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DA TDEALTZAQAO DA FRELIMO<br />
A coupnsnNsAo DA HISTORIA DE MoQAMBIQUE*<br />
* RevisSo de um texto de AQUINO DE BRAGANQA (Director<br />
do Centro de Estudos Africanos) e de JACQUES<br />
DEPELCHIN (lnvestigador do C.E.M.) apresentado para<br />
discuss5o lrum semindrio do C.E.A. da U.E.M. a 14 de<br />
Fevereiro de 1986. Os autores agradecem todas as crfticas<br />
e contribuigoes dos seus colegas do Centro que permitiram<br />
melhorar o artigo.<br />
ESTUDOS MOQAMBICANOS, {5/61 ISBO z 29-52
3O ESTUOOS I4OCAMBICANOS<br />
Vdrios textos t6ln sido publicados nos riltinros anos<br />
sobre a Hist6ria de Mogambique, a n-raioria deles em ingl6s<br />
o que impossibilita grande parte dos mogambicanos terem<br />
acesso aos debates que se realizam sobre a hist6ria e consequentemente<br />
conhecerem melhor o seu pafs.<br />
Este ensaio ndo pretende corrigir esta situagAo mas<br />
contribuir para assinalar alguns dos mais significativos<br />
debates e contribuigoes que se t6m feito sobre a hist6ria<br />
recente de Mogambique e assim minimizar os efeitos negativos<br />
do limitado acesso de tais publicagdes entre os leitores<br />
mogambicanos.<br />
O objectivo principal do ensaio 6 situar a problerndtica<br />
do processo revoluciondrio iniciado pela FRELIMO durante<br />
a luta armada de libertagSo nacional, pretendendo demonstrar<br />
a possibilidade e necessidade de reanalizar a pr6pria hist5ria<br />
da FRELIMO e de Moqambique como base para uma andlise<br />
mais correcta das contradigOes que se levantam hoje.<br />
Sdo analisadas em particular duas obras publicadas<br />
em 1984 e 1985 da autoria respectivamente de Joseph Hanlon<br />
e de John Saul (1). Joseph Hanlon trabalhou em Mogambique<br />
como jornalista coruespondente da BBC e do Manchester<br />
Guardian. John Saul 6 um "compagnon de routertda FRELIN4O<br />
@'dataquej6apoiavaes1aorganizag6oquatrdoera<br />
professor na Faculdade de Ci6ncias Sociais da Universidade<br />
de Dar-es-Salaam nos fins dos anos 60. De notar que o<br />
texto de Saul 6 produto de um colectivo de vdrios autores<br />
que trabalharam ou trabalharn em Mogambique. A colectAnea<br />
cobre sectores como a educag5o (Judith Marshall) a agricultura<br />
(Helena Dolny) a indristria (Peter Sketchley) o planeamento<br />
fisico (Barry Pinsky) a saride (Carol Barker) e as<br />
mul<strong>here</strong>s (Stephanie Urdang). Cabe no entanto a John Saul a<br />
fundamentag5o das premissas te6ricas, gu€ d5o uma coesSo<br />
ao texto, no que constitui a parte ntais significativa do livro.<br />
Embora a realidade mogambicana seja o foco principal
DA IDEALTZA9AO OA FRELTMO 3t<br />
destes dois estudos, salienta-se tamb6m o inter-relacionamento<br />
entre os acontecimentos que ocorreram em Mogambique<br />
e os que constituem um pano de fundo mais vasto da<br />
hist6ria regional da Africa Austral dominada hoje pelo<br />
crescimento do movimento popular contra o regime do<br />
"apartheid".<br />
Ambos os livros testemunham o impacto regional do<br />
crescimento politico e ideol6gico da luta de libertag5o<br />
nacional desencadeada pela FRELIMO e os efeitos contradit6rios<br />
da independOncia de Mogambique, quer entre os nacionalistas<br />
sul-africanos, quer sobre os dirigentes do "apartheid",<br />
que viram no processo mogambicano uma aneaga directa<br />
n5o s6 d sua hegemonia dentro da Africa do Sul como a<br />
sua predominAncia politica e econ6mica e a do pr6prio<br />
sistema capitalista em toda a regiao austral de Africa.<br />
Assim, o primeiro capitulo do livro de Hanlon comega,<br />
muito apropriadamente, com as palavras do Ministro da<br />
Informag6.o, Jos6 Luis Cabago: "Construimos alguma coisa".<br />
O ministro queria chamar a atengao ao facto de, apesar<br />
de muitos erros graves, os mogambicanos conseguiram<br />
alguns sucessos. Ndo hd drivida que muitos poderdo discordar<br />
e afirmar que o cardcter duma revolugSo 6 determinado<br />
nSo por aquito que foi, mas por aquito que 6. No entanto,<br />
numa situagSo em que os ataques dos bandidos armados<br />
estSo a fazer tudo para que aquilo que foi construido seja<br />
destruido, ao ponto de fazer esquecer o caminho percorrido,<br />
6 importante ter relatos do percurso.<br />
Os dois livros t6m efectivamente como objectivo<br />
principal de relatar as lutas que transformaram a Frelimo<br />
dum movimento meramente nacionalista num movimento<br />
dedicado e transformagSo revoluciondria da sociedade<br />
mogambicana. Para as pessoas que nao participararn directanrente<br />
neste processo, a Frelimo que conhecem 6 uma Frelimo<br />
tao abalada que quase irreconhecivel. Os autores n5o<br />
s5o neutros, e concordam inteiramente com as opgoes da<br />
Frelimo. Paradoxalmente, 6 este engajamento que constitui<br />
um dos problemas centrais dos livros.<br />
"Revolugao debaixo do fogo", "Um caminho diffcil", s6o<br />
os dois subtitulos que Hanlon e John Saul, respectivamente,<br />
utilizam para tentar fazer a ponte entre a Frelimo de 1975,
32 ESTUDOS MOQAMI<br />
cheirando a vit6ria e a Frelimo de 1985, exangue, esgotada,<br />
muito longe da imagem de 1975. O que os autores querem<br />
mostrar 6 que a F-relimo de hoje, ds vezes aparecendo<br />
derrotada, 6 tamb6m uma Frelimo vitoriosa. A falha maior<br />
dos dois livros 6 Oe n6o analisar as contradigdes que levaram<br />
a Frelimo vitoriosa i situagao actual.<br />
Sem f.azer um elogio ao demotismo procuraremos<br />
demonstrar neste ensaio que 6 .possivel analisar as actuais<br />
contradigoes da Frelimo a partir da sua pr6pria hist6ria no<br />
quadro da hist6ria da pr6pria sociedade mogambicana.<br />
A formulagdo de novas perguntas e quest6es torna-se<br />
contudo uma necessidade. Estas devem ser, por6m, colocadas<br />
de modo a que permitam abordar a hist6ria da Frelimo, ndo<br />
como um texto inalterdvel, mas como um processo contradit6rio<br />
inserido na luta nacionalista e social de Mogambique.<br />
Assim, como a luta contra o colonialismo trouxe<br />
d luz uma hist6ria abafada e negada pelo pr5prio colonizador,<br />
as lutas travadas desde a independ6ncia devem-nos permitir<br />
olhar de forma diferente sobre aspectos e lutas anteriores<br />
h pr6pria independ6ncia e ao seu processo e, assim, melhorar<br />
os nossos instrumentos de an6lise para compreender as<br />
contradigoes de hoje.<br />
Ao fazerem uma an6lise critica da hist6ria de Mogambique<br />
desde a independ6ncia os dois livros destacam os<br />
aspectos mais significativos que constituiam intengdo da<br />
opgSo socialista da Frelimo. Embora o seu enfoque seja<br />
o periodo do ap6s independ6ncia, ambos os autores resumem<br />
a hist6ria da luta armada e concluem com uma an6tise<br />
do impacto do Acordo de Nkomati.<br />
Nao pretendemos negar o m6rito dos dois autores,<br />
mas mostrar a importdncia de aprofundar a crftica, se<br />
queremos fortalecer as fileiras dos que combatem por uma<br />
transformag5o socialista de Mogambique.<br />
Estes dois livros destacam-se de muitos outros publicados<br />
anteriormente na medida em que tentam produzir uma<br />
andlise crftica da situagao a partir de uma posigSo de apoio<br />
aos objectivos tragados pela Frelimo. Procuram ndo cair<br />
numa mera justificagao ideol6gica, mas, ainda assim, a<br />
sua caracterfstica principal 6 a de nao analisar a situagao<br />
real, tal como ela 6, mas a de dar respostas a posigbes
DA IOEALIZACAO DA FRELIMO 33<br />
ideol6gicas antag5nicas. Ernbora tenham a sua inrport6ncia<br />
e as lutas ideol6gicas possam conduzir-nos a discuss6es e<br />
anSlises justas e justificadas, falham neste caso por ndo<br />
enfrentarem a realidade concreta.<br />
1. OS PONTOS DE PARTTDA: A TRANSFORMA9AO DAS<br />
PREMISSAS EM POSTULADOS<br />
Urn dos problemas de fundo da Hist5ria da Frelimo<br />
prov6m nao s5 da f orma vitoriosa como esta hist6ria 6<br />
abordada, mas, sobretudo, da utilizag6o dos seus conhecimentos<br />
de f orma inquestiondvel. O facto de a luta armada<br />
ter desembocado na Independ6ncia em 1975 contribuiu<br />
para que esta fosse vista como uma prova de justeza da<br />
luta armada, criando-se assim um consenso, implicito e<br />
silencioso, sobre as causas da vit6ria da independ6ncia.<br />
Na cr6nica de uma historiografia vitoriosa 6 muito<br />
raro encontrar relatos focando aspectos "menos vitoriosos".<br />
Assim, na Hist5ria da Luta Armada, como o processo global<br />
conduziu e vit6ria, considera-se ser desnecessdrio analisar<br />
de uma forma critica o conterido e os limites dessa vit6ria:<br />
n5.o se avaliam os aspectos que nessa vit5ria poderiam<br />
no futuro comprometer e ameagar a consolidagdo de algumas<br />
das conquistas alcangdas.<br />
Quer no livro de Saul, como no livro de Hanlon, n5o se<br />
encontra uma tentativa de repensar a hist5ria de libertagSo<br />
a partir de 1962. O processo das transformag6es da Frelimo<br />
entre 7962 e 1975 ndo 6 visto como podendo constituir<br />
um tema de estudo hist6rico necessdrio para analisar o<br />
presente. Ora, na hist6ria, como em qualquer ci6ncia, 6<br />
necessdrio, ds vezes, voltar atrds e requestionar os conhecimentos<br />
corr;iderados como definitivos. No caso da Frelirno<br />
n5o se trata de questionar o objectivo escolhido, trata-se<br />
de analisar como o caminho foi percoruido e se a maneira<br />
como se conta este percurso n5o tenr gerado erros de compreensdo,<br />
erros de conhecimentos. Ao nfvel de reflex6es e<br />
de andlises da vit6ria da luta armada, os textos s6o dominados
3q ESTUDOS I,IOQAMBICANOS<br />
por uma problemdtica teleol6gica. Isto significa que a prova<br />
da vit6ria estd na pr5pria vit6ria e, portanto, ndo hd necessidade<br />
de colocar perguntas que ponham em drivida esta<br />
quest6o.<br />
Uma das palavras de ordem da Frelimo diz que a<br />
vit6ria prepara-se, a vit6ria organiza-se. A pr6pria Frelimo<br />
tem dito tamb6m que o 25 de Abril de I97 4 ocorreu cedo<br />
demais; pode-se deduzir correctamente que a vit6ria, alcangada<br />
sem ter sido preparada suficientemente, n6o foi tdo<br />
satisfat6ria como devia (ou podia) ter sido. Por outras palavras,<br />
apesar do facto dos pr6prios dirigentes da Frelimo<br />
terem sugerido que a vit6ria teve limites, os historiadores<br />
desta vit6ria preferiram focar sobre a vit6ria e n5.o sobre<br />
os problemas "pendentes" da luta armada.<br />
Salvo erro, nao existem at6 hoje textos que tentam analisar<br />
objectivamente o conterido, os limites e as contradig6es<br />
da vit6ria sem cair no reducionismo, quer ent dar prim azia<br />
a um facto, ou conjunto de factores, gu€ simplificam e,<br />
portanto, distorcem um processo complexo Q). Isto, pelo menos,<br />
no que diz respeito aos textos de esquerda, pois os<br />
textos de direita t6m uma tendGncia inversa: a Frelimo<br />
6 apresentada como uma organizagdo militarista enfeudada<br />
aos interesses dos pafses socialistas. Esta inversSo teleol5gica<br />
tem servido, ali6s, para alimentar a estrat6gia de agress5o<br />
dos paises imperialistas. E, para esses, como a Frelimo<br />
estd colocada no campo inimigo tudo serd feito para impedir<br />
a vit6ria ou a consolidag5o desta vit6ria (3).<br />
2. A HISTORIA COMO FRENTE DE LUTA POLTTICA E<br />
IDEOLOGICA<br />
No contexto corrente da Africa Austral e tendo em<br />
conta o desenvolvimento das lutas e a import6ncia dos<br />
interesses em jogo, 6 extremamente dif icil f.azer uma andlise<br />
hist6rica que seja ao mesmo tempo um contributo para<br />
a luta. Dito de uma outra maneira o problema consiste<br />
enl saber produzir uma hist5ria critica e construtiva, sem
DA IDEALiZAQAO DA FRELIMO 35<br />
cair no paternalismo acad6mico e no triunfalismo cego.<br />
Como se ir6 combater a propaganda ideol6gica de direita,<br />
sem produzir uma hist5ria-propaganda cuja utilidade serd<br />
limitada a fung5o de contra-ideologia, 6 a questSo que<br />
levantamos.<br />
Embora n5o esteja abordado explicitamente por nenhum<br />
autor, a questSo do foco 6 importante. Fazer a Hist6ria<br />
da Frelimo corresponde a fazer a hist6ria de libertagao<br />
nacional de Mogambique? Da maneira como a periodizagSo<br />
predominante 6 apresentada, a resposta 6 ambigua. O periodo<br />
anterior d fundagao da Frelimo 6 visto como fazendo parte<br />
dum outro perfodo, nitidamente separado do periodo da<br />
Iuta armada. Nao se p6e em drivida a validade dum estudo<br />
da hist6ria da luta armada, o que se questiona 6 saber,<br />
se produzir uma hist6ria da luta armdada dirigida pela<br />
Frelimo permite, automaticamente, compreender a hist6ria<br />
global do processo ao nivel do pafs.<br />
As vezes, implicitamente, a hist6ria da Frelimo 6<br />
considerada como a concentragdo das contradigoes da sociedade<br />
mogambicana. Esta interpretagao aparece claramente<br />
quando se discute a famosa luta das duas linhas. A luta,<br />
localizada dentro do seio da direcg5o da Frelimo, constitui<br />
uma passagem chave da hist6ria da Frelimo. Por6m, se<br />
questionannos em que medida esta luta permite compreender<br />
as contradigoes QU€, naquelas alturas e depois, dividiam a<br />
sociedade mogambicana, serd diffcil encontrar uma resposta.<br />
A vit5ria da independ6ncia em 1975 contribuiu significativamente<br />
para impor a ideia de que a hist6ria da luta<br />
pela independ6ncia nacional pode, no essencial, ser reduzida<br />
a hist6ria da Frelimo. E a maneira como decorreu o 3e<br />
Congresso pode ser vista como a confirmag5o da ideia<br />
de que todos os mogambicanos se reconheciam dentro da<br />
Frelimo. Havia uma aparente coincid6ncia entre as duas<br />
hist6rias mas, na realidade, a hist6ria da Frelimo s6 pode<br />
ser entendida em toda a sua especificidade quando colocada<br />
no global da hist6ria de toda a sociedade mogambicana.<br />
Por exemplo, no que diz respeito d caracterizaglo ideol6gica<br />
da Frelimo seria possivel argumentar que a Frelimo<br />
estava mais pr5xima do marxismo-maoismo revolucion6rio,<br />
quando do processo da criagao das zonas libertadas, do
36 ESTUDOS MOQAMBICANOS<br />
que quando se proclamou partido marxista-leninista, partido<br />
de vanguarda, no 3s Congresso em 1977? Uma das dificuldades<br />
mais 6bvias desta argumentagao serd, evidentemente, a<br />
questAo de saber o que se deve entender por marxismo-<br />
-leninismo. Se for aceite esta hip6tese de trabalho, ser6<br />
necess6rio explicar por que houve esta inversSo, por que<br />
6 que a Frelimo parece ter-se tornado menos revoluciondria<br />
precisamente no momento em que foi proclamado o socialismo<br />
como meta a atingir. Pode-se perguntar: terd havido<br />
uma relagEo de causa a efeito entre a ascensdo de um movimento<br />
de guerrilha a um aparelho de Estado herdado do<br />
inimigo? Seja o que for, 6 diffcil no contexto desta problemdtica<br />
n5o pensar nas palavras do Presidente Samora em<br />
19?5: trAo retirar os quadros das zonas libertadas, estamos<br />
a retirar o peixe da dgua"(4).<br />
E preciso tamb6m lutar para preservar o sentido<br />
de certos conceitos produzidos no processo da luta. Um<br />
desses 6 o de zonas libertadas, muitas vezes vulgarmente<br />
idealizadas ao ponto Oe se perder totalmente o significado<br />
especffico que tinha. Predomina na sua utilizagao o sentido<br />
quase literal de libertagSo da presenga ffsica da administragao<br />
portuguesa. Ora esta libertagao s6 constitufa um aspecto<br />
do sentido das zonas libertadas. Para a Frelimo, o conceito<br />
referia-se ds transformag6es das relagoes s6cio-econ6micas<br />
nas zonas controladas por ela. Contrariamente ao sentido<br />
quase literal, este riltimo significado implicava que o processo<br />
de transformag6o I'osse o resultado de lutas cujo 6xito<br />
final n6o podia ser considerado como automaticamente<br />
realizado. AI6m disso, importa salientar que o nfvel das<br />
transformag6es ndo tinha atingido o mesmo grau em todas<br />
as frentes da luta. Mas como hd uma tend6ncia em generalizar<br />
a partir das transformag6es mais radicais e excepcionais,<br />
acaba por se transmitir uma ideia distorcida do processo.<br />
O facto de nas zonas libertadas se ter combatido as prdticas<br />
do inimigo n6o significa, de maneira nenhuma, QU€ essas<br />
pr6ticas tinham desaparecido totalmente. Assimr &o lado<br />
de situagoes em que as mul<strong>here</strong>s assumiam posigoes de<br />
chefia, havia mul<strong>here</strong>s que continuavam a ser utilizadas<br />
como objectos de prazer e fontes de rendimentos para<br />
os homens e familias.
DA IOEALIZACAO DA FRELIMO 37<br />
Apesar da Frelimo ter sempre insistido sobre a necessidade<br />
de ndo abordar a guerrilha s6 do ponto de vista militar,<br />
o grande historiador e simpatizante da Frelimo, Basil<br />
Davidson, no seu, alids excelente, livro The People's Cause,<br />
cai preci,samente neste reducionismo (5). Davidson pensa<br />
correctamente que a operagdo ''N6 G6rdio" saldou-se pela<br />
derrota militar de Kaulza de Arriaga, mas a andlise ndo<br />
devia ter parado ai porque a Frelimo visava muito mais<br />
do que uma derrota militar. O avango militar da Frelimo<br />
em L972 na provfncia de Tete foi possibilitado pela solidez<br />
polftica e ideol6gica das zonas libertadas de Cabo Delgado<br />
e Niassa, mas este avango militar n6o significou uma<br />
extensSo, uma ,reprodug6o das zonas libertadas. Resta<br />
perguntar se. teria sido possivel fazer coincidir o avango<br />
militar com o avango das zonas libertadas. A Frelimo tinha,<br />
na altura, os quadros necess6rios para cumprir esta tarefa?<br />
Nao 6 possfvel responder a esta pergunta sem uma<br />
investigagao -rnais ,aprofundada, mas 6 necessdrio que esta<br />
seja feita sobr.etudo porque a questao da falta de quadros<br />
6 levantada muito mais f requentemente para o periodo<br />
ap6s 1975 do que para o perfodo anterior.<br />
, E preciso analisar a luta n6o s6 a partir das transformagoes<br />
do, lado dos oprimidos mas tamb6m das modificagoes<br />
do Estado colonial provocadas pelo impacto da guerrilha.<br />
O. impacto n5.o 6 analisado porque o colonialismo continua<br />
a ser visto comp um sistema imutdvel enquanto eram visfveis<br />
as tentativas do colonialismo em se manter por via de reformas.<br />
A guerrilha n6o modificou a natureza do sistema colonial.<br />
Mqs, ,cern o avango Qa guerra, notava-se que o Estado<br />
colonial tornava-se mais repressivo e violento ou mais<br />
reformador, de acordo com o facto dos grupos ou os indivfduos<br />
visados constitulrem ou ndo uma ameaga d continuagao<br />
do sistema.<br />
3., O ENQUADRAMENTO TEoRTCO DAS FONTES OFTCTATS<br />
Hanlon e os autores do livro de John Saul recoruem
38 ESTUOOS MOQAMBTCANOS<br />
muito aos discursos oficiais para fundamentar os seus argumentados,<br />
mas nenhum dos autores tenta problematizar<br />
essas fontes. A problemdtica aceite 6 a problem6tica dos<br />
discursos. Ao fim e ao cabo a dificuldade principal parece<br />
ser a incapacidade de colocar perguntas fora Cas perguntas<br />
postas pelo percurso da hist6ria jd percorrida. Sem nenhuma<br />
excepgdo o molde predominante 6 o seguinte: os problemas<br />
enfrentados pela Frelimo n5o vieram s6 do exterior, alguns<br />
foram o resultado de erros - argum6ntam que esforgos foram<br />
feitos para os corrigir. Uma hist6ria oficial, portanto, tem<br />
a tend6ncia de ser uma hist5ria teleol6gica, autojustificativa.<br />
E por via desta pr6tica que a hist6ria da Frelimo<br />
tem sido contada por meio de acontecimentos chaves. Dentro<br />
desses destacam-se os congressos. E duma certa forma,<br />
os autores n5o conseguem libertar-se deste formalismo<br />
na utilizagao das fontes. Assim, por exemplo, est6 aeeite<br />
a ideia de que a colocagSo de Jorge Rebelo e de Marcelino<br />
dos Santos na direcASo do Partido a tempo inteiro foi um<br />
dos resultados do 3e Congresso em que tinha sido decidido<br />
dar mais peso ao Partido e, neste sentido, fornecer mais<br />
quadros ao Partido. Ora, o que aconteceu na realidade<br />
foi diferente. De L977 a 1983, o Partido foi enfraquecendo<br />
constantemente em relagSo ao Estado. Os esforgos feitos para<br />
modificar a situagdo, da ofensiva ds revitalizag6es, podem<br />
ser considerados como provas das dificuldades encontradas<br />
nas tentativas infrutuosas de concretizar palavras de ordem<br />
no sentido de reforgar o Partido.<br />
Na formulag5o das crfticas, os discursos presidenciais<br />
constituem uma fonte privilegiada porque constituem uma<br />
prova imef utSvel da capacidade autocritica da Frelimo<br />
ao mesmo tempo que sdo uma protecAdo contra possiveis<br />
acusag6es de ultra-esquerdismo e/ou conf usionismo. Por<br />
exemplo, o discurso contra as ilegalidades do aparelho<br />
repressivo do Estado 6 utilizado como prova s6ria da intengao<br />
do Estado em estabelecer o poder popular. Al6m disso o<br />
contexto em que foi feito o discurso - a ofensiva politica<br />
e organizacional - 6 tamb6m utilizado como prova da vontade<br />
de valorizar e enraizar as ligoes da luta armada: tratar<br />
o povo como a fonte de inspiragdo do poder (6). As intengoes<br />
demonstram a exist6ncia formal de estabelecer o poder
DA IDEALIZAQAO DA FRELIMO 3S<br />
popular, mas neo sao concretizadas. Porqu6? Se ndo pudermos<br />
por esta pergunta analisar o porquG da n5.o coincid6ncia<br />
entre as intengoes e a realidade, o campo ficar6 totalmente<br />
aberto para as respostas do inintigo. Respostas que, de<br />
forma nenhuma, est6o interessadas em encontrar solugdes<br />
para a construgao duma sociedade socialista.<br />
4. 1975: CONTINUAEAO OU RUPTURA?<br />
Cronologicamente, os dois livros de Saul e Hanlon<br />
centram-se sobre o perfodo ap6s 19?5. A fraqueza dos dois<br />
textos reside precisamente na utilizagao de 1975 como<br />
ponto de partida. A problematizagao utilizada de chamar<br />
a atengao ds diferengas entre o governo que toma o poder<br />
em 1975 e vdrios regimes neocoloniais ndo 6 suficiente (?).<br />
A Frelimo f oi efectivamente dif erente de muitos<br />
outros movimentos, mas a melhor prova desta dif erenga<br />
n5o passa por uma idealizagao da Frelimo. John Saul, apesar<br />
de confrontar este problema da idealizagao, n5o consegue<br />
estabelecer as bases duma crftica objectiva (8). Para John<br />
Saul, a diferenga entre a Frelimo e outros partidos polfticos,<br />
que se intitulam marxistas-Ieninistas, reside na pr6tica.<br />
Segundo John Saul, a Frelimo conseguiu evitar quase todos<br />
os aspectos negativos de todos os tipos de marxismo-Ieninisffio,<br />
e mesmo quando estava a cair num desses defeitos<br />
havia sinais prometedores de corecA6o. Assim a Frelimo<br />
evitou as falhas do Socialismo Africano e do hipercentralismo<br />
do socialismo dos pafses socialistas da Europa Oriental (9).<br />
Mas quando comega a enfrentar os problemas actuais profundos<br />
que impedem o avango da revolugao socialista, os analistas<br />
caem no pessoalismo, falando das personalidades dos<br />
dirigentes da Frelimo.<br />
Neste aspecto, o texto de Hanlon, menos preocupado<br />
com uma discuss6o sobre o marxismo-leninismo, estd muito<br />
mais perto da tradigdo dominante da Frelimo (10). O que<br />
importa era saber se a luta estava ou nAo a defender os
q0 ESTUDOS MOQAMBICANOS<br />
interesses da maioria. Como muito bem disse Marcelino<br />
dos Santos: "O nosso objectivo principal era de nos colar<br />
ao povo". Evidentemente, "o povo" pode-se tornar numa<br />
f5rmula vazia, mas pelo menos tem a vantagem de se referir<br />
a uma realidade concreta enquanto o marxismo-Ieninismo<br />
serd sempre uma nogdo abstracta. Querendo a todo o prego<br />
denronstrar o marxismo da Frelimo, Saul acaba por produzir<br />
uma discussdo que est6 mais perto da casuistica do que<br />
duma metodologia marxista.<br />
No centro desta discussdo sobre o marxismo, destaca-se<br />
a questao da natureza do Estado, o que significa, automaticamente,<br />
discutir as relag6es de classes dominantes na<br />
sociedade mogambicana. Embora n5o satisfatoriamente,<br />
Hanlor-r vai muito mais longe do que John Saul. Hanlon argumentava<br />
de que "os aspirantes d burguesia" s6o aqueles<br />
que v6m das camadas mais privilegiadas da 6poca coionial<br />
e que continuam sendo saudosistas das sociedades de consumo<br />
(11). O problema de fundo desta abordagem, 6 que<br />
parte do principio da n6o inexist6ncia da burguesia porque<br />
"n6o tem poder econ6mico". No entanto, o facto de a chegada<br />
ao poder da Frelimo ter retirado as bases s6cio-econ5micas<br />
dos aspirantes d burguesia, nao podia significar, por si s6,<br />
que estes aspirantes ndo iriam tentar criar essas bases<br />
a partir dos meios disponfveis. E mesmo que estes meios<br />
n6o existissem, tentariarn cri6-1os. As relagoes de explorag5o<br />
e de opress5o nAo esperam condigoes ideais para se manifestarem.<br />
E verdade que a tomacia do poder pela Freiimo dificultou<br />
as manobras deste grupo, mais unra vez que se deu<br />
conta de que os meios s6 podiam ser obtidos pela via do<br />
Estado, este grupo engajou-se num assalto sisterndtico<br />
para conquistar posig6es de destaque no aparelho do Estado.<br />
E este assalto foi de certo modo facilitado pela concepg5o<br />
segundo a qual o Estado e o Partido podiam ser isolados<br />
do resto da sociedade. Por um lado fala-se ntuito da necessidade<br />
de impermeabilizar o Partido e o Estado, mas por<br />
outro lado, o pr5prio Presidente Samora explica cono,<br />
por exemplo, v6rias ligagoes de famflia, de classes e de<br />
amizade fazem com que os que deviam implementar as<br />
leis do Estado nAo o fagam porque elas v6o contra os interes-
oA IDEALIZAQAO DA FRELIMO ql<br />
ses que aqueles querem de{'ender. Portanto, paradoxalmente,<br />
v6-se na pr6tica, como o Estado e o Partido acabam por<br />
ser afectados por estas forgas s6cio-econ6micas, pelo que,<br />
no concreto, acaba por predominar uma paralisia. Mas<br />
o paradoxo 6 s6 aparente pois se for aceite que o Estado<br />
e o Partido foram permeados, n6o nos devemos admirar que<br />
o Estado e o Partido nao consigarn desfazer-se das forgas<br />
reacciondrias.<br />
O conceito dominante de "infiltrado", para falar da<br />
penetragao inimiga dentro do Partido e do Estado, 6 a contrapartida<br />
da impermeabilizagao. Em ambos os casos, a andlise<br />
tende focar sobre indivfduos em vez de processos e posigoes<br />
de grupos.<br />
S5o as condigoes materiais que acabarn por determinar<br />
a consciGncia social. Como diz muito bem um texto do<br />
Presidente Samora, homens podem alterar situagoes, mas<br />
tambem novas situagoes podem transf ormar os homens,<br />
mesmo os mais revoluciondrios (12).<br />
A safda dos dois livros ocorreu no contexto das celebragoes<br />
de vdrios aniversdrios: 1982, o vig6simo anivers6rio da<br />
fundagao da Frelimo; 1983, o IV Congresso; 1984, o vig6simo<br />
aniversdrio do infcio da luta armada e, finalmente 1985,<br />
o d6cimo anivers6rio da independ6ncia. A16m disso, a assinatura<br />
do Acordo de Nkomati a 16 de Margo de 1984 e as<br />
acAoes cada vez mais destruidoras dos bandidos armados<br />
f oram momentos que naturalmente levaram a f azer balangos.<br />
Apesar dos progressos significativos, John Saul exprime<br />
uma reserva importante: "efectivamente, com o risco de<br />
exagerar, poder-se-ia dizer que a revolugSo se enfraqueceu<br />
em vez de se reforgar na base, durante os anos que seguiram<br />
imediatamente d independ6ncia. A Frelimo simplesmente ndo<br />
conseguiu institucionalizar o poder popular..."(13). Nenhurn<br />
dos autores p6e em dfvida as conquistas alcangadas, mas<br />
Joseph Flanlon acaba por escrever aquilo que, provavelrnente,<br />
milhares de mogambicanos se perguntam constaJrtemente<br />
desde 1983: 'rO verdadeiro teste para saber se a desestabilizagAo<br />
funcionou ou nao, estard na f'ornta como a Frelinto<br />
escolher reconstruir a sua economia. A civilizada alternativa<br />
foi destruida? A Africa do Sul. o Ocidente e os asDirantes
'.I2 ESTUDOS MOCAMBlCANOS<br />
a burguesia na Frelimo aceitarAo assumir o socialisnto<br />
e o poder popular como os seus pr6prios objectivos?"(14).<br />
A dificuldade que John Saul tem, em fazer a sua<br />
avaliagdo, prov6rn do facto de ele, a partir dos tempos<br />
da luta armada, ter projectado o que a Frelimo iria cumprir,<br />
mas como esta projecAao n6o coincide com a realidade,<br />
a argumentag6o apresentada n5o convence. A pr6pria Freli-<br />
Do, pela voz do Presidente Samora, alertou contra uma<br />
ideali zagSo apressada f eita a partir de vit5rias do passado:<br />
t'Perguntamos, por que 6 que os quadros veteranos<br />
da luta, que construiram com numerosos sacrificios<br />
aquilo que somos hoje, se deixam, como dizemos,<br />
ultrapassar? Temos primeiramente como causa desta<br />
situagAo, o espirito de vit6ria.<br />
As grandes vit5rias que alcangdmos, tanto no carnpo<br />
da luta armada como na liquidag5o das forgas reacciondrias<br />
e na destruigao das infiltrag6es inimigas no<br />
nosso seio, ou ainda na reconstrugdo nacional, Ievam<br />
certos camaradas a s6 verem vit6rias continuas,<br />
a desprezarem tacticamente o inimigo, a considerarem<br />
sempre a situagao como ttnormalt', ttboat', e nunca<br />
tiram lig6es dos reveses, n6o estudam como combater<br />
as nossas Iimitag6es.<br />
Por isso deixam de estudar a nossa linha, acham<br />
que jA conhecem o suficiente e af est6o as vit6rias<br />
a provS-lo. O resultado 6 o abandono da andlise<br />
politica, a nossa consci6ncia torna-se insensfvel<br />
aos desvios e agress6es contra a linha e, assim, n6o<br />
conseguimos detectar e destruir no ovo as infiltrag6es<br />
ideol6gicas, morais e ffsicas do inimigo"(15).<br />
Fazer o balango s6 a partir de 19?5 introduz uma<br />
distorg5o que impede uma compreensdo correcta do percurso<br />
e das transformag6es que afectaram a Frelimo na altura<br />
daquela transigSo hist6rica. Uma das implicagoes desta<br />
abordagem 6 que a Frelimo de 19?5 6 a rnesma que a Frelimo<br />
das zonas semilibertadas e das zonas libertadas. Nao s5o<br />
considerados como pontos de estudo as contradigOes e as lutas<br />
que fizeram crescer a lrrelirno dum movimento merametrte
DA IDEALIZACAO DA FRELIMO q3<br />
nacionalista para um movimento decidido a transf ormar<br />
radicalmente as relag6es herdadas do colonialismo portugu6s,<br />
Uma outra implicag6o, paralela, 6 que as contradigoes<br />
enfrentadas sdo mais ou menos as mesmas do que antes de<br />
1975. E por isso n6o se estuda as diferengas.<br />
No perfodo de preparagdo do IV Congresso muitas<br />
criticas referiram-se a estes objectivos, e ao referir estes<br />
objectivos, referiram-se d Frelimo que conseguiu ultrapassar<br />
a crise interna de 1966/69 quando "os novos exploradores't<br />
tentaram guiar a Frelimo no sentido s6 da independ6ncia<br />
nacional.<br />
As lutas entre as duas linhas, que vdo praticamente<br />
de 1962 a 1970, n6o acabaram com a vit5ria da linha revoluciondria.<br />
Foi muito mais um epis6dio duma luta prolongada.<br />
Quando a Frelimo tomou o poder em 1975, reencontrou<br />
de novo uma situagdo semelhante d de 1962/1966 nas antigas<br />
zonas libertadas, mas desta vez a nfvel do pais. Com a<br />
demota infligida a Kaulza de Arriaga, outros Nkavandame<br />
pref eriram seguir a Frelimo, n5o porque assumissem os<br />
seus objectivos polfticos e ideol6gicos, mas sim porque<br />
a Frelimo tinha saido vencedora do combate com os portugueses.<br />
Uns desafiaram abertamente por via de tentativa de<br />
criar partidos polfticos, mas uma outra parte escolheu<br />
oportunisticamente p6r-se do lado dos vencedores d espera<br />
dum melhor momento.<br />
A quest5o da transigdo dum movimento de guerrilha<br />
para um Partido que toma o poder de Estado 6 levantada,<br />
mas n5.o discutida, nos dois livros. Uma das razdes desta<br />
reticOncia vem da jd mencionada tendGncia dos autores<br />
em nAo fazer uma an6lise problemdtica das suas fontes.<br />
E como resultado disso, n5o analisam criticamente uma<br />
das consequ6ncias da derrota dos<br />
t'novos exploradores",<br />
o que os fez pensar que o movimento, mais tarde o Estado<br />
e o Partido, tendo-se purificado desses elementos num<br />
determinado momento e em determinadas circunstAncias,<br />
sempre encontrard dentro de si esta capacidade de se purificar.<br />
Ora, sobre este ponto especffico, de como manter<br />
a linha revoluciondria, a Frelimo foi clarissima:<br />
" As ligoes tiradas dos erros devem ser discutidas
qq ESTUDOS MOQAMBICANOS<br />
pelas massas para que elas adquiram a nova experiGncia.<br />
As violagoes da linha e as agress6es contra<br />
a nossa disciplina devem ser objecto de discussAo<br />
e critica priblica das massas. Fazendo assim, por<br />
um lado utilizamos os erros para aprofundar a nossa<br />
consci6ncia poiftica, e por outro lado entregamos<br />
ds massas a defesa da linha e da disciplina que 6<br />
a sua propriedade"(l6). No entanto, a partir do espfrito<br />
de vit6ria chegou-se ao ponto de aceitar os seguintes<br />
pontos como se fossem postulados que ndo se pode<br />
questionar:<br />
1.<br />
,<br />
3.<br />
4.<br />
O aparelho estatal seria o instrumento privilegiado<br />
de transformag6o da sociedade rnogambicana;<br />
Este postulado continha um outro, a saber, que o<br />
Estado seria uma entidade administrativa separ6vel<br />
do resto da sociedade mogambicana; o Estado<br />
ndo era visto como um resultado de lutas de<br />
classes dentro da sociedade e que o poder que dele<br />
emanava nao podia ser visto, automaticamente,<br />
como defendendo os interesses dos operdrios<br />
e camponeses;<br />
A incapacidade de concretizar as orientagoes<br />
do Partido tem sido atribufda i falta de quadros,<br />
f alta de f ormag6o e raramente ds actuagoes<br />
de classes, dos f uncion6rios que implementam<br />
as orientagoes d sua maneira, n5o como incompetentes,<br />
mas como pessoas pertencentes a camadas<br />
sociais objectivamente opostas a concreti zag\.o<br />
dum Estado que defendesse inequivocamente os<br />
interesses dos camponeses e operdrios;<br />
Uma concepgdo de lutas de classes geridas, contro-<br />
Iadas e fiscalizadas atrav6s do controlo do Partido<br />
e do Estado.<br />
No fim dum semindrio do DTI em 1981, o Printeiro<br />
Secretdrio do lll'1, Jorge Rebelo, fazendo um balango critico<br />
do Partido declarou:
DA IDEALIZACAO DA FRELII.,IO II 5<br />
" Inibuidos do espfrito burgu6s de estrutura, muitos<br />
quadros do ['artido isolarn-se das massas, pensam<br />
eruadamente que o seu contacto com as massas<br />
lhes far6 perder uma pretensa respeitabilidade. Para<br />
esses membros do Partido, ser chefe, ser responsdvel,<br />
implica necessariamente viver longe das massas e<br />
ser temido por elas"(17).<br />
A resolugao que saiu da 3e Reuniao Nacional do 'Iraba-<br />
Iho ldeot5gico levantou quest6es de fundo sobre os problemas<br />
de trarrsigdo e do funcionamento dum partido revoluciondrio<br />
que tem o poder de Estado. As resolugOes daquela reuniao<br />
v6m como um inventdrio dos problemas enfrentados e ao<br />
mesmo tempo demonstram que o desafio enfrentado em<br />
1974 e 1975 pela Frelimo era duma complexidade e duma<br />
dificuldade que ainda hoje 6 diffcil compreender. O balango<br />
mostra claramente a ligagao de classe que existe entre<br />
a pr6tica polftica de membros do Partido e o facto do Partido<br />
afastar-se das massas. No entanto, assim como em tantos<br />
outros casos onde sao apontados claramente os problemas,<br />
a 3q ReuniSo n6.o conseguiu criar as estruturas organizacionais<br />
de classes para combater o tal "partido burgu6s". Esta<br />
falha constitui uma falha estrutural cuja raiz 6 tao profunda<br />
que, pode dizer-se, comegou a impedir uma andlise revolucion6ria<br />
da sociedade rnogambicana, caindo-se no pessoalismb<br />
e no abstracionismo te6rico, deformador da capacidade de<br />
apreensSo da realidade.<br />
As peri5dicas ofensivas constituem a manifestagao nrais<br />
concreta desta falha. Com a agravante de que, em seguida,<br />
fica, entre as vdrias percepg6es erradas, a de que se os<br />
resultados nao foram ao encontro do que se esperava, a<br />
incapacidade deve-se ds pessoas envolvidas (18).<br />
Nao hd df vida que urrr dos suportes mais vulgares<br />
deste argumerrto venr clo pr6prio prestigio atribuido i pessoa<br />
do Presidente, prestigio que se traduz na ideia, eruada, de<br />
que basta o Presiderrte saber, para se corrigirem as anomalias.<br />
Quando John Saul aborda o tema da relagdo entre<br />
a ideologia, o Partido e o listado, redu-lo a um Inero problerna<br />
t6cnico e pedag5gico de escolha clo melhor m6todo de ensino
do Marxismo-Leninismo (19). Assim, falando do encerrarnento<br />
da Faculdade de N{arxismo-Leninismo, John Saul identifica<br />
o problema como sendo uma falha a nfvel do corpo docente<br />
que ensinava a disciplina de uma maneira abstracta e desligada<br />
das condigoes materiais de Mogarnbique. Pode ser,<br />
mas as dificuldades de enraizar urna ideologia revoluciondria<br />
nao podem ser compreendidas se sdo analisadas isoladantente<br />
das contradigoes e lutas a nfvel de toda a sociedade.<br />
Atribuir a abstracAao do marxismo-leninismo aos<br />
professores desta mat6ria 6 inverter o processo. A abstracgso<br />
que se nota a nfvel do ensino do marxismo-leninismo s6 pode<br />
ser compreensfvel se 6 vista como reflexo duma diverg6ncia<br />
entre a teoria e a pr6tica revoluciondrias a nivel global<br />
da sociedade. O processo de abstracASo do marxismo-<br />
-leninismo comega pelo afastamento do Partido das massas.<br />
Esta causa principal tem depois efeitos no ensino. Se16<br />
dificil curar o problema se os efeitos sdo tratados como<br />
se fossem as causas. A cura ndo vai aparecer s6 por tomada<br />
de medidas, por mais comectas que sejam. Uma das ligoes<br />
da luta arrnada, formulada pela Frelimo, 6 que a revolugdo<br />
ndo se aprende nos livros, mas fazendo-a. Mas hoje a situagSo<br />
modificou-se de tal forma que algumas f5rmulas, mesmo<br />
as do tempo da luta armada, parecem ser de pouca utilidade.<br />
Estando no poder, exercendo o poder de Estado, como poder6<br />
a Frelimo exercer este poder de uma forma popular e revolucion6ria,<br />
gu€ permita consolidar as conquistas da luta<br />
armada?<br />
E possfvel que, tendo e1e pr5prio ensinado o marxismo-<br />
-leninismo, John Saul viesse a pensar que o problema de<br />
fundo era uma questdo de m6todo, quando os problemas<br />
enfrentados nas escolas e na faculdade tomaram as formas<br />
aparentes dum problema tecnicamente resolfivel. O ponto<br />
f undamental que John SauI evita conf rontar estd numa<br />
andlise das contradigoes no seio da sociedade mogambicana.<br />
Grande opositor da abstracg6o do marxismo, acaba por<br />
desenvolver uma discuss5.o abstracta da maneira como<br />
o marxismo 6 aplicado em N4ogambique. A discussao 6 abstracta<br />
porque n5o foca sobre as contradigoes que se manifestam<br />
dentro da sociedade mogambicana, mas sobre a tens5o<br />
entre um ideal (em parte j6 atingido em vdrios momentos
DA IDEALiZACAO DA FRELIMO q7<br />
da hist6ria da F-relirno) e uma realidade is vezes tao afastada<br />
do ideal que 15 v6lido perguntar-se se n6o seria mais comecto<br />
falar de ruptura do que de tensao.<br />
Por que houve afastamento ? Al6m de resultado de<br />
erros internos, f oi tamb6rn resuitado dos assaltos dos inimigos<br />
da Frelimo desde o primeiro dia da sua exist6ncia. As forgas<br />
que queriam que a Frelimo ndo conseguisse os seus ideais<br />
manifestaram-se ao longo da sua hist5ria de vdrias maneiras,<br />
dentro e fora do Partido, dentro e fora do Estado, dentro<br />
e fora do pais, O surgimento dos bandidos armados pode<br />
ser considerado como a manif estagao mais dura e mais<br />
destruidora destas forgas.<br />
5. O ESTUDO DO INIMIGO<br />
Foi dito jA que uma das lacunas de muitos trabdlhos<br />
sobre a Frelimo estd na falta de andlise do inimign e suas<br />
transformag6es provocadas pela luta. Isto apesar da Frelimo<br />
sempre ter insistido sobre a necessidade de conhecer bem<br />
o inimigo. E, em parte, se a Frelinto venceu em 1975 foi<br />
porque esforgou-se em estudar sempre o inimigo. A lacuna<br />
notada, no que diz respeito ao periodo 1962-1975, reproduz-se<br />
no periodo ap6s 1975. Os autores falam dos bandidos armados,<br />
mas ndo fazem um esforgo para os analisar. E interessante<br />
notar que antes da vit6ria de 19?5, o Presidente Samora<br />
jd chamava a atengSo para os perigos que podiam resultar<br />
da falta de estudo do inimigo. Numa critica dirigida aos<br />
quadros que se deixam influenciar pelo espfrito de vitoria,<br />
disse que eles:<br />
"deixam de estudar o inimigo, considerartdo que ja<br />
o conlrecem suficientemente, e a prova 6 que ai<br />
estdo as vit5rias. Mas as manobras do inimigo evoluem<br />
continuamente, o seu espirito criminoso e desesperado<br />
cresce com cada derrota. Nao estudar constantemente<br />
o inimigo, desprezri-lo tacticamente, leva-nos A
']B ESTUDOS MOQAMBICANOS<br />
rotina, e por isso a sermos surpreendidos pelas novas<br />
manobras do inimigo, pelos seus novos crimes. Assim,<br />
em vez de mantermos a ofensiva, em vez de destruirmos<br />
a cobra quando estd no ovo, caimos na defensiva,<br />
descobrimos a cobra quando jA adulta, Ievanta a<br />
sua cabega verrenosa para nos liquidar".<br />
Quando o nome de bandidos armados foi oficializado,<br />
a Frelimo ndo tinha deixado de se bater para definir rigorosamente<br />
o que separava os seus objectivos dos dos colonialistas,<br />
o que separava a sua concepgSo duma sociedade justa<br />
e igualitdria da do regime colonial fascista. Um primeiro<br />
passo, necessdrio, foi reagir contra a respeitabilidade polftica<br />
e ideol6gica que os bandidos armados tentaram criar em<br />
volta de si, chamando-se RENAMO (Resist6ncia Nacional<br />
Mogambicana) e antes disso Africa Livre.<br />
Mas ao mesmo tempo houve uma subestimagao dos<br />
desgastes e das aliangas que os bandidos armados podiam<br />
conseguir. E possivel ver na polftica de destruigao uma<br />
pr6tica tfpica do fascismo mais reaccion6rio. Como dizem<br />
os camponeses, os bandidos armados s5o ef ectivamente<br />
hienas, mas mesmo que tenham comportamento de animais,<br />
os bandidos armados sao homens que foram utilizados nao<br />
para criar um movimento polftico, mas para destruir, com<br />
o objectivo de desmoralizar. O banditismo armado foi especificamente<br />
utilizado da mesma maneira que a PIDE e os<br />
sul-africanos utilizaram e utilizam a tortura e a repressdo<br />
violenta: para quebrar o oponente. E depois proclamar<br />
que a queda da vitima 6 mais uma prova da incapacidade<br />
inerente aos pretos de dirigir um Estado, e do socialismo<br />
ser incapaz de desenvolver uma economia funcional.<br />
A polftica de destruigao s6 por destruir n6o 6 tao<br />
il6gica como podia parecer ,i primeira vista: algumas das<br />
mais potentes multinacionais surgiram e fortaleceram-se<br />
por via da Segunda Guerua Mundial e das guerras da Coreia<br />
e do Vietname.<br />
Pode ser coruecto dizer que os bandidos armados nao<br />
t6m base social, mas pode-se tamb6m ver nos bandidos a<br />
estreitfssinra base social dos financiadores fascistas guiados<br />
s6 pelo desejo de recriar as condig6es que perderam em 1975.
I Z/i CAO DA FRE L I I'4O q 9<br />
Pode parecer contradit6rio considerar utll grupo a-social<br />
como uma base social, mas esta contradigao desaparece<br />
se tomarmos em conta o facto de que os regimes de extrema<br />
direita caracterizam-se pela estreiteza das suas bases<br />
sociais e pelo recurso d viol6rrcia para assentar e manter o<br />
seu poder.<br />
Pode-se duvidar do interesse dos bandidos armados<br />
em criar uma oposigao, mas o que 6 indubit6vel 6 o seu<br />
5Oio ao comunismo e qualquer coisa que de perto ou de<br />
longe se assemelhe. Mesmo que ndo sejam representativos,<br />
quer a nfvel nacional quer a nivel internacional, ndo seria<br />
a primeira vez na hist5ria dum pais do terceiro mundo<br />
que as pot6ncias imperialistas se organizariam para montar<br />
do nada um "governo de reconstrugao nacional", enfeudado<br />
aos seus interessesl como se fez em Granada para citar<br />
um dos casos mais recentes.<br />
Os bandidos armados t6m raizes que vao at6 d f undagSo<br />
da Frelimo. Naquelas alturas e sobretudo depois do II Congresso<br />
em 1968, os bandidos armados f oram ideol6gica<br />
e politicamente identificados como reacciondrios e aliados<br />
directos dos colonialistas portugueses. Falar de bandidos<br />
sociais consiste um nao-sentido: qualquer que seja a sociedade<br />
onde se encontra um bandido 6 por definigao a-social. Falar<br />
de bandidos sociais (portanto bons) 6 a mesma coisa que falar<br />
de bons nazis.<br />
CONCLUSAO<br />
O que tentamos ntostrar 6 que na pr6pria hist6ria<br />
da Frelimo, nas suas pr6prias fontes, existelr bases para<br />
produzir unra hist6ria problentatizada, uma hist6ria que<br />
sirva de reflexSo e de estudo sobre a situagSo itctuetl. Os<br />
textos da Frelinto podern guiar a construgao duma hist6ria<br />
mobilizadora, mas n6o a cont6m. Para utiliztrr estes textos<br />
6 preciso, como disse o Presidente Samora, abandonar o<br />
espfrito de vit5ria porque:
s 0 ESTUOOS I'IOQAMB r CANOS<br />
O espfrito de vit6ria 6 unra rnanifestagao de oportunismo<br />
de esquerda: leva-rros a desprezar tacticarnente o<br />
irrirrrigo, conduz-nos ao aventureirismo. Cedo ou tarde<br />
o espfrito de vit6ria far-nos-d pagar em sacriffcios,<br />
far-nos-d pagar caro, em baixas pesadas e in[teis,<br />
os erros que conreternos.<br />
O espfrito de vit5ria 6 irm6o g6meo do espfrito de<br />
derrota, o oportunismo de esquerda 6 a outra face do<br />
oportunismo de direita.<br />
Quando em consequ6ncia dos erros cometidos pelo<br />
espirito de vit6ria, se sofrenr reveses, os aventureiros<br />
caem entAo no espirito de derrota, ternenr o inimigo<br />
do ponto de vista estrat6gico, cornegam a s6 analisar<br />
fracassos, deixam de ver os progressos da luta. Corno<br />
tinharn o espfrito de vit5ria rSpida, a guerra torna-se<br />
"intermindvel" nas suas cabegas. As vit6rias alcangadas<br />
sao para eles casuais e isoladas.<br />
Corn este espirito, passam a realizar as suas tarefas<br />
com um desinteresse evidente, abandonam totalmente<br />
a vis6o de conjunto, s6 v6ern erros nos trabalhos efectuados<br />
pelos outros camaradas, rnas recusanr-se a<br />
apontar e discutir os erros, a propor solugdes justas.<br />
Preferenl o nlurrnfiriod crftica eautocrftica, aintriga<br />
A discussSo aberta. Criam os seus grupinhos, os seus<br />
aliados...<br />
Os corpos continuarn na nossa zona, mas os espfritos<br />
j6 se instalaram na outra zona, sonhando com o conf orto<br />
e corrupgao vistos como coisas maravilliosas (21).
t{0TAs<br />
OA IDEALIZAQAO OA FRELIMO 5I<br />
(1) Joseph Hanoln, <strong>Mozambique</strong>: Revolution Under Fire, Zed Books,<br />
London, 1984, 29? p. John Saul, (editor), A Difficult Road:<br />
The_Transition to Socialism in <strong>Mozambique</strong>, Monthly Review<br />
Press, New York, 1985, 420 p.<br />
(2) Este 6 o caso de vdrios livros ou artigos quer de esquerda,<br />
quer de direita, como por exemplo Barry Munslow, "State<br />
Intervention in Agriculture: The Mozambican Experience",<br />
Journal of Modern African Studies, 22, 2 (1984), pp. t99-22L;<br />
Horace Campbell, "l,lar, Reconstruction and Dependence in<br />
MozambiQU€", .lournal of African. Marxists, 6, 0ctober 1984,<br />
pp. 47-73; Michel Cahen, "Etat et pouvoir populaire dans<br />
le <strong>Mozambique</strong> independant", Poli.tjque Africaine, 19, September<br />
1985, pp. 36-60; Greenwood Press, 1983, 289 p.<br />
(3) 0 livro de Henricksen 6 tfpico desta 0ltima problemdtica<br />
apresentando a Frelimo como uma organizag6o militar, significandor<br />
pdfd ele, uma organizaqdo ipso facto repressiva,<br />
e portanto ndo podendo desenvolver uma sociedade democrdtica.<br />
Henri cksen , como tantos outros observadores ameri canos e<br />
europeus r QU€ se levantam contra os regimes mi I itares do<br />
terceiro mundo, pretendem esquecer que o apelo I luta armada<br />
foj resultado da "pacificag6o", leia terrorismo, operado<br />
nestes mesmos territ6rios pelo poder co'lonial-imperialista.<br />
Sobre a questdo da te'leologia na histdria, tem havido muitos<br />
trabalhos. 0 mais destacado, porque coloca-se numa perspectiva<br />
revoluciondria, d o livro de Pierre Raymond, La Resistible<br />
fatalit6 de I'histoire.<br />
(4) Entrevista com Pietro Petrucci, Afrique-Asie, n. 109, 17-30<br />
Ma'i 1976. Esta citag6o ndo aparece na entrevista, mas foi<br />
gravada.<br />
(5) Basil Dav'idson, The People's Cause, Longman, 1981, pp. I27-8.<br />
(6) John Saul. 0p. Crt.. p 88
52 ESTUDOS MOQAMBiCANOS<br />
(7) ibjd., p. 9.<br />
(B) Ibjd., pp. l3-15.<br />
(9) iuio., pp. 24-29.<br />
(10) J. Hanlon,0p. Cit., p.28.<br />
( 11) Ibig. , cdpf tulo 18.<br />
(12) Samora Machel , "Estabelecer o Poder , Popular", na edi96o<br />
'Nacional<br />
A Nossa Luta, 2a edigdo, Imprensa<br />
de Mogambique,<br />
1975, p.130.<br />
(13) John Saul, 0p. Cjt:, p. 101.<br />
( 14)<br />
(ts1<br />
Joseph Hanlon,'0p. Cit., p. ?65.<br />
Samora Machel , 0p. Cit._, p. 131.<br />
( r6) Ibid., p. 119<br />
( 17<br />
)<br />
Notfcias, 6 de Julho de 1981.<br />
(ta1Depois<br />
da 0ltima ofensiva do Presidente, por volta de 25<br />
de Setembro de 1985, a opini6o dominante, das pessoas entrevistadas<br />
pela Televisdo Experimental, era de que a ideia<br />
da ofensiva era boa, mas ndo se compreendia por que devia<br />
ser feita pelo prdprio Presidente.<br />
(19) .lohn Saul<br />
, 0p. Cit., pp. 137-147.<br />
(20) Samora Machel, "Estabelecer o Poder Popular", 0p. Cit.,<br />
p. 131.<br />
(21) Ibid. , p. 132. Depois de ler j sto a1gu6m podia a'legar de<br />
que estamos a encorajar o espfrito de derrotismo. A tlnjca<br />
co'isa que se quer encorajar d uma abordagem da histdria<br />
em que nada estd fatalmente decidido.