10.05.2013 Views

Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Trabalho Doméstico:<br />

Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />

trabalhos domésticos entre outras activida<strong>de</strong>s; ela <strong>de</strong>ve, doravante, <strong>de</strong>dicar-se a eles <strong>de</strong><br />

corpo e alma, como se <strong>de</strong> um sacerdócio se tratasse.” (I<strong>de</strong>m: 204). Havia <strong>de</strong> facto, no<br />

contexto do século XIX, uma clara distinção entre trabalho e família. Constatamos que havia<br />

sido <strong>de</strong>finida uma “doutrina das «esferas separadas»” (I<strong>de</strong>m; ibi<strong>de</strong>m), esclarecendo-nos<br />

Lipovetsky que “trabalho e família encontram-se radicalmente divididos – o hom<strong>em</strong> fica<br />

<strong>de</strong>stinado à esfera profissional e a mulher ao «home, sweet home».” (I<strong>de</strong>m: ibi<strong>de</strong>m).<br />

Inicialmente, este mo<strong>de</strong>lo era adoptado sobretudo pela classe burguesa, mas é facto que,<br />

rapidamente esta situação se inverteu e passou a ser um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> referência para todas as<br />

classes sociais, sendo os próprios operários a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que as mulheres não estavam b<strong>em</strong> na<br />

oficina, n<strong>em</strong> na fábrica, pois o seu lugar era <strong>em</strong> casa, junto da família.<br />

Em finais do século XIX e inícios do século XX, a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> dona-<strong>de</strong>-casa, pouco<br />

ou nada se alterou, todas as características e tarefas atribuídas à mulher mantinham-se<br />

idênticas e é, sobretudo, nesta fase que se reforça a importância do espírito <strong>de</strong> sacrifício e <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>penho total por parte da mulher, para com a sua família e os seus filhos – a mulher é<br />

consagrada como o “anjo do lar” (I<strong>de</strong>m: 205). Segundo palavras do autor, “não existindo<br />

por si mesma, a esposa-mãe-dona-<strong>de</strong>-casa não é consi<strong>de</strong>rada como um indivíduo abstracto,<br />

autónomo, pertencendo a si mesmo” (I<strong>de</strong>m: ibi<strong>de</strong>m). Assim, percebe-se como a mulher é<br />

<strong>de</strong>svalorizada enquanto indivíduo, sendo encarada como um ser dotado essencialmente para<br />

cuidar e ajudar os outros. Por outras palavras, o hom<strong>em</strong> é entendido como um “indivíduo<br />

livre, s<strong>em</strong> amarras, senhor <strong>de</strong> si mesmo” (Lipovetsky, 1997: 205), enquanto a mulher<br />

“continua a ser pensada como um ser naturalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, vivendo para os outros,<br />

encastrada na or<strong>de</strong>m familiar.” (I<strong>de</strong>m: ibi<strong>de</strong>m). Desta feita, a mulher é colocada à marg<strong>em</strong><br />

da socieda<strong>de</strong>, isto é, fica completamente privada dos seus direitos políticos, b<strong>em</strong> como do<br />

direito à in<strong>de</strong>pendência económica e intelectual. Era impensável, nesta época, o<br />

reconhecimento da mulher enquanto indivíduo autónomo, pois daí <strong>de</strong>rivaria a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />

familiar e conflitos entre os sexos. De modo a evitar tais consequências, optava-se por tratar a<br />

mulher como um mero ser, capaz <strong>de</strong> viver <strong>em</strong> prol dos que a ro<strong>de</strong>iam. Segundo Lipovetsky<br />

(1997), esta diferenciação entre homens e mulheres, encontrava-se marcada pela<br />

“<strong>de</strong>squalificação do trabalho f<strong>em</strong>inino no exterior e da instrução das raparigas, exclusão da<br />

esfera política, submissão da mulher ao marido, incapacida<strong>de</strong> da mulher e da mãe.” (I<strong>de</strong>m:<br />

206). Para completar, dizer somente que estas são características específicas da socieda<strong>de</strong><br />

individualista <strong>de</strong>mocrática.<br />

37

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!