estômago,<br />

baço e fígado. As viagens, as pregações, as fadigas, as práticas<br />

ascéticas agravarão essa saúde precária (LE GOFF, Ibid., p.<br />

63).<br />

A partir de então, Francisco de Assis iniciou um longo processo<br />

de questionamentos sobre o sentido de sua vi<strong>da</strong>, sobre os homens,<br />

sobre a natureza e sobre Deus. Começou, assim, <strong>des</strong>prezar os valores<br />

nos quais havia sido criado até que entrou em um sério conflito com<br />

seu pai ao pegar seu dinheiro e jogar pela janela de sua casa, para<br />

alegria dos pobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Seu pai, depois de o haver espancado,<br />

levou-o até o bispo de Assis, a fim de, diante <strong>da</strong> multidão, <strong>des</strong>erdá-lo<br />

como filho. Francisco, por sua vez, num gesto emblemático e muito<br />

recor<strong>da</strong>do, ficou nu diante de todos e começou uma vi<strong>da</strong> de penitência,<br />

reconstruindo algumas igrejinhas <strong>da</strong> região.<br />

Não ficou muito tempo sozinho, pois a errância de Francisco<br />

(...) pelas ci<strong>da</strong><strong>des</strong> e a sinceri<strong>da</strong>de de suas convicções, alia<strong>da</strong>s a<br />

uma concepção autêntica sobre a vi<strong>da</strong> evangélica, atraíram os<br />

discípulos que viram nele um santo ou um profeta renovador de<br />

uma antiga ver<strong>da</strong>de – já a<strong>nunc</strong>ia<strong>da</strong> nos evangelhos (FALBEL, Op.<br />

cit., p. 8).<br />

Quando acolheu o décimo primeiro companheiro, Francisco achou<br />

necessário compor uma forma vitae (“forma de vi<strong>da</strong>”) que fosse<br />

canonicamente aprova<strong>da</strong> pela Santa Sé, a fim de que seu grupo<br />

de homens não fosse confundido com os inúmeros movimentos<br />

heterodoxos que, naquela época, já conseguiam tirar o sono de bispos<br />

e cardeais <strong>da</strong> Igreja.<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 15<br />

| História | 2011

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