APÊNDICES: Trabalho Doméstico: Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas” APÊNDICE A: Revisão da Literatura e Fundamentação Teórico-Conceptual 11 11 Teixeira, Diva, (2012). Projeto <strong>de</strong> Investigação <strong>Social</strong>, 6-18. 29
3.1. Industrialização: a família operária e a dupla tarefa Trabalho Doméstico: Narrativas ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> mulheres “Domésticas” Muitos são os estudos que associam o surgimento da figura da “doméstica” ao período da Revolução Industrial. (Oakley, 1974; Blun<strong>de</strong>n, 1982; Michel, 1978). No caso concreto <strong>de</strong> Portugal, para esta época, é <strong>de</strong> assinalar a forte migração registada do campo para a cida<strong>de</strong>. Foram muitas as famílias que, na busca incessante <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida, se <strong>de</strong>slocaram para a cida<strong>de</strong> com o objectivo principal <strong>de</strong> trabalhar. Tendo esta migração provocado algumas alterações, salientam-se duas: na configuração familiar e na ocupação do espaço doméstico. Relativamente ao próprio conceito <strong>de</strong> família, concluiu-se, entre outras coisas, que as famílias, ao chegar à cida<strong>de</strong> se isolavam da re<strong>de</strong> alargada <strong>de</strong> familiares e vizinhos que, até então, dispunham <strong>de</strong>vido, sobretudo, à <strong>de</strong>corrente distância geográfica. As alterações sentidas durante esta mesma migração foram também notórias <strong>de</strong>ntro das casas uma vez que a mulher, ao chegar à cida<strong>de</strong>, ficava <strong>em</strong> casa, tendo a seu cargo as tarefas domésticas, enquanto o seu marido passava o dia fora a trabalhar. Neste sentido, como afirma Ana Nunes <strong>de</strong> Almeida “as próprias funções dos cônjuges sofr<strong>em</strong> uma especialização <strong>de</strong> tipo idêntico à que atingiu outras instituições sociais: o marido assume no exterior o papel instrumental <strong>de</strong> ganha-pão; a mulher completa-o no interior da família, <strong>em</strong>penhando-se na conservação do equilíbrio afectivo do lar.” (1985: 7). Face ao objectivo fundamental <strong>de</strong>stas famílias – a melhoria <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> vida –, e tendo <strong>em</strong> conta a precarieda<strong>de</strong> com que se confrontavam no campo, <strong>de</strong>pressa esta situação se modificou. Sabe-se que, não sendo o rendimento do marido suficiente para fazer face às necessida<strong>de</strong>s da família, a mulher teve <strong>de</strong> juntar-se a ele, passando ambos a trabalhar fora <strong>de</strong> casa. Como nos refere Ana Nunes <strong>de</strong> Almeida (1985), era diversificado o leque <strong>de</strong> ofertas para as mulheres: muitas trabalhavam como operárias fabris nas mesmas fábricas on<strong>de</strong> trabalhavam os seus maridos; outras trabalhavam na construção civil como serventes, cozinheiras, ou mulheres <strong>de</strong> limpeza <strong>de</strong> prédios já construídos; e outras, ainda trabalhavam como mulheres a dias nas casas da pequena e média burguesia, ou <strong>de</strong>dicavam-se à venda ambulante, o que lhes permitia ter os filhos pequenos por perto. Confrontamo-nos, então, com uma situação muito pertinente: com a Revolução Industrial, a mulher passa a assumir uma dupla tarefa. Quer-se dizer que, para fazer face às necessida<strong>de</strong>s familiares passa a trabalhar fora <strong>de</strong> casa como o seu marido mas, quando chega a casa, ainda t<strong>em</strong> a seu cargo um conjunto <strong>de</strong> tarefas domésticas que, se as não fizer, ninguém 30