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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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timidez, já que, nessa época, por um lado, acreditava-se piamente que<br />

a <strong>per</strong>feição espiritual só podia ser alcança<strong>da</strong> nos mosteiros e na fuga<br />

mundi (“fuga do mundo”); e por outro, pela tendência do Evangelho ter<br />

sido usado como uma arma, nas mãos dos grupos heréticos, contra a<br />

Igreja.<br />

Se a Reforma Gregoriana, no século XI, legou aos séculos<br />

seguintes as bases de um poder eclesiástico independente dos poderes<br />

“temporais”, foi no século XIII que a Igreja, além de usufruir <strong>des</strong>sa<br />

autonomia frente às autori<strong>da</strong><strong>des</strong> seculares, conquistou sua hegemonia<br />

sobres os poderes do céu e <strong>da</strong> terra. Para Hilário Franco Júnior,<br />

(...) no século XIII estavam reuni<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as condições para o<br />

exercício do poder papal sobre a comuni<strong>da</strong>de cristã. Em relação<br />

aos clérigos, o papado legisla e julga, tributa, cria ou fiscaliza<br />

universi<strong>da</strong><strong>des</strong>, institui dioceses, nomeia para to<strong>da</strong>s as funções,<br />

reconhece novas ordens religiosas. Em relação aos leigos, julga<br />

em vários assuntos, cobra o dízimo, determina a vi<strong>da</strong> sexual<br />

(casamento, abstinência), regulamenta a ativi<strong>da</strong>de profissional<br />

(trabalhos lícitos e ilícitos), estabelece o comportamento social<br />

(roupas, palavras, atitu<strong>des</strong>), estipula os valores culturais (FRANCO<br />

JÚNIOR, Op.cit., p. 77).<br />

Sem dúvi<strong>da</strong>, a melhor representação <strong>des</strong>se poder espiritual e<br />

temporal conquista<strong>da</strong> no século XIII, foi a figura do papa Inocêncio III,<br />

que, não sem razões, foi considerado, por historiadores modernos, o<br />

papa mais poderoso <strong>da</strong> história do Cristianismo. Entretanto, Lázaro<br />

Iriarte, chama a atenção para certa abertura de seu pontificado em<br />

relação às inquietações espirituais dos leigos, quando afirma que<br />

(...) <strong>des</strong>de 1198, ocupava a sede de Pedro um papa de grande<br />

<strong>per</strong>sonali<strong>da</strong>de e de ampla visão religiosa e política: Inocêncio III.<br />

Estava profun<strong>da</strong>mente convencido de ser cabeça <strong>da</strong> christianitas, a<br />

ci<strong>da</strong>de de Deus na terra, e <strong>da</strong> supremacia do “sacerdócio” sobre o<br />

“império” [...]. Seguia com atenção positiva qualquer manifestação<br />

<strong>da</strong> ação do Espírito no povo cristão, ain<strong>da</strong> que viesse <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s<br />

menos considera<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (IRIARTE, Op. cit., p.36).<br />

O poder papal durante o século XIII havia crescido e atingido<br />

to<strong>da</strong>s as dimensões <strong>da</strong> cristan<strong>da</strong>de. Mais uma vez, Franco Júnior<br />

observou muito bem o alcance <strong>des</strong>se poder inclusive num campo <strong>da</strong><br />

religiosi<strong>da</strong>de que antes não fazia parte <strong>da</strong>s preocupações <strong>da</strong> Cúria<br />

Romana: a santi<strong>da</strong>de e a canonização dos santos. No entanto,<br />

(...) <strong>des</strong>de os princípios do cristianismo, os mártires vitimados<br />

pelas <strong>per</strong>seguições romanas tornaram-se objetos de culto, sendo<br />

vistos como cristãos ideais, que tinham sacrificado suas vi<strong>da</strong>s por<br />

fideli<strong>da</strong>de ao Deus único. Esse culto nascia espontaneamente,<br />

sem ser controlado por nenhuma autori<strong>da</strong>de eclesiástica<br />

(FRANCO JÚNIOR, Op. cit., p. 77)<br />

Sobre essa questão, vale lembrar que a primeira bula papal que<br />

tratou do direito a canonização <strong>da</strong>ta do ano de 993, e o próprio termo<br />

“canonização” só se tornou usual a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do século<br />

XII, sendo que só em 1199, Inocêncio III definiria “as condições para<br />

que alguém fosse considerado santo: provas de “obras de pie<strong>da</strong>de em<br />

vi<strong>da</strong> e manifestações de milagres após a morte” (FRANCO JÚNIOR,<br />

Ibid., p. 78).<br />

É nesse ambiente de novas buscas, novos modos de vivência<br />

evangélica, novos controles e novas aberturas <strong>da</strong> parte dos autos<br />

escalões <strong>da</strong> Igreja, que surgiu Francisco de Assis: homem que,<br />

segundo Vauchez, foi o que melhor conseguiu associar, mesmo<br />

que nem sempre de forma tão harmoniosa, “o objectivo apostólico<br />

e a ex<strong>per</strong>iência ascética, o evangelismo integral e o espírito de<br />

obediência” (VAUCHEZ, Op. cit., p. 143).<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 13<br />

| História | 2011

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