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Dissertação de Mestrado em Serviço Social.pdf - Instituto Superior ...

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Trabalho Doméstico:<br />

Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas”<br />

as faz por si. Compreen<strong>de</strong>-se, neste contexto que, por mais cansativo ou trabalhoso que tenha<br />

sido o dia para a mulher, quando chegar a casa encontra ao seu dispor um série <strong>de</strong> tarefas<br />

domésticas que precisam ser realizadas, tal como evi<strong>de</strong>ncia Ana Nunes <strong>de</strong> Almeida,<br />

“in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do tipo <strong>de</strong> horário <strong>de</strong> trabalho que possa exercer no exterior, cabe<br />

exclusivamente à mulher ser «dona <strong>de</strong> casa». O trabalho doméstico gira <strong>em</strong> volta da<br />

chamada «lida da casa» - arrumar, limpar, lavar, passar a ferro, r<strong>em</strong>endar; mas também, e<br />

sobretudo, implica a compra, preparação e conservação da comida – que às vezes se limita<br />

ao «fazer uma panelinha <strong>de</strong> sopa» (1985: 37). É claro que, com a entrada <strong>de</strong>stas mulheres no<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho, as mesmas vão estar sujeitas a uma maior acumulação <strong>de</strong> tarefas e <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong>s diárias. Ora, durante o século XVIII (Revolução Industrial), a mulher que<br />

trabalhava fora <strong>de</strong> casa tinha <strong>de</strong> se organizar <strong>de</strong> modo a conseguir dar resposta ao trabalho<br />

que lhe era exigido diariamente; mas o facto <strong>de</strong> trabalhar fora <strong>de</strong> casa jamais po<strong>de</strong>ria constitui<br />

motivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sleixo na execução das tarefas domésticas, n<strong>em</strong> na gestão da casa, e, menos<br />

ainda, no cuidado e responsabilida<strong>de</strong> com os filhos. Esta condição r<strong>em</strong>ete-nos, <strong>de</strong> imediato,<br />

para a reflexão acerca das inúmeras tarefas com que diariamente a mulher se confrontava, e<br />

ainda hoje se confronta, no seu quotidiano. Ou seja, à mulher não cabia apenas sair <strong>de</strong> casa<br />

para trabalhar, era necessário que, antes <strong>de</strong> ir trabalhar a mulher, tivesse já cozinhado o<br />

almoço, que <strong>de</strong>ixasse a casa organizada e arrumada <strong>de</strong>ntro do possível, e mais, era a mesma<br />

mulher qu<strong>em</strong> tinha <strong>de</strong> levar consigo os filhos mais pequenos, aquando da não existência <strong>de</strong><br />

irmãos mais velhos para cuidar <strong>de</strong>les. Falamos, assim, na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão, organização e<br />

planificação <strong>de</strong> todas as rotinas e “li<strong>de</strong>s” da casa. Cabe, exclusivamente à mulher, ter um bom<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho laboral fora <strong>de</strong> casa, confeccionar todos os dias a comida (planificar pratos<br />

variados), manter a roupa s<strong>em</strong>pre lavada e engomada (a sua, do seu marido e dos seus filhos),<br />

a casa s<strong>em</strong>pre limpa e arrumada. Como é sabido, o t<strong>em</strong>po não é elástico, pelo que, para estas<br />

mulheres, conseguir conciliar todas estas tarefas não era nada fácil, verificando-se que “essas<br />

activida<strong>de</strong>s (acumuladas a um trabalho assalariado) são forçosamente r<strong>em</strong>etidas para os<br />

«momentos livres»: as noites, as madrugadas, os dias <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso.” (Almeida, 1985: 37).<br />

Deste modo, fica claro que os dias ou t<strong>em</strong>pos livres que estas mulheres <strong>de</strong>veriam usufruir<br />

para <strong>de</strong>scansar serv<strong>em</strong>, precisamente, para adiantar ou terminar tarefas domésticas que têm,<br />

inevitavelmente, <strong>de</strong> ser executadas. Po<strong>de</strong>mos, então, questionar-nos: quando <strong>de</strong>scansavam<br />

estas mulheres? Teriam estas mulheres t<strong>em</strong>po sequer para dormir? On<strong>de</strong> encontram forças,<br />

para conseguiam ir trabalhar no dia seguinte?<br />

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