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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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1.3 Francisco DE ASSIS<br />

e o movimento franciscano<br />

Numa legen<strong>da</strong> compila<strong>da</strong> em latim no século XIV intitula<strong>da</strong> Actus<br />

beati Francisci et sociorum eius, cuja tradução mais conheci<strong>da</strong>, em<br />

italiano, foram os Fioretti di San Francesco, há um pequeno relato<br />

que talvez resuma bem a <strong>per</strong>gunta sobre quem foi Francisco de<br />

Assis. A legen<strong>da</strong> narra um episódio em que Frei10 Francisco estava<br />

voltando <strong>da</strong> floresta donde rezava e encontrou Frei Masseo, um de<br />

seus companheiros, murmurando e repetindo uma mesma <strong>per</strong>gunta.<br />

O santo achou estranho e pediu que Frei Masseo lhe dissesse o que<br />

estava contecendo. O frade então repetiu, agora em voz alta, “Por<br />

que a ti? Por que a ti? Por que todos correm atrás de ti e querem vêlo,<br />

tocá-lo e obedecê-lo? Tu não és nobre, nem belo, nem sábio, nem<br />

rico!” 11 .<br />

O fato é que os ecos <strong>da</strong> <strong>per</strong>gunta de Frei Masseo viajaram todos<br />

esses séculos e ain<strong>da</strong> hoje a pessoa de São Francisco continua envolta<br />

em mistério. Isso ocorre porque, segundo, Giovanni Grado Merlo,<br />

medievalista e franciscanólogo italiano, a herança deixa<strong>da</strong> pelo santo<br />

de Assis era<br />

(...) uma “herança difícil”. A herança de Frei Francisco não era<br />

constituí<strong>da</strong> de bens materiais, de um patrimônio cultural, de<br />

eficientes estruturas institucionais. A herança era ele próprio, com<br />

sua quase única vontade/capaci<strong>da</strong>de de renovar entre as pessoas<br />

o “viver segundo a forma do santo Evangelho (MERLO, 2005, p.<br />

19).<br />

Foi esta “difícil herança” que fez com que se produzisse uma<br />

varie<strong>da</strong>de incrível de biografias sobre o “santo de Assis”. Essas<br />

biografias são chama<strong>da</strong>s de Fontes Franciscanas que formam uma<br />

hagiografia muito especial, chama<strong>da</strong> de militante, produzi<strong>da</strong> para<br />

celebrar um santo. São narrativas muito complexas porque passado<br />

e presente nelas coexistem (como veremos no segundo e terceiro<br />

capítulos). Aqui, surge um problema: como ter acesso ao “ver<strong>da</strong>deiro”<br />

São Francisco e ao espírito que tocava aquela primeira fraterni<strong>da</strong>de<br />

por ele fun<strong>da</strong><strong>da</strong>?<br />

Um erudito padre jesuíta, Teilhard de Chardin, talvez tenha sido<br />

quem melhor expressou – em outro contexto, mas que pode servir muito<br />

bem ao estudo do passado franciscano – este drama do problema <strong>da</strong>s<br />

origens. Escreve ele que<br />

(...) na<strong>da</strong> é delicado e fugitivo, por natureza como o começo.<br />

(...) Seu edifício é frágil. Suas dimensões são fracas. Poucos<br />

indivíduos, relativamente, o compõe, e estes mu<strong>da</strong>m rapi<strong>da</strong>mente.<br />

(...) Como agirá o tempo sobre esta região frágil? Inevitavelmente,<br />

<strong>des</strong>truindo-a em seus vestígios. Provocante, mas essencial<br />

fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s origens, cujo sentido deveria penetrar todos os<br />

que se ocupam de história!... Na<strong>da</strong> de tão extraordinário quando<br />

as coisas retrospectivamente nos parecem surgir prontinhas<br />

(CHARDIN, Apud., DESBONNETS, 1987, p. 14).<br />

Mesmo que a vi<strong>da</strong> de Francisco de Assis houvesse inspirado<br />

“<strong>des</strong>de cedo uma literatura na qual len<strong>da</strong> e história, reali<strong>da</strong>de e ficção,<br />

poesia e ver<strong>da</strong>de estão intimamente ligados” (LE GOFF, 2001, p. 58)<br />

é possível, mesmo assim, tentar construir um “retrato” aproximado do<br />

homem por trás do santo.<br />

Francisco nasceu entre os anos de 1181 e 1182. Recebeu,<br />

primeiramente, o nome de João por vontade de seu pai Pedro de<br />

Bernardone, que trabalhava no ofício de comerciante. Curiosamente,<br />

as raízes de Francisco de Assis, nem sempre se encontraram em<br />

Assis; vale salientar que sua família “não era originária de Assis; do<br />

lado paterno ele vinha de Lucca, onde exerceram a manufatura e o<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 14<br />

| História | 2011

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