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Videmus nunc per speculum”: A (des)construção da memória ... - UTP

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(...) nascem de modo um tanto selvagem e sob dupla orientação. De<br />

um lado, impõe-se a atração <strong>da</strong> teologia, em um meio intelectual,<br />

sociológico e político fervilhante em Paris. De outro lado, é a<br />

cristalização em torno do direito, no coração do avanço comunal,<br />

em Bolonha (LE GOFF, 2001, p. 32).<br />

No século XIII, anima<strong>da</strong>s pelas universi<strong>da</strong><strong>des</strong> de Paris e de<br />

Bolonha, as relações entre o saber e poder ganharam também novas<br />

proporções. Francisco de Assis não ficou alheio a essas mu<strong>da</strong>nças<br />

no campo do conhecimento. Não raro os primeiros biógrafos do<br />

santo <strong>des</strong>creveram, como veremos mais adiante, as suas atitu<strong>des</strong><br />

drásticas diante dos fra<strong>des</strong> que queriam estu<strong>da</strong>r e adquirir livros,<br />

retratando um Francisco adversário dos estudos. Mas essa acusação<br />

teria algum fun<strong>da</strong>mento? O que, na ver<strong>da</strong>de, tanto <strong>per</strong>turbava<br />

Francisco em relação às novas formas de conhecimento? Jacques<br />

Le Goff arrisca algumas pistas para esses questionamentos. Para<br />

ele,<br />

(...) é preciso compreender bem a <strong>des</strong>confiança de Francisco em<br />

relação aos doutores eruditos. O que ele vê na ciência é uma forma<br />

de proprie<strong>da</strong>de porque os livros custam caro. Tornar-se um erudito<br />

é assumir o risco de possuir, de chegar ao poder, ou de participar<br />

do exercício do poder. Francisco <strong>nunc</strong>a teve boas relações com os<br />

príncipes <strong>da</strong> Igreja e com os mestres <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de – os prelados<br />

(LE GOFF, 2006, p. 118).<br />

Entretanto, não seria esta a última vez que o estilo de vi<strong>da</strong><br />

franciscano teria que se posicionar entre as questões inerentes <strong>da</strong><br />

erudição e a fideli<strong>da</strong>de à Regra7 de São Francisco, entre os livros<br />

caros e a prática <strong>da</strong> pobreza, entre a justificação <strong>da</strong> própria existência<br />

<strong>da</strong> Ordo Minorum8 e as acusações <strong>per</strong>tinentes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />

Paris (acusações estas que serão discuti<strong>da</strong>s no terceiro capítulo), na<br />

segun<strong>da</strong> metade do século XIII.<br />

Enfim, Francisco de Assis foi, assim, um filho de seu tempo -<br />

mesmo quando chegava a tensionar as estruturas de sua época - e<br />

sua mensagem espiritual, bem como as futuras escolhas que seriam<br />

feitas pelo movimento religioso que fun<strong>da</strong>ra no século XIII, ganhavam<br />

sentido quando inseridos novamente no espírito citadino <strong>da</strong>s comunas,<br />

marca<strong>da</strong>s pela mobili<strong>da</strong>de, que favorecia o nascimento de práticas de<br />

vi<strong>da</strong> religiosas que fossem diferentes dos modelos pesados e estáticos<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> monástica. Entretanto, o cenário favorável para o surgimento<br />

do movimento franciscano deve ser procurado nas buscas religiosas já<br />

inicia<strong>da</strong>s no século anterior, no século XII.<br />

1.2 A Igreja e as novas<br />

formas de vi<strong>da</strong> evangélica<br />

Se o século XIII foi considerado o apogeu do Ocidente medieval<br />

é porque soube, simultaneamente, dialogar com os gran<strong>des</strong> centros<br />

urbanos e suas implicações sociais e, de alguma forma, retomar e reler<br />

as heranças deixa<strong>da</strong>s pelos dois séculos que o precederam. Heranças<br />

essas tanto de um mundo feu<strong>da</strong>l (basea<strong>da</strong>s na solidez bem defini<strong>da</strong><br />

de suas relações fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s no juramento e na leal<strong>da</strong>de) quanto de uma<br />

Igreja que, <strong>des</strong>confia<strong>da</strong>, hesitava em tomar posição clara e aberta frente<br />

ao novo contexto social, econômico e político que lhe batia à porta.<br />

Mesmo sendo cautelosa nos passos que <strong>da</strong>va, a Igreja também<br />

ensaiou suas transformações. Caminhava ain<strong>da</strong> sob os ecos <strong>da</strong><br />

Reforma Gregoriana inicia<strong>da</strong> no pontificado de Gregório VII (1073-<br />

1085), ora se beneficiando com suas luzes como, por exemplo, seus<br />

esforços em libertar o mundo eclesiástico <strong>da</strong>s amarras feu<strong>da</strong>is, de<br />

tornar independente a Santa Sé do poder im<strong>per</strong>ial e de combater a<br />

simonia nas práticas pastorais; ora <strong>des</strong>enterrando antigos fantasmas<br />

Monografias - Universi<strong>da</strong>de Tuiuti do Paraná 10<br />

| História | 2011

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